Filósofo, Lou Marinoff é o principal líder, nos Estados Unidos, da nova corrente de pensamento que retira a filosofia do campus universitário e a devolve ao cotidiano do cidadão. Utiliza as obras dos maiores pensadores da história da Filosofia para ajudar as pessoas a refletir sobre a resolução de seus próprios problemas. No aconselhamento filosófico proposto pelo autor de Mais Platão, Menos Prozac! A Filosofia Aplicada ao Cotidiano (Rio de Janeiro, Record, 2001, 325 páginas), os filósofos são o ponto de partida para pensar em questões corriqueiras como conflitos amorosos, mudanças profissionais e o temor da morte. No Apêndice A do livro, o autor faz apresentação resumida de aproximadamente sessenta filósofos e obras clássicas mencionadas no livro, cujas ideias achou úteis no aconselhamento filosófico.
Esse movimento de Filosofia do Cotidiano surgiu em 1981 na Alemanha com Gerd Achenbach. Hoje, tem seguidores na Europa, Estados Unidos, Israel, África do Sul e Hong Kong. Os clientes são em sua maioria refugiados da terapia tradicional, porque muitas das terapias atuais não passam de “farmacologia neural”. São feitas prescrições para pessoas que precisam tão somente de boa conversa sobre a sabedoria de viver.
O autor mostra como identificar determinado problema, expressar emoções construtivamente, analisar opções, contemplar alguma filosofia que ajude a escolher e viver com a melhor opção. No fim, a pessoa resgata o equilíbrio emocional usando a razão. Retoma o cerne da Filosofia: colocar a vida em perspectiva maior.
Todo mundo tem alguma filosofia de vida, mas poucos tem o privilégio ou o tempo para se reunir e destrinchar os aspectos complexos de sua vida. Tendemos a formá-la à medida que vivemos. As experiências nos ensinam, desde que consigamos raciocinar, ordenadamente, sobre elas. Precisamos pensar criticamente, procurando padrões e reunindo tudo em quadro organizado para seguirmos, sabiamente, o nosso caminho na vida. Compreender a nossa filosofia pessoal pode ajudar a evitar, resolver ou administrar muitos problemas. Temos de avaliar nossas ideias para formarmos certa perspectiva a nosso favor.
Esse livro colabora para mostrar que é possível modificar convicção pessoal (e muitas vezes equivocada) para resolver certos problemas recorrentes. Lida com problemas que todos enfrentam, inclusive relacionamentos amorosos, vida ética, como enfrentar a morte, mudança de carreira e procura de significado e objetivo. Mesmo que seja problema sem solução, temos de enfrentá-lo de alguma maneira para continuarmos vivendo saudavelmente. Em vez de oferecer abordagens pseudo clínicas superficiais ou voltadas para a patologia, esse livro oferece a sabedoria antiga, especificamente voltada para ajudar as pessoas a viver com satisfação.
O aconselhamento filosófico é campo da Filosofia relativamente novo no sentido de ser movimento de prática filosófica. Apesar de Filosofia e Prática serem duas palavras com pouca probabilidade de se associarem na mente da maioria das pessoas, a Filosofia sempre ofereceu ferramentas para serem usadas no dia-a-dia. Os filósofos clássicos pretendiam que suas ideias fossem utilizadas. Filosofia foi, originalmente, um modo de vida, não uma disciplina acadêmica. Era algo para ser não apenas estudado, mas também aplicado. Somente por volta do século XIX que a Filosofia foi confinada em ala esotérica da “torre de marfim”, repleta de insights teóricos, mas vazia de aplicação prática.
Você pode discutir seu problema em termos genéricos, sem mencionar nenhuma filósofo ou filosofia particular. É o tipo de conversa mais provável de se ter com amigos, parceiro, família, barman ou motorista. Usando sua percepção de si mesmo, você conversa filosoficamente sem tentar, de modo consciente, ser filosófico.
Outro caminho comum em sessão de aconselhamento é o cliente pedir instrução filosófica específica. Ao invés de você “reinventar a roda (filosófica)”, avançará em sua reflexão ao tomar conhecimento do que outros já mapearam do território. Compreender um pouco sobre a escola de pensamento formalizada pode ajudá-lo a unir seus pontos dispersos ou preencher alguns espaços em branco.
A terceira alternativa é indicada para quem já trabalhou seu problema da maneira anterior, mas continua interessado. Implica em envolvimento maior, para explorar a biblioterapia, ou seja, empenhar-se no estudo de alguns textos filosóficos. Este tipo de trabalho pode ajudar a equipá-lo ainda melhor para questões futuras do que a experiência de trabalhar apenas um problema específico.
O aconselhamento filosófico é mais arte do que ciência e atua de uma única maneira com cada indivíduo. Tem tantas permutações quanto o número de práticos existentes. Você pode trabalhar filosoficamente determinado problema sozinho ou com a ajuda de algum parceiro não-profissional. Na verdade, não existe um método geral de se fazer filosofia que possa ser explicado ou ensinado.
Marinoff descobriu pela experiência que muitos casos se ajustam bem à abordagem dos cinco passos que chama de processo PEACE. É acrônimo que representa os cinco estágios: Problema, Emoção, Análise, Contemplação e Equilíbrio. O acrônimo é apropriado, já que esses cinco passos são o caminho mais seguro para alcançar a paz (peace em inglês) mental duradoura.
Ao encarar filosoficamente alguma questão, você precisa primeiro identificar o Problema. Às vezes, especificar o problema é mais complicado do que parece, embora o sistema de alarme interno tenha disparado quando precisamos ajuda ou de recursos complementares.
Em segundo lugar, você deve avaliar cuidadosamente as Emoçõesprovocadas pelo problema. Trata-se de registro interior. Deve experimentar emoções genuinamente e canalizá-las de modo construtivo. A psicologia e a psiquiatria praticamente nunca vão além deste estágio, e por isso seus benefícios são limitados.
No terceiro passo, Análise, você lista e avalia as opções para resolver o problema. A solução ideal resolverá tanto as questões externas (o problema) quanto às internas (as emoções despertadas pelo problema), mas nem sempre é realizável. São os diversos caminhos que terá de percorrer em sua mente para descobrir o mais adequado.
No quarto estágio, Contemplação, você recuará um passo, ganhará certa perspectiva e contemplará a situação por inteiro. Nesse ponto, terá compartimentado cada um dos estágios para ter controle sobre eles. Mas agora exercitará todo o seu cérebro para integrá-los. Em vez de se demorar nas árvores individualmente, examinará a forma da floresta. Em outras palavras, cultivará visão filosófica unificada de sua situação como um todo: o problema quando o encara, a sua reação emocional e suas opções analisadas dentro dele. A essa altura, estará pronto para considerar insights, sistemas e métodos filosóficos para lidar com a situação em sua totalidade. Filosofias diferentes oferecem interpretações contrastantes de sua situação assim como prescrições divergentes sobre o que fazer em relação a ela — se for preciso fazer algo.
Por fim, depois que articula o problema, expressa as suas emoções, analisa as suas opções e contempla uma posição filosófica, você alcança o Equilíbrio. Compreende a essência do seu problema e está preparado para empreender a ação apropriada e justificável. Sente-se estável, pois está preparado para as inevitáveis mudanças que o aguardam.
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