terça-feira, 31 de outubro de 2017

"Eu, por exemplo, sou contra essa história de “feminicídio” - DIZ BOLSONARO

Bolsonaro ensina como combater o feminicídio: com o homicídio!

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Em vídeo para movimento, ele diz que a mulher pode se proteger do "feminicídio" usando uma arma e praticando, então, o "homicídio". Ele riu da própria piada

Gente, há muito tempo eu não via uma, como posso chamar?, conexão, sinapse ou sei lá o quê tão bem-feita como a de um vídeo de Jair Bolsonaro, que está no site “Nas Ruas”.
Vocês têm de assistir. Está aqui.
Essa é a “direita” — e coloquem-se aspas aí — que diz que quer chegar ao poder.
O deputado — um mártir da liberdade de expressão, uma pobre vítima do pensamento politicamente correto, um Cristo do esquerdismo romano — é aquele senhor que acha que mulheres feias não merecem ser estupradas.
Como a sua mulher, a sua filha e a sua irmã — e quem sabe as dele — são bonitas, há de se concluir que mereçam.
“Ah, não distorça o que ele disse!”
É?
Topo um debate com quem se disponha a ser o linguista do bolsonarismo. O urso desdentado não vale. É tão linguista como filósofo. A propósito: as doações de internautas voltaram aos níveis anteriores? Sigamos.
Ah, sim! O debatedor leve as fotos das mulheres da família para que o bolsonarismo avalie se mereceriam ou não ser estupradas. Eu não levarei. Acho essa fala criminosa e repudio a formulação. Quem a aceita, sugere que as mulheres da própria casa se exponham ao risco de tão luxuoso pensamento.
Bolsonaro, aquele que não é estuprador, mas, se fosse, só estupraria as mulheres que merecessem (as bonitas), resolveu fazer a sua saudação no Dia Internacional da Mulher.
E disse esta maravilha:
“Parabéns a todas as mulheres do Brasil PORQUE (notaram o engate?) eu defendo a posse de armas de fogo para todos, né?, inclusive vocês, obviamente, as mulheres. Que nós temos de acabar com o mi-mi-mi. Acabar com essa história de feminicídio; que, daí, com arma na cintura, vai ter é homicídio. Tá ok? Felicidades aí”.
Carla Zambelli, que é líder do Nas Ruas, gostou da fala, parece. Riu.
Pois é.
Qual é um dos principais problemas da direita xucra, de que Bolsonaro é o epítome? Transformar uma boa causa em simples expressão do fascismo da vulgaridade, em grosseria, em estupidez, em sordidez além dos limites do que pode tolerar a civilização.
A boa causa e a vulgaridadeOu não é o que ele faz no vídeo? Eu, por exemplo, sou contra essa história de “feminicídio” ou “lei anti-homofobia” em razão daquilo que entendo deva ser o direito: uma norma tendente ao universal — no universo onde vigora a lei —, que não distingue os seres agravados nem os agravadores a depender de suas vítimas.
Bolsonaro é a versão boçal disso. Ou o avesso disso. Seu combate à tese do “feminicídio” ignora questões de princípio. Ele não gosta é de feministas. Seu combate à lei anti-homofobia nada tem a ver com a agressão a fundamentos da Constituição. É que ele não gosta de gays e acha que estes só estão por aí porque não tomaram uma surra (“um couro”) de seus respectivos pais.
Bolsonaro é um Midas bem particular. Tudo aquilo em que toca vira dejeto.
As lutas da direita liberal, submetidas à sua leitura, viram coisas abjetas.
Lobby armamentistaAinda não entendi direito esse lobby em favor das armas e da revisão do Estatuto do Desarmamento. E não emprego a palavra no seu sentido pecuniário. Até porque, se eu souber que há opiniões compradas, eu informarei. Não sei.
O que se nota — e, bem, eu estudei linguística — é que o deputado recitou um texto ensaiado, que buscava, inclusive, ser engraçado.
Sim, claro!, Bolsonaro sabe que “homicídio” não é, vamos dizer, o masculino de “feminicídio” porque a primeira palavra se refere ao assassinato do “humano”, não ao do macho. O “homo” que ali vai é o “sapiens”. Para Dilma, quando muda de gênero, é “mulher sapiens”…
Bolsonaro estava tentando ser engraçado. E, quando ele faz humor, apela a coisas como arma e homicídios. Quando ele fala a sério, como vimos, diz que só as mulheres bonitas merecem ser estupradas.
Cálculo ruimBem, digo o que penso, não? É a minha profissão. E torço para que o Supremo condene Bolsonaro, o que implicará a cassação de seu mandato e a inelegibilidade.
Mas não sou o único a torcer por isso. Há gente vibrando em silêncio mais do que eu (embora simule o contrário) ou mesmo lhe emprestando solidariedade.
Finge indignação, mas torce para o Supremo quebrar as pernas do buliçoso deputado porque, afinal, é evidente que a extrema direita não tem votos para ganhar a eleição. Mas não é menos evidente que pode criar dificuldades para “J. Pinto Fernandes” (cito Drummond), que seria o candidato “ideal” da direita.
Em suma: o delírio em curso consiste em achar que a próxima disputa será a união de todas as esquerdas contra a união de todas as direitas. Como se um liberal ao lado de Bolsonaro fosse menos exótico que um liberal ao lado do PT. Para ser franco, acho que é até mais: um liberal sempre pode ensinar alguma coisas aos petistas, como Marcos Lisboa ensinou, no primeiro governo Lula, o valor da responsabilidade fiscal. Mas um liberal nada tem a ensinar a Bolsonaro porque o valentão considera o seu parceiro um frouxo. No máximo, ao lado de figura tão singular, o liberal se torna um pouco mais burro.
Bem! Tomara que o Brasil não caminhe para tal polarização por pelo menos dois motivos:
1: porque seria péssimo para o futuro do país;
2: porque “todas as direitas” perderiam.
Mas isso é prefiguração.
Fascinante mesmo é ver essa manifestação de sofisticação intelectual em ação.
Caras e caros, sei bem o que passei a enfrentar depois que cravei a expressão “direita xucra”.
Não me arrependo. Na verdade, eu me orgulho.
O pior adversário de um liberal é a direita xucra. Desde a Alemanha da década de 20 do século passado.
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Cinco assuntos que podem ser tema da redação do Enem 2017


