sábado, 27 de fevereiro de 2016

Usuários ironizam 'desculpa' de consórcio para não usar ônibus articulados

Usuários reclamam de superlotação e questionam falta de manutenção

  • A inspetora de alunos Auxiliadora Pereira reclama da lotação(Foto: Marithê Lopes)
  • Usuários do transporte coletivo da Capital ironizaram na manhã deste sábado (27) o motivo apresentado pelo Consórcio Guaicurus para não liberarem os ônibus novos flagrados guardados nas garagens das empresas. Além de reclamarem da superlotação, os usuários questionam a falta de manutenção nos veículos e o preço alto da passagem. 

    A baixa demanda ‘fora do horário de pico’ foi um dos motivos apresentados pelo diretor do Consórcio Guaicurus, João Rezende Filho. Justificativa que segundo os trabalhadores e usuários dos ônibus não condiz com a realidade. “Os ônibus estão sempre lotados. Uso para trabalhar diariamente e é sempre assim,” diz a inspetora de alunos Auxiliadora Pereira.
    O mesmo diz a Consultora Zenaide Fonseca, 52, que ressalta as promessas de frotas novas e o prejuízo que já teve em um ônibus cheio. “Eles prometem ônibus novos, mas quando ele vêm não são colocados na rua. Enquanto isso a gente tem que andar esmagado. Já pegaram meu celular do meu bolso dentro do ônibus. A gente precisa ficar tão grudado que não tem como nem ver quem foi”, diz.
    A consultora destaca ainda o número de ônibus velhos rodando enquanto os novos ficam “escondidos”. “Eles deixam a gente sofrer nesses ônibus velhos. Chega ônibus novo, mas eles preferem reformar os velhos que andam aí caído aos pedaços, sem manutenção nenhuma. Isso é um vergonha”, conclui.
    Por causa dessa falta de manutenção o segurado Paulo Franquine, de 31 anos, que é cadeirante, já perdeu vários compromissos e até consultas médicas. Ele conta que faz acompanhamento médico na Santa Casa de Campo Grande três vezes por semana e já aconteceu de passarem cinco ônibus com o elevador de cadeirante com defeito.
    “Esses ônibus não tem manutenção. Eu já liguei várias vezes na empresa responsável para reclamar. No meu bairro mesmo, várias vezes fui deixado porque o elevador não tava funcionando. E isso não acontece só em ônibus de vila não, no Centro também já passei por isso”, salienta.
    Sobre o motivo apresentado pela empresa responsável pelo transporte coletivo da Capital, Paulo diz acreditar se tratar de economia. “Eles querem colocar todo mundo dentro de um ônibus para economizar”, diz.
    Com a filha de três meses no colo, a bacharel em administração Mariana Barone, de 28 anos, também reclama dos ônibus lotados e acredita que está faltando melhor gerenciamento. “Falta ônibus e gente que faça eles funcionarem de forma correta. Precisamos de mais ônibus na rua, principalmente em horário de pico e aos fins de semana”, conta.
    Mariana pontua os vários problemas e explica que já embarcou em ônibus totalmente sucateados e mesmo com o bebê no colo de tão lotados, já teve que ficar em pé. “Entrei uma vez em um ônibus que não fechava a porta. O motorista até tentou fechar, mas não conseguiu e seguiu viagem com porta aberta. Fora os ônibus sempre lotados. Achar lugar para sentar é muito difícil”, destaca.

    Denúncia

    Passageiros e trabalhadores do transporte coletivo denunciaram ao Jornal Midiamax que as empresas estariam ‘escondendo’ em seus pátios ônibus mais novos e maiores, enquanto estariam colocando para rodar veículos mais antigos e em piores condições.
    Enquanto os usuários reclamam da lotação dos ônibus, atraso nas linhas e péssimas condições dos terminais, os veículos mais novos, adquiridos em 2012 e apresentados com pompa à Capital, permanecem guardados nas garagens das empresas porque consomem mais combustível e um aditivo especial para diminuir a poluição, o que aumento o custo de uso, motivo pelo qual seriam usados apenas em ocasiões especiais.
    À época da concessão do transporte público, ainda não gestão do ex-prefeito Nelsinho Trad (PTB), lembrou o vereador Airton Saraiva (DEM), a Prefeitura recebeu cerca de R$ 20 milhões pela concessão.  “O que aconteceu com o dinheiro? Teria que investir no transporte. Por que não investiram nos terminais, por exemplo, para limpeza permanente e segurança. Os terminais são uma vergonha”, frisou o democrata.

