quinta-feira, 23 de abril de 2015

Como se sairia a Amazônia se cada estado fosse um país?

Indicadores que compõem o Índice de Progresso Social foram desmembrados para oferecer um panorama do desenvolvimento e da qualidade de vida na região amazônica

THAÍS HERRERO
Vista das grandes extensões da Amazônia (Foto: AFP PHOTO / JODY AMIET)



 



 




A Amazônia é uma região peculiar. Tem dimensões imensas (com três dos maiores estados e dez dos maiores municípios do Brasil) e uma economia regida por atividades agrícolas e florestais. Abriga centenas de povos indígenas e comunidades ribeirinhas que mantêm viva a cultura local, distantes dos centros urbanos e do acesso a estruturas como hospitais, escolas e saneamento básico.
Imagine agora se cada um dos nove estados que compõem a Amazônia Legal fosse um país. Como estariam seus índices de desenvolvimento e a qualidade de vida de seus habitantes? A pedido de ÉPOCA, pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, liderados pelo economista Michael Porter usaram alguns indicadores para oferecer pistas. Os dados foram retirados do Índice de Progresso Social (ISP), uma espécie de IDH que mede o desenvolvimento humano sem incluir variáveis econômicas. Com ele, podemos avaliar como os países transformam o sucesso econômico em progresso social.

Desde 2013, o IPS é aplicado para ranquear 161 nações. Em agosto de 2014, ospesquisadores de Harvard publicaram uma versão especial para avaliar todos os municípios da Amazônia brasileira. O relatório apresentou um retrato negativo da região, que se saiu pior em quase todos os índices quando comparada ao resto do Brasil. Também mostrou os municípios que fazem mais com o dinheiro disponível.

ranking com os estados da Amazônia foi feito com os dados desse levantamento de 2014. Já a colocação dos países que realmente existem no planeta vem da atualização mais recente do IPS, publicada no começo de 2015. Não foi possível comparar o IPS geral da Amazônia com o dos outros países por questões metodológicas. De acordo com Jaime Garcia, responsável pela linha metodológica do IPS, os modelos e as fontes são diferentes e só seria possível confronta-los a partir de indicadores específicos, como os seis que listamos no gráfico abaixo. São eles: acesso a saneamento básico, acesso a água encanada, taxa de alfabetização de adultos, mortalidade infantil, expectativa de vida e mortalidade materna.
O cenário encontrado mais uma vez não foi muito positivo para a Amazônia. Se fossem nações, seus estados estariam em colocações baixas. O indicador com pior resultado para a região foi o acesso a saneamento básico. Rondônia ficou no sexto pior lugar mundial, só ganhando de países como Níger, Chade e Tanzânia. Esse estado também teve o pior lugar entre os amazônicos no indicador de acesso a água encanada – nesse quesito, foi o Tocantins o estado que se saiu melhor, 35 posições à frente.
Se o Maranhão constituísse um país, teria taxas de alfabetização de adultos pior que Camarões e Sudão, ambos no continente africano. Já o Mato Grosso teria a melhor expectativa de vida entre os países amazônicos, e lá as pessoas viveriam mais do que no Irã e na Jordânia.

A reportagem que ÉPOCA publicou sobre o IPS dos municípios amazônicos em agosto já havia deixado clara a importância da medição para entender como transformar riqueza em qualidade de vida. Atividades econômicas como a pecuária, com mão de obra pouco qualificada, geram riqueza – registrada no PIB –, sem necessariamente melhorar o padrão social. Entender algumas características de cada estado nos faz perceber nuances ainda maiores sobre as demandas e necessidades da região.
Garcia afirma que o estudo IPS da Amazônia oferece detalhes interessantes sobre ascondições de vida na região. “Funciona melhor para entender o progresso social de uma região porque dentro dos países pode haver níveis elevados de diferenças e desigualdade – como os que encontramos no Brasil e, especificamente, na Amazônia”, diz

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