Historicamente, o exame contempla temas de direitos humanos, de responsabilidade tanto do poder público quanto da sociedade

Sair-se bem na redação do Enem é um diferencial que pode definir o futuro do estudante. Um desempenho excelente nessa parte da prova garante uma nota maior do que gabaritar nas áreas objetivas do exame. Isso acontece porque a metodologia de correção permite que o aluno obtenha até 1.000 pontos na redação, o que dificilmente acontece nas demais seções da prova.
Ao contrário da Fuvest, que seleciona temas universais e atemporais, o Enem foca em assuntos atuais que estejam em evidência no Brasil. A professora do laboratório de redação do Colégio Objetivo, Maria Aparecida Custódio, ressalta que, historicamente, o Enem contempla questões de responsabilidade tanto do poder público quanto da sociedade, como foi o caso no ano passado, quando abordou a intolerância religiosa.
A professora Ana Polo, do colégio COC, concorda: “As redações propostas pelo Enem possuem como característica predominante a temática social. Sendo assim, a aposta é que a prova continue cobrando que o aluno reflita sobre a sociedade brasileira, apontando causas e indicando possíveis caminhos para combater determinada problemática”.
“Uma dica é ficar de olho nas campanhas do governo federal ao longo do ano. Em 2015, ano em que a lei do feminicídio foi sancionada, o tema da redação foi a violência contra a mulher”, comenta Custódio.
Seguindo essa lógica, o trabalho escravo e a questão indígena têm probabilidade remota de aparecer no exame, porque o governo não tem tido uma atuação de destaque nessas áreas. O professor Péricles Polegatto, também do COC, ainda descarta uma dissertação sobre os refugiados e a questão das fronteiras.
Custódio lembra ainda que a prova é definida no primeiro semestre do ano; portanto, assuntos que surgiram apenas nos últimos meses também devem ficar de fora.
Seguem abaixo as apostas dos professores para o tema do Enem 2017.

