quinta-feira, 26 de março de 2015

BC prevê estouro da meta de inflação em 2015 e possível recessão


No relatório de inflação, BC subiu previsão para IPCA de 2015 para 7,9%.
Também divulgou estimativa de retração de 0,5% para o PIB deste ano.

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília

O Banco Central admitiu nesta quinta-feira (26), pela primeira vez, que a inflação deve estourar a meta este ano, e que a economia brasileira deve ter retração. Em seu relatório de inflação do primeiro trimestre, o BC mostra que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar em quase 8%. Já o Produto Interno Bruto (PIB) deve encolher 0,5%.
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PROJEÇÕES PARA O PIB 2015
Estimativas do BC, em %
-2,310,10,20,3-62,4-3-0,5IndústriaAgropecuáriaServiçosConsumo das famíliasGastos do governoInvestimentosExportaçõesImporaçõesPIb0-7,5-5-2,52,55
Fonte: BC


Em 2014, a estimativa do BC é que o PIB tenha recuado 0,1%. Em dezembro, a instituição estimava uma alta de 0,2% para o PIB do ano passado. O dado oficial será divulgado nesta sexta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com isso, não pode ser descartada uma possível recessão técnica na economia brasileira – que se caracteriza por dois trimestres seguidos de recuo do nível da atividade econômica.
Segundo a autoridade monetária, a evolução da demanda doméstica sofre os efeitos de "níveis reduzidos dos indicadores de confiança; pela interrupção dos ciclos de expansão robusta do emprego, dos rendimentos e do crédito; e pelos efeitos defasados de políticas monetária e fiscal mais restritivas [alta de juros, de tributos e cortes de gastos]".
O BC avaliou ainda que os ajustes da política econômica que estão sendo feitos pelo governo, ainda que se "traduzam em vetores contracionistas no curto prazo", impactando para baixo o nível de atividade neste ano, "constituem-se elementos essenciais para preservação do ambiente macroeconômico favorável, recuperação da confiança dos agentes e retomada do crescimento sustentável da atividade no médio prazo".
Comparativos
A previsão do Banco Central para o PIB de 2015, apesar de negativa, ainda está melhor do que a dos economistas do mercado financeiro, cuja expectativa é de uma contração de 0,83% no PIB.Se confirmado, será o maior recuo desde 1990 – ou seja, em 25 anos, quando a economia teve contração de 4,39%.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, e serve para medir a evolução da economia. Em 2013, a economia cresceu 2,5%.
Inflação em 2015
A previsão do Banco Central para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano subiu de cerca de 6%, em dezembro do ano passado, para cerca de 8% no relatório de inflação divulgado nesta quinta-feira. A estimativa do BC, porém, está um pouco abaixo dos 8,12% previstos pelo mercado financeiro para 2015.
No cenário de referência, cuja previsão era de 6,1% em dezembro, a estimativa avançou para 7,9%. No cenário de mercado (que considera as previsões dos analistas dos bancos para câmbio e juros nos próximos meses), a estimativa do BC, que estava em 6% em dezembro, passou também para 7,9% agora neste mês.
Segundo o Banco Central, a probabilidade de a inflação ficar acima do teto do sistema de metas, em 2015, é de cerca de 90% tanto no cenário de referência quanto no de mercado.
Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a inflação oficial do país, medida pelo IPCA-15, ficou em 1,24% em março. No acumulado de 12 meses, o índice foi para 7,9%, o maior desde maio de 2005 (8,19%). Em março de 2014, o IPCA-15 havia sido 0,73%. No ano, a taxa é de 3,5%.
Segundo analistas, a alta do dólar e dos preços administrados (como telefonia, água, energia, combustíveis e tarifas de ônibus, entre outros) pressionam fortemente os preços em 2015. Além disso, a inflação de serviços, impulsionada pelos ganhos reais de salários, segue elevada.
Ano de 2016
O Banco Central informou ainda, no relatório de inflação divulgado hoje, que sua estimativa de inflação para o ano de 2016 fechado ficou praticamente estável. No cenário de referência - que considera câmbio e juros estáveis - a previsão recuou de 5%, em dezembro, para 4,9% e, no cenário de mercado, subiu de 4,9%, no fim do ano passado, para 5,1%.
Em 2016, ainda de acordo com a autoridade monetária, a probabilidade de estouro do teto de 6,5% do sistema de metas de inflação meta é de 12% a 15%.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, reiterou nesta semana, durante audiência pública no Congresso Nacional, que o objetivo da instituição é trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% no ano de 2016. Segundo ele, a meta é "factível" pois os reajustes de admistrados (gasolina e energia, por exemplo) se concentram neste ano.
O principal instrumento do Banco Central para conter as pressões inflacionárias é a taxa básica de juros da economia, que avançou de 11% ao ano, em outubro do ano passado, para 12,75% ao ano em março – o maior patamar em seis anos. A expectativa do mercado financeiro é de, pelo menos, mais uma alta em 2015, para 13% ao ano.
Com uma taxa mais alta de juros, o Banco Central tenta controlar o crédito e o consumo, atuando assim para segurar a inflação. Por outro lado, ao tornar o crédito e o investimento mais caros, os juros elevados prejudicam o crescimento da economia.
Tombini avaliou ainda nesta semana, no Congresso Nacional, que o repasse da alta do dólar, que vem ocorrendo em 2015, para os preços domésticos, pode ser "mitigado" pela queda dos preços das "commodities" (minério de ferro e petróleo, por exemplo), além da desaceleração da atividade econômica no país, entre outros fatores.
Sistema de metas brasileiro
Pelo sistema que vigora no Brasil, a meta central tanto para 2014 como para 2015 e 2016 é de 4,5%. Entretanto, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5%, sem que a meta seja formalmente descumprida.
Quando a inflação fica mais alta do que o teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro, o presidente do Banco Central precisa escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando as razões que motivaram o "estouro" da meta formal. A última vez em que isso aconteceu foi em 2003, ou seja, há mais de dez anos, e o documento foi assinado pelo então presidente da autoridade monetária, Henrique Meirelles.

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