quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Delcídio teria escolhido até modelo de avião para fuga de Cerveró

Senador também teria oferecido mesada de R$ 50 mil para a família do ex-presidente da Petrobras

Durante o planejamento de uma rota de fuga para o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, condenado a cinco de prisão, o senador Delcídio do Amaral (PT) teria avaliado até mesmo o modelo do avião que poderia levar o prisioneiro até a Espanha.

Preocupado com possível escala na Venezuela para recarregar o tanque de combustível, ele sugere o uso de um modelo Falcon 50, que completaria a viagem, a partir do Brasil ou do Paraguai, sem paradas.

As informações estão disponíveis em relatório do MPF (Ministério Público Federal), que recebe a assinatura do Procurador-Geral da Justiça, Rodrigo Janot Monteiro de Barros. A conversa foi gravada pelo filho de Cerveró, Bernardo, em uma reunião que aconteceu em hotel de Brasília/DF, em 4 de novembro, com a presença do chefe de gabinete do petista, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ferreira que, segundo as investigações, foi contratado para defender o ex-diretor da Petrobras, mas atendia aos interesses de Delcídio. Veja trecho da conversa:

EDSON: Não sei o custo disso, vou apurar tudo isso eu tenho amigos que tem empresa de taxi aéreo, de aviação, entendeu, ver com eles qual o custo disto, a gente bota no avião e vai embora.
DIOGO: Mas estes de pequeno porte eles cruzam?
EDSON: vai até... Hã... DIOGO: Estes de pequeno porte eles cruzam?
BERNARDO: Deve parar na Madeira, alguma coisa assim
EDSON: Depende, se você pegar um...
DELCÍDIO: Não, depende do avião.
EDSON: Citation
DELCÍDIO: Não, não Citation tem que parar no meio..., tem que pegar um Falcon 50, alguma coisa assim...
DIOGO: Mas para na Venezuela...
DELCÍDIO: Aí vai direto, vai embora...
 EDSON: Se for direto ótimo.
DELCÍDIO: Desce na Espanha
DIOGO: Sai daqui já desce lá
DELCÍDIO: Falcon 50, o cara sai daqui e vai direto até lá.

Ouça o áudio clicando aqui.

Segundo o MPF, Delcídio tentava comprar o silêncio de Cerveró que aceitou o acordo de delação premiada em 18 de novembro de 2015. Ele iria usar sua influência política conversando com os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), para conseguir um pedido de habeas corpus e organizar a fuga.

Além disso, o senador também ofereceria suporte financeiro para a família do investigado, que contaria com o apoio de André Esteves, controlador do Banco BTG Pactual. “O Senador Delcídio Amaral ofereceu a Bernardo Cerveró auxílio financeiro, no importe mínimo de R$ 50 mil mensais, destinado à família de Nestor Cerveró, bem como prometeu intercessão política junto ao Poder Judiciário em favor de sua liberdade, para que ele não entabulasse acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal”, diz o relatório.

O advogado Edson Ribeiro também recebeu a promessa de pagamento dos honorários que tinha convencionado com Nestor, no valor de R$ 4 milhões. Já o chefe de gabinete, Diogo Ferreira, foi indiciado porque conhecia as tratativas ilícitas e demonstra, durante a reunião, que está disposto a acobertar possíveis crimes praticados por Delcídio.

“Em ao menos um segmento da conversa gravada, Diogo Ferreira revela alinhamento evidente com esse propósito: ele se levanta, examina um dispositivo eletrônico dependurado na mochila de Bernardo Cerveró e, ato contínuo, liga o televisor que havia na sala e aumenta o volume, passando a postar-se entre a mochila e o congressista. Ressalta-se que a conversa transcorreu em quarto de hotel ocupado por Bernardo Cerveró. É induvidoso que Diogo Ferreira agiu para tentar neutralizar a possibilidade de Bernardo Cerveró gravar a conversa”, aponta o Procurador-Geral.


Em seus depoimentos para a Operação Lava Jato, Nestor Cerveró revelou a prática de corrupção passiva durante a aquisição de sondas e da Refinaria de Pasadena, nos EUA, efetuadas pela Petrobras. Ele “descreve, ainda, a prática de crime de corrupção ativa por André Esteves, por meio do Banco BTG Pactual, consistente no pagamento de vantagem indevida ao Senador Fernando Collor, no âmbito de contrato de embandeiramento de 120 postos de combustíveis em São Paulo, que pertenciam conjuntamente ao Banco BTG Pactual e a grupo empresarial denominado Grupo Santiago”, completa o relatório.

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