Tem coisas que fazemos e adoraríamos não repetir, mas qualquer um que já tenha tentado alterar os próprios hábitos sabe que esse não é exatamente um desafio fácil. Atualmente, pesquisadores reconhecem que, do ponto de vista neurológico e comportamental, para ter sucesso em nossos propósitos é necessário muito mais do que boas intenções. O primeiro passo, considerado essencial por psicólogos, é a consciência de que conseguir agir de forma diferente daquela a que estamos acostumados realmente não é fácil. No entanto, entender os motivos de determinados comportamentos ajuda a amenizar as dificuldades inerentes ao processo. “O que torna complicado mudar hábitos é justamente o que os faz tão úteis no dia a dia”, diz a psicóloga e especialista em comportamento Wendy Wood, da Universidade do Sul da Califórnia. Eles tornam a vida mais fácil e ajudam a ganhar tempo por não termos de pensar, por exemplo, em como colocar os sapatos antes de sair de casa. Só o fato de estarmos em determinado lugar é suficiente para agirmos de determinada maneira – fato que, infelizmente, é igualmente verdade para o que queremos eliminar.
Um experimento realizado por Wood e seus colegas e publicado no Personality and Social Psychology Bulletin demonstra claramente essa realidade. Os pesquisadores distribuíram porções de pipoca fresca e da semana anterior para pessoas que, habitualmente comiam esse alimento no cinema. Os pesquisadores fizeram o teste em vários ambientes e descobriram que embora os voluntários que receberam porções murchas e ressecadas não tivessem gostado, comeram até o final a quantidade que lhes foi oferecida. A boa notícia é que esse padrão se manteve apenas quando estavam assistindo a cenas de filmes na sala de cinema, mas não enquanto assistiam a vídeos de música em uma sala de conferências, onde a mudança de disposição anulou o impulso irracional de comer.
Ou seja: pensar com antecedência em situações potencialmente “perigosas”, que se tornam verdadeiras armadilhas, deixa o cérebro de “sobreaviso”. Por isso, o planejamento diminui os “riscos” e ajuda efetivamente a quebrar hábitos. A pessoa que pretende parar de consumir cafeína, por exemplo, pode encontrar outro caminho para o trabalho que não passe por uma cafeteria.
Esta matéria foi publicada originalmente na edição de julho de Mente e Cérebro, disponível em:
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