Homossexualidade - LGBT - Gay
Casal homossexual (iStock/Getty Images)
1 – Homotransfobia
Os três professores apostam nesse tema. O Brasil é o país que mais mata LGBTs. O aluno pode ser convidado a falar sobre o papel da sociedade nessa questão, o projeto de lei que transforma homofobia em crime, a visibilidade trans. Ou ainda, em um espectro mais amplo, a professora Ana Polo indica as novas formas de representação familiar.
2 – O Brasil que envelhece
Uma oportunidade para dissertar sobre os direitos dos idosos, a reforma da previdência e como assegurar um envelhecimento digno aos brasileiros.
3 – Combate à violação dos direitos das crianças e dos adolescentes
Houve uma campanha do governo federal na mídia ao longo do ano,, tendo sido criado um aplicativo para denúncia de exploração sexual. Maus-tratos e abandono também passam por esse tema.
4 – Bullying
Como lidar com essa questão, que tem feito aumentar o suicídio entre os jovens e a violência nas escolas, com casos frequentes aparecendo na mídia ao longo do ano.
5 – Consumo sustentável
Meio ambiente é um tema que costuma aparecer no Enem, a professora do Objetivo aposta que a apresentação de formas mais conscientes de consumir é a abordagem mais provável de ser escolhida pelo Enem.

ESTADO ADIANTA PAGAMENTO DE SALÁRIO, JÁ PREFEITURA ADIA PARA DEPOIS DO FERIADO

Salário dos servidores estaduais estará disponível nesta quarta-feira

Valores são depositados à meia noite desta terça
Os salários dos mais de 70 mil servidores públicos de Mato Grosso do Sul estarão na conta nesta quarta-feira (1º). De acordo com Carlos Alberto Assis, secretário de Administração, os valores serão depositados à meia noite desta terça.
O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul declarou no Diário Oficial do Estado desta terça-feira (31) ser ponto facultativo na sexta-feira (3), após o feriado de Dia de Finados, na quinta-feira (2).
O ponto facultativo não se aplicará aos serviços considerados essenciais para a população e que, por sua natureza, não possam ser interrompidos.
O ponto facultativo não estava previsto no calendário oficial divulgado pelo governo no início do ano. Com a publicação, o expediente segue normal até amanhã (1º) retornando somente na segunda-feira (6).

Servidores municipais receberão salário na sexta-feira

Anúncio foi feito nesta terça
A Prefeitura Municipal de Campo Grande divulgou nesta terça-feira (31) que os salários dos servidores municipais serão depositados na próxima sexta-feira (3), emenda de feriado.
Conforme nota do Executivo, o valor da folha salarial é de R$ 105 milhões. Ao todo, estão na ativa 23,6 mil servidores, 4,6 mil aposentados e 776 pensionistas.
O pagamento dos salários neste mês acontece antes da data habitual, que é o 5º dia útil.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Sem fim, guerra jurídica entre médicos e enfermeiros preocupa Sesau


Audiência nesta tarde discute liminar que restringe atuação dos enfermeiros após pedido do Conselho Federal de Medicina

Izabela Sanchez
Sem fim, guerra jurídica entre médicos e enfermeiros preocupa Sesau
De um lado, os enfermeiros, com argumentos como a lei 7.498, de 1986. Do outro, os médicos, com normativas como a Lei 12.842, de 2013. No centro da discussão, revalidar receitas médicas e requisitar consultas e exames. A 'batalha jurídica' entre o Confen (Conselho Federal de Enfermagem) e o CFM (Conselho Federal de Medicina) tenta chegar a um consenso sobre o que as duas atuações profissionais podem, ou não, fazer, durante atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde). 
Decisão do juiz da 20ª Vara da Justiça Federal de Brasília, Renato Borelli, concedeu liminar ao pedido do CFM (Conselho Federal de Medicina) e proibiu os enfermeiros de realizarem as referidas atuações na saúde pública. O assunto, que ainda não chegou à reta final, já começa a preocupar a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde).
A pasta expediu nota técnica, distribuída para as unidades de saúde, com orientações sobre o atendimento "prevendo alteração de fluxo a fim de não incorrer em prejuízos no atendimento à população". O documento foi elaborado após reunião entre o titular da Sesau, Marcelo Vilela, a secretária- adjunta Andressa De Lucca Bento, coordenadores e superintendes da Secretaria.
Isso porque as mudanças devem alterar o atendimento do Programa da Saúde da Família, à exemplo das UBSFs (Unidades Básicas de Saúde da Família). Conforme a Sesau, enquanto há 963 médicos inscritos no quadro municipal, 410 enfermeiros atuam na saúde da Capital, e apenas 186 nas unidades básicas de saúde.
Batalha jurídica
O Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) recorreu da decisão e defende que as ações dos enfermeiros na atenção básica já são descritas pela legislação, e alega que as atividades que geram conflito judicial são realizadas há mais de 20 anos na atenção básica.
O Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul) defendeu a posição, por meio de nota pública, e cita normativas como a resolução - nº. 195 de 1997 - do Cofen, e a lei 7.498/86, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem.
É o que defende o docente do curso de enfermagem da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Sebastião Henrique Duarte.
"É uma série de equívocos porque o conselho suspendeu uma portaria que já foi revogada, teoricamente. Essa lei [que regulamentou a profissão, de 1987] ela já habilita o enfermeiro a fazer mais ações e muitas constam em protocolos, protocolos que os médicos ajudaram a construir. O Ministério da Saúde estabeleceu a equipe multiprofissional", comentou.
Já o CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul) afirma que as atividades são vetadas por artigos da Lei 12.842 (Lei do Ato Médico), de 2013, que dispõe sobre o exercício da Medicina.
Presidente do Conselho, Celso Rafael Gonçalves Codorniz, afirma que o diagnóstico clínico e o tratamento são atribuições exclusivas dos médicos. "Em 2013, foi aprovado uma lei, lei do ato médico, uma lei que determina o que o médico pode fazer. Por essa lei, o diagnóstico clínico e o tratamento são exclusivos do médico", explica.
Para além das discordâncias na interpretação e aplicação da lei, no entanto, está a cultura. Os profissionais de enfermagem afirmam que as mudanças no entendimento do SUS, tentam, gradativamente, incluir os profissionais da enfermagem em atuações que já eram atribuições regulamentadas.
"Na verdade, a atividade é socialmente desconhecida. O enfermeiros fazem parte de todo o ciclo, fazem controle de crescimento de desenvolvimento, atuam na prevenção pré-natal, fazem parto. Da década de 1990 pra cá o país mudou o perfil epidemiológico, a mortalidade infantil que era muito alta teve um declínio, por conta dessa participação em casa", explica, sobre a saúde da família.
