segunda-feira, 30 de março de 2015

Deputado denuncia manobra para manter “CPI da Energisa” sob controle


Presidente e relator já teriam sido escolhidos antes da indicação dos nomes
Muita gente admirou quando a Assembleia Legislativa anunciou que abriria uma CPI para investigar a Enersul. O espanto foi maior pela denúncia de que várias pessoas estariam envolvidas em um mensalão da concessionária.  A idoneidade dos deputados, dispostos a investigar, provocou até comparações com a Câmara de Campo Grande, onde três CPIs estão paradas por falta de coragem dos vereadores de assinarem requerimentos para investigação mais aprofundada. Porém, bastou alguns dias para a imagem dos deputados ser abalada.
Uma manobra começou a dar ingredientes de pizza à CPI da Enersul, mesmo antes de ela começar. Um grupo de deputados, com exceção do PT e dos deputados Flávio Kayatt (PSDB) e Ângelo Guerreiro (PSDB), reuniu-se na casa do deputado Maurício Picarelli (PMDB) com o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) para discutir, entre outras coisas, a CPI, e chegaram a cogitar até a possibilidade de desistir.
O grupo só não desistiu da CPI porque alguns foram contra, avisando que seria constrangedor retirar as assinaturas. Sem condições de barrar a CPI no nascimento, os deputados decidiram controlar quem estará à frente das investigações, escolhendo até os integrantes.
A discussão aconteceu depois que o deputado Marquinhos Trad (PMDB) saiu da reunião, já que ele era um dos alvos. Dispostos a evitar exposição muito grande da CPI, os deputados resolveram fechar um acordo para indicação dos nomes e já teria até escolhido o presidente e relator, que seriam Paulo Corrêa (PR) e o vice-líder do governo, Beto Pereira (PDT).
“Deputados me contaram que houve uma nítida demonstração de me isolar no plenário e me afastar definitivamente da presidência e relatoria do caso da CPI, pois eu ia afundo demais e isso poderia prejudicar a Energisa”, revelou Marquinhos Trad.
O governador Reinaldo Azambuja e o presidente da Assembleia Legislativa, Junior Mochi (PMDB), ainda confidenciaram que foram procurados pelo grupo Energisa, que pediu cautela diante da possibilidade de fazer investimentos em Mato Grosso do Sul, o que poderia ser inviabilizado com a criação da CPI.
Procurado pela equipe de reportagem, o deputado Beto Pereira negou que tenha acertado participação na CPI. Ele disse apenas que já pediu para Paulo Corrêa, o líder do bloco dos partidos menores, para ser um dos indicados e que a probabilidade disso acontecer é grande. “Lógico que se eu for indicado vou lutar para ser presidente ou relator”, declarou.
Esta cautela foi solicitada pelo governador, segundo o próprio líder do PMDB, Eduardo Rocha. “Ele falou que é uma prestadora de serviços do Estado e disse: olha, tomem cuidado. Conversem com o pessoal. Não vão fazer guerra. Ele está preocupado com os investimentos futuros da empresa no Estado... Ele disse que se tem coisa errada, não tem problema nenhum investigar. Mas, pediu para não extrapolar porque é uma empresa que está chegando agora e com investimentos para o Estado”, justificou.
Os membros da CPI devem ser indicados nesta semana. Marquinhos estará, obrigatoriamente, na CPI porque é autor do pedido. Pelo PT deve completar a lista de indicados o deputado Pedro Kemp, visto que Amarildo Cruz (PT) já presidiu a CPI da Saúde.
O caso
Dos 24 parlamentares, 20 foram favoráveis a criação da CPI para investigar denúncias de irregularidades na Enersul. As supostas irregularidades foram apontadas por uma auditoria que revelou, entre outros pontos, 35 nomes que aparecem numa “lista confidencial”, como supostos beneficiários de um esquema de desvio de verbas - será investigado, ainda, se houve participação de políticos nas irregularidades.
A investigação foi feita pela PWC (Pricewaterhouse Coopers), a pedido da Comissão de Valores Mobiliários, após requerimento de Marquinhos e o então deputado federal Fábio Trad, irmão dele. Também será alvo de investigação supostas gratificações milionárias pagas a ex-diretores de 2010 para cá. Os valores das gratificações chegam a R$ 2 milhões, segundo Marquinhos Trad.
Ainda segundo o parlamentar, a Energisa, empresa que comprou a Enersul em 2013 e assumiu ano passado, sabia do suposto esquema. O grupo teria conhecimento e mesmo assim dado continuidade às irregularidades. A empresa, no entanto, em nota oficial, nega qualquer envolvimento com o suposto esquema e afirma que os dados dizem respeito ao período anterior à sua gestão em Mato Grosso do Sul.

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