A uma semana da eleição nos Estados Unidos, qual a chance de Donald Trump? As últimas duas semanas foram péssimas para Hillary Clinton. Na média das pesquisas mantida pelo site
RealClearPolitics, sua vantagem sobre Trump caiu de 7 pontos percentuais para 3,1.
Tal movimento acelerou com a revelação, na última sexta-feira, de que o FBI decidiu reabrir o caso em que Hillary é acusada de usar um servidor privado de e-mails para lidar com informações confidenciais, quando secretária de Estado.
Novos e-mails comprometedores foram encontrados no computador de Anthony Weiner, ex-marido de Huma Abedin, principal assessora de Hillary. Weiner está envolvido em vários escândalos sexuais e é investigado por tentar seduzir uma menor de idade. O diretor do FBI, James Comey, não revelou o conteúdo dos e-mails. Mas decidiu, a dez dias da votação, informar o Congresso de que “parecem ser pertinentes” à investigação e, por isso, reabriu o caso.
Comey, antes atacado pelos republicanos por ter anunciado que não investigaria Hillary – ela fora “desleixada”, disse, mas não cometera crime –, agora foi criticado pelos democratas por lançar aquilo que os americanos chamam de “surpresa de outubro”, uma bomba de última hora, com efeito eleitoral imediato.
Mas, antes mesmo de ele lançá-la, Hillary já vinha perdendo terreno nas pesquisas. Motivo: republicanos indecisos parecem enfim ter se conformado em votar em Trump. O patamar de eleitores de Hillary tem se mantido aproximadamente constante, em torno de 46%. Mas os eleitores de Trump subiram de 39% para 42,4%, na média das pesquisas do
RealClearPoliticsque inclui todos os candidatos.
É fato, portanto, que a corrida está mais apertada. Mas será que Trump poderá vencer? Para responder, não basta olhar as pesquisas nacionais. A eleição nos Estados Unidos é indireta. O presidente é escolhido por um Colégio Eleitoral de 538 delegados, indicados pela candidatura vitoriosa em cada estado (apenas Maine e Nebraska indicam um delegado para o vitorioso em cada distrito eleitoral, mais dois para o vencedor no estado).
Nenhuma das análises do mapa eleitoral feitas por analistas e estatísticos dá Trump como vencedor mais provável, embora suas chances estejam crescendo. No popular site
FiveThirtyEight, elas estão em torno de 25%. No
Predictwise, que lida apenas com informações dos mercados de apostas, são de 14%.
Embora improvável, uma vitória de Trump não é considerada impossível – e é hoje mais possível do que há duas semanas. Parece definitivamente afastado o cenário de uma lavada de Hillary. Teremos, ao que tudo indica, uma eleição competitiva.
Para Trump vencer, precisa romper a barreira eleitoral que Hillary construiu em alguns estados – sua “firewall”. As disputas críticas são: Flórida, Carolina do Norte, Nevada, Colorado, Pensilvânia, New Hampshire, Michigan e Wisconsin (além do segundo distrito no Maine). Elas somam 101 votos no Colégio Eleitoral e, em todas, Hillary está na frente, segundo as pesquisas. Mesmo se perder Flórida, Carolina do Norte, Nevada e o segundo distrito do Maine, ela ainda teria 272 votos, dois além do necessário para vencer.
Mas sua “firewall” não é inexpugnável. Com a alta recente, Trump voltou a ser favorito em Arizona, Ohio e Iowa, somando um total de 215 votos prováveis. Estão nessa conta 6 votos de Utah, onde ele enfrenta o mórmon Evan McMullin, candidato-surpresa que está em segundo lugar. Fora a necessária vitória sobre McMullin em Utah, a campanha de Trump acredita ser possível romper a barreira de Hillary de três modos:
1) O primeiro é uma onda Trump varrer o Meio Oeste e lhe trazer os 26 votos de Michigan e Wisconsin. Somados ao aos 29 votos da Flórida, ele nem precisaria do distrito solto do Maine para somar 270. Qual a chance disso? Muito pequena. Na média das pesquisas, Hillary tem vantagem de 6,3 pontos no Michigan e de 5,7 pontos no Winsconsin. Em nenhum momento da corrida esteve atrás em nenhum dos dois estados. Trump só vence neles em caso de erro colossal das pesquisas ou de mudança abrupta na vontade dos eleitores.
2) O segundo cenário é Trump levar Flórida, Carolina do Norte, New Hampshire e o segundo distrito do Maine (ambos ficam numa região da Costa Leste cujo eleitorado lhe é mais simpático). A vantagem de Hillary na Carolina do Norte está em 3 pontos na média das pesquisas, mas Trump já esteve na frente dela em setembro e no início de outubro. Em New Hampshire, contudo, a vantagem dela é de 5,6 pontos – e Trump nunca liderou as pesquisas. Novamente, lhe resta aí a esperança de um erro de proporções colossais ou mudança abrupta.
3) Em suas simulações, o estatístico Nate Silver, do
FiveThirtyEight, aventou ainda um terceiro cenário. Ele considerou uma vitória de Trump na Pensilvânia, onde a diferença está em 5,2 pontos, Hillary sempre liderou, mas Trump chegou mais perto dela em julho e no início de outubro. Se ele levar a Pensilvânia, pode perder New Hampshire ou Carolina do Norte, e ainda vence a eleição. Novamente, é um cenário que envolve erro colossal nas pesquisas ou mudança abrupta do eleitorado.
Quais as chances de que as pesquisas estejam tão erradas? Um indicador é a votação antecipada. Vários estados americanos permitem que os eleitores votem com antecedência pelo correio ou pessoalmente. De acordo com o
New York Times, mais de 22 milhões já votaram. Trump está na frente no Arizona e, por vantagem apertada, na Flórida. Hillary lidera em Nevada, Colorado, Carolina do Norte (onde 1,5 milhão já votou) e até mesmo em Iowa.
Não é possível deduzir que esses resultados se manterão até o final da apuração, sobretudo porque os eleitores republicanos, menos convictos, apenas agora começam, segundo as pesquisas, a aderir a Trump em maior número. Mas o eleitorado de Hillary tende a se manter estável.
Também não é impossível que haja erros nas pesquisas. No plebiscito do Brexit, no Reino Unido, eles foram da ordem de 4 pontos percentuais. Mas um erro superior a cinco pontos, em estados como New Hampshire, Pensilvânia, Michigan ou Wisconsin, seria algo inédito.
A imagem de Hillary diante do eleitor médio só não é pior que a de Trump. Enquanto ela estiver nas manchetes, sua vantagem tende a cair. Isso já pode mudar hoje, com o
New York Times voltando a falar nos mistérios fiscais que cercam os negócios de Trump. Mas é verdade, levando tudo em conta, que o final da corrida desenha um cenário mais apertado e que ainda existe um caminho para Trump chegar à Presidência. Só que ele está longe de ser fácil. Hillary, por todas as informações disponíveis, continua favorita.