"Isso livrou muita criança de morrer por diarreia, os enfermeiros assumiram, evitaram muitas mortes de mulheres, a participação ajudou. E tem um detalhe, ele trabalha na equipe multiprofissional, mas na competência de enfermagem", esclarece.
Já o médico e representante do CRM-MS defende que a formação médica, durante a graduação, é a única que habilita os profissionais a assumirem atividades como a revalidação de exames, consultas e receitas. "Porque somos nós que fazemos 6 anos de faculdade, em período integral, e somos nós que temos as condições para entender o funcionar dos órgãos, doenças, prescrever o tratamento e assumir responsabilidade", comentou.
"Eu acho que médico e enfermeiro têm que trabalhar lado a lado, mas cada um tem que trabalhar na área que é capaz, ele não pode sair fora da área dele, onde ele não tem preparo", complementou.
E a saúde municipal
A assessoria de imprensa da Sesau divulgou posicionamento e afirma que a decisão em carácter liminar "causa preocupação, haja vista que há décadas os enfermeiros realizam procedimentos, dentro da sua consulta de enfermagem, tanto de solicitação de exames baseados em protocolos".
Nesta tarde (17), uma audiência pública discute o assunto na Câmara Municipal. A discussão foi solicitada pelos integrantes da Comissão Permanente de Saúde, composta pelos vereadores Loester Nunes de Oliveira (PMDB), presidente, Antônio Cruz (PSDB), vice-presidente, Cida Amaral (PODEMOS), Hederson Fritz Morais da Silveira (PSD) e Lívio Viana de Oliveira Leite (PSDB).
O secretário municipal de saúde explicou à reportagem que a discussão deve oferecer mais direção ao assunto. "A gente deu uma liberdade para a equipe tomar uma decisão num bom senso, tem muito médico que não quer, mas tem que entrar em um consenso", explicou.
"Eles [enfermeiros] não fazem atendimento, o que eles fazem é colher o preventivo, fazer um eletrocardiograma. A interpretação é do médico, em alguns casos eles podem fazer uma prescrição de analgésicos", comentou.
Questionada sobre o impacto, a Sesau afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que "estão inscritos 963 médicos no quadro municipal", "sendo que 692 realizam plantões com frequência".
"Quando proibirem esse enfermeiro, lógico que vai ter impacto, porque não tem médico suficiente e os plantões muitos médicos não querem fazer", declarou o secretário.
Emenda 95- Em meio à tudo, no entanto, o Congresso aprovou parte do pacote de medidas econômicas do governo federal, entre elas a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 55. Sancionada, culminou na Emenda Constitucional 95, que estabelece um teto de gastos de 20 anos para quase todas as áreas sob responsabilidade do Estado.
A LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) 2018, enviada pelo governo Temer ao Congresso, ainda não foi aprovada. Pela regra atual, no entanto, as despesas mínimas com saúde e educação são equivalentes a seu piso em 2017, corrigido pela inflação acumulada em 12 meses até junho.
Um estudo divulgado pelo Conselho Nacional de Saúde discutiu os efeitos da PEC na Saúde.
Elaborado pela Assessora Política do INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e Diretora do CEBES (Centro Brasileiro de Estudos em Saúde), Grazielle David, o estudo demonstrou preocupação.
"Em 2017, o valor aplicado em saúde será maior do que o valor anteriormente previsto de forma escalonada pela PEC 86/2015. Porém, como a RCL [Receita Corrente Líquida] em 2017 ainda estará baixa, o congelamento da PEC 55 será feito sobre um dos valores mais baixos aplicados em saúde nos últimos anos", afirma.
"Em si, isso já representa imensa perda para a saúde. Além disso, a saúde sofre de subfinanciamento crônico, o que resulta em estrutura inferior às necessidades da sociedade brasileira. Congelar por 20 Anos os gastos, implicará em nunca sair dessa situação", argumenta.

Nota do Enem é aceita para ingresso em 27 universidades de Portugal


Sabrina Craide, da Agência Brasil

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) fechou recentemente um convênio com o Instituto Politécnico da Maia (Ipmai), de Portugal, para que estudantes brasileiros possam usar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como critério de ingresso na instituição. Com isso, já são 27 as instituições de ensino superior portuguesas que aceitam o Enem.
As instituições portuguesas que usam o exame podem definir qual será a nota de corte para o acesso dos estudantes brasileiros aos cursos ofertados. A revalidação de diplomas e o exercício profissional no Brasil dos estudantes que cursarem o ensino superior em Portugal estão sujeitos à legislação brasileira aplicável à matéria.
O primeiro convênio interinstitucional foi firmado em 2014, com a Universidade de Coimbra. Os convênios não envolvem transferência de recursos e não preveem financiamento estudantil por parte do governo brasileiro.
O Inep já tem 27 convênios com as seguintes instituições portuguesas:
Universidade de Coimbra
Universidade de Algarve
Instituto Politécnico de Leiria
Instituto Politécnico de Beja
Instituto Politécnico do Porto
Instituto Politécnico de Portalegre
Instituto Politécnico do Cávado e do Ave
Instituto Politécnico de Coimbra
Universidade de Aveiro
Instituto Politécnico de Guarda
Universidade de Lisboa
Universidade do Porto
Universidade da Madeira
Instituto Politécnico de Viseu
Instituto Politécnico de Santarém
Universidade dos Açores
Universidade da Beira Interior
Universidade do Minho
Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Instituto Politécnico de Setúbal
Instituto Politécnico de Bragança
Instituto Politécnico de Castelo Branco
Universidade Lusófona do Porto
Universidade Portucalense
Instituto Universitário da Maia (Ismai)
Instituto Politécnico da Maia (Ipmai)

Placa em frente à Câmara dos Deputados é alterada para 'formação de quadrilha'

BRASÍLIA - Na véspera da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), uma placa de sinalização de trânsito em frente à Câmara dos Deputados amanheceu nesta segunda-feira, 16, coberta com um adesivo com os dizeres "Formação de quadrilha. Corrupção Ativa. O grande acordo nacional". 

Placa de sinalização de trânsito em frente a Câmara dos Deputados é alterada para
Placa de sinalização em frente ao Congresso Nacional Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

O autor, desconhecido, teve o cuidado de usar a mesma tipologia e o padrão da cor de fundo das placas de sinalização normalmente utilizados em Brasília. 

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A construção da identidade sexual