    Consórcio diz que 'guarda' ônibus novos por baixa demanda e custo maior

    “Buraqueira prejudica veículos”, cita diretor
    • Ônibus foram flagrados nesta manhã no estacionamento da empresa (Foto: Cleber Gelio)
    • A baixa demanda ‘fora do horário de pico’ e o custo de manutenção devido à “buraqueira” nas ruas da cidade foram as justificativas apresentadas pelo diretor do Consórcio Guaicurus, João Rezende Filho, para deixar os veículos articulados na garagem durante parte do dia.
      Na manhã desta sexta-feira (26), a equipe de reportagem do Jornal Midiamax encontrou quatro veículos BRTs estacionados na Viação Morena, após a denúncia de leitores. A explicação, de acordo com João Rezende, é "simples". “O transporte coletivo precisa estar em sintonia com o uso, para que não haja desperdício. A demanda é maior no horário de pico, por isso colocamos nesse horário os articulados para rodar. Fora desse horário, é desperdício colocar um ônibus daquele tamanho (mais de 20 metros) para rodar”, afirma.

      São 593 ônibus em Campo Grande, destes 38 articulados, sendo 13 BRTs. Os primeiros BRTs chegaram a Capital em 2012, “depois compramos outros em 2013 e 2014. Os BRTs tem mais de 20 metros e custam quase R$ 1 milhão. Todos com idade média de cinco anos. A operação com eles é mais cara mesmo, até porque eles gastam o dobro de gasolina do ônibus normal”. Quanto a denúncia de que os BRTs usam um aditivo especial para diminuir a poluição, Rezende explica: “os veículos mais modernos movidos a diesel usam o Arla, mas não são apenas os articulados, vários outros ônibus de tamanho médio também usam e isso é custo normal”, destaca.
      Segundo o diretor, depois do horário de pico da manhã, 40% dos ônibus retornam a garagem. “Isso não é crime. Se a demanda diminuiu, como eu vou colocar veículos para rodarem vazios? Não faz sentido. Dia que chove mesmo, quase não tem passageiro. Tudo quem paga é o usuário. A gente precisa ter responsabilidade com o cidadão, por isso usamos o mínimo necessário”, explica.
      Sobre a lotação e demora, Rezende explica no horário de pico. “A entrada e a saída das escolas são no mesmo horário, assim como das empresas. Isso dificulta a trafegabilidade na cidade e por isso, congestiona, ônibus atrasam e consequentemente, alguns ficam mais lotados. Às vezes tem dois ônibus passando junto, um vazio. Por quê? As pessoas querem sempre pegar o primeiro que passa”, cita.
      Os 38 articulados se revezam nas linhas troncais, segundo Consórcio Guaicurus, porque é onde o movimento é maior. “De terminal para terminal, a demanda é maior que em bairros, por isso nos bairros quem faz são os ônibus menores, os alimentadores”, explica.
      De acordo com o diretor, o Consórcio Guaicurus tem um gasto médio por mês de R$ 12 milhões, sendo R$ 1 milhão em combustível, e emprega 1,8 mil funcionários.

      Mobilidade

      De acordo com o diretor do Consórcio Guaicurus, o maior problema na Capital é a mobilidade urbana. “Falta uma via específica para ônibus. Temos pedido ajuda para Órgãos de Defesa do Consumidor. Um ofício também foi encaminhado para a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) e Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande) pedindo para que seja debatido a falta de trafegabilidade na cidade. É importante buscar soluções para isso”, ressalta.
      A falta de faixa e corredor para ônibus, segundo ele, atrapalha o trânsito. “Se tivéssemos mais extensão, o ônibus produzia mais viagens. Se não tem congestionamento, os ônibus transitam mais rápido e conseguem chegar em horário normal. Assim, resolve a causa do problema e não apenas o efeito”, declara.

      Ajuda ao usuário

      Neste ano, os passageiros de Campo Grande poderão ver mudanças nas rotas e horários de ônibus. “Vamos atualizar uma Pesquisa Origem/Destino para melhor auxiliar os passageiros. Muitos serão entrevistados de onde embarcam, para onde vão. Essas informações vão basear o estudo do que devemos oferecer”, disse.
      Um auxílio a quem usa o transporte coletivo todo dia na Capital é o Moovit. O aplicativo traça rotas considerando opções de transporte público. Há avisos quanto ao horário e atraso das linhas. 

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