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Várias facetas podem ser observadas para o que se denomine identidade sexual.
Alguma confusões surgem ao se utilizar indistintamente palavras misturando significados. Muitas vezes podemos ouvir a frase “identidade sexual” querendo referir-se a objeto do desejo sexual, geralmente querendo distinguir heterossexualidade da homossexualidade ou da bissexualidade. Esta é uma postura leiga que não inclui outras possibilidades de escolhas sexuais, a exemplo de objetos propriamente ditas, excluindo-os dos discursos, como se o fossem fazer da vida das pessoas.
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Algumas definições valem nestas distinções:
  • A frase papel de gênero apareceu a primeira vez na literatura em 1955, utilizada por John Money. Em 1966 surge a frase identidade de gênero. Money (1993) apresenta a idéia de que sexo é o componente orgânico/genético (masculino, feminino e intersexo) e gênero (masculino, feminino e andrógino) como o que nos tornamos socialmente.
  • Identidade de gênero é o sentir-se masculino ou feminino de forma convicta e convincente, e assim se identificar para si mesmo e para os outros, utilizando-se dos meios sociais e do curso do pensamento individual.
  • O papel de gênero (Money, 1993) diz respeito aos estereótipo social do ser homem ou do ser mulher.
Alguns questionamentos merecem atenção:
  • Identidade
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Uma vez que a identidade seja reconhecida numa relação ela é assumida como produto e não como produção, e para se manter assim, se faz necessária a re-atualização através de rituais sociais, reposição como algo já dado, retirando em conseqüência, o caráter de historicidade, aproximando-a da noção de mito que prescreve condutas corretas, reproduzindo o social. A reposição da identidade deixa de ser vista como sucessão temporal passando a ser vista como simples manifestação de um ser idêntico a si-mesmo em permanência e estabilidade (Ciampa, 1985, pag. 66-7). A mesmice de mim é pressuposta como dada permanentemente, e não como re-posição de uma identidade que uma vez foi posta (Ciampa, 1985, pag. 67). As atividades de indivíduos identificados são normatizadas tendo em vista manter a estrutura social, vale dizer, conserva a identidade produzida, paralisando o processo de identificação pela re-posição de identidades pressupostas, que um dia foram postas. A identidade é a representação do estar sendo, onde o ser o que se está sendo é uma parcela da humanidade que nega o que se é sem se estar sendo, a humanidade total. “A identidade, que surge como representação do meu estar-sendo, se converte num pressuposto de meu ser (como totalidade), o que formalmente, transforma minha identidade concreta (entendida como um dar-se numa sucessão temporal) em identidade abstrata, num dado atemporal-sempre presente (entendida como identidade pressuposta re-posta)”. “Desta forma eu me represento a outrém, não sendo minha totalidade nem me mostrando ‘sendo’; representação:
  1. eu me represento enquanto estou sendo o representante de mim (com uma identidade pressuposta e dada fantasmagoricamente como sempre idêntica);
  2. eu represento, em conseqüência, enquanto desempenho papéis (decorrentes de minhas posições) ocultando outras partes de mim não contidas na minha identidade pressuposta e re-posta (caso contrário eu não sou o representante de mim);
  3. eu represento, finalmente, enquanto reponho no presente o que tenho sido, enquanto reitero a apresentação de mim – re-apresentado como o que estou sendo – dado o caráter formalmente atemporal atribuído à minha identidade pressuposta que está sendo reposta, encobrindo o verdadeiro de minha identidade (como uma sucessão do que estou sendo, como devir).” (Ciampa, 1985, pag. 69).
  • O Gênero
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Nas culturas ocidentais, o gênero (tanto o feminino quanto o masculino) não apresenta alternativas outras que não seja a pertença a um dos dois gêneros (masculino ou feminino). Esta padronização iniciada desde antes do nascimento pode trazer conflitos ao adolescente. A escolha prévia do nome da criança, por parte dos pais, já prenuncia os desejos dos pais em, ter um filho ou uma filha. Na frustração dos pais, ao nascer uma criança do sexo oposto, conflitos se instalam na criança muito cedo na infância, pois passam a haver cobranças ambivalentes que não confirmam (e antes, desconfirmam) o gênero ligado ao fenótipo genital).
John Money (1992) apresenta a idéia de que pode haver uma terceira alternativa para os gêneros masculino e feminino: a androginia. Nesta condição a pessoa não se encontra em situação conflitante, antes, encontra nesta condição de identidade a união dos gêneros tradicionais e desenvolve qualidades de ambos os gêneros (“sexos”).
A androginia já havia sido precognizada como uma saída de desenvolvimento de identidade. Bem (1974, 1975) cunhou a frase “androginia psicológica” significando a possibilidade de uma pessoa assimilar qualidades e capacidades do gênero oposto, o que vem a facilitar o desenvolvimento e sucesso social, segundo aquela pesquisadora mesmo pode confirmar com as pesquisas posteriores. A psicóloga americana considera este papel sócio-sexual andrógino podendo ser uma forma de maior saúde psicológica.
A posição andrógina do adolescente pode ser uma forma de experimentar ambas possibilidades de identidade genérica, antes de solucionar o conflito que se lhe apresenta nesta fase da vida (Rodrigues Jr., 1991).
Devemos, enfaticamente, no entanto, distinguir a identidade andrógina da escolha objetal bissexual. Um adolescente que esteja desenvolvendo uma forma de identidade andrógina não tem que ter escolha objetal homossexual, mas pode ser encarado socialmente assim, o que o conduz à busca de uma identidade convencional através da escolha objetal heterossexual .
A identidade ou papel de gênero é singular e não plural, mas também é bi-dimensional, tal qual uma moeda e seus dois lados. Gênero engloba sexo e eroticismo (Money, 1985).
  • A identidade de gênero
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Money (1992) afirma um primeiro passo na diferenciação de identidade de gênero: questões genéticas e hormonais em especial agindo sobre o hipotálamo. Nestas situações, outras condições psiquiátricas devem se associar, mostrando-se ao longo da infância e adolescência. Situações orgânicas mostravam-se mais evidentes (ao menos por análise e mapeamentos genéticos): hermafroditismos e intersexualidades.
Money refere que a identidade de gênero é muito mais que o sexo que inclui, muito mais do que apenas o fenótipo ou o critério da genitália externa. A identidade de gênero engloba o status de homem ou mulher, masculino ou feminino (ou misto) no critério de premissas múltiplas pessoais, sociais e legais, incluindo a orientação sexuoerótica (Money, 1985).
Embora as atribuições físicas sempre tenham sido usadas para corroborar a identidade de mulher ou de homem, na década de 70, médicos iniciam o discurso que as diferenciações musculares e de distribuição de gordura, esqueleto e cabelos não estão por completo sob domínio genético (Andrade, 1970). A forma física e mesmo as funções não são masculinas ou femininas apenas por ter uma pessoa nascido homem ou mulher.
Na década de 70, autores, a exemplo de Hampson (1970) iniciam o discurso de que “o papel genérico do sexo psicológico” parece ser aprendido, ou seja diferenciado por meio de aprendizagem durante o crescimento do indivíduo. O ser humano nasceria neutro no que respeitaria ao conceito de identidade de gênero, no que apontava a diferenciação de postulados psicanalíticos de uma bissexualidade psicológica constitucional inata.
Devemos aqui, distinguir a identidade de gênero, enquanto “identidade sexual”, dos papéis sexuais, que compreendem parte dos papéis sociais. Devemos entender que a identidade de gênero não apenas compreende os papéis sexuais, como tende a defini-los através da modelagem social. Identidade de gênero tem sido caracterizada enquanto elaboração cultural (Money, 1985) de aparência pessoal (Bem, 1989, segundo Marante, 1994).
Guimarães (1995) refere a identidade pessoal como o processo-base da identidade sexual.
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Nas pessoas integradas com seu sexo genital, estes são fonte direta das sensações e confirmação de seu gênero; pênis e escroto são provas diretas da masculinidade e identidade masculina para os homens.
  • Os papéis sexuais
Telford e Sawrey (1977) definem o papel como modos de agir, socialmente prescritos, em determinadas situações. Os papéis seriam definidos culturalmente e dependem de crenças e expectativas partilhadas pelo indivíduo e pelos outros.
Para Telford e Sawrey (1977), os papéis sexuais são ditados pela sociedade e definem-se em termos de roupas, atitudes, interesses, fala e ocupações. Telford e Sawrey descrevem as características dos papéis em decorrência do sexo (masculino/feminino):
“o menino é mais ativo, agressivo, barulhento e sujo; joga futebol e pode tornar-se engenheiro. Mais sossegada, submissa, asseada, a menina brinca de casinha, costura para as bonecas, gosta de música e prefere roupas cor-de-rosa a roupas azuis.” “… a tipificação dos homens é mais rígida que a das mulheres.” (Telford e Sawrey, 1977, pag. 487)
As normas culturais formatam os papéis sexuais baseados no sexo biológico (Ruch, 1984; Satten, Savells e Murray, 1984).
Como parte do papel sexual, a escolha de objeto para relacionamento sexual se torna muito freqüente e considerada parte deste mesmo papel. Parker (1994), considerando a heterossexualidade e a homossexualidade como construções sociais, apontam como estas classificações passaram a ser mais comuns com o surgimento da AIDS, embora menos significativas que as classificações de “atividade” e “passividade”, papéis dentro do ato sexual e manifestações diferentes da masculinidade e feminilidade. As características dos papéis sexuais são construídas através de certa fluidez e de acordo com os diferentes grupos e subgrupos sexo-sociais no Brasil. Parker, advindo de contexto cultural diferente de seu objeto de estudo, neste mergulhado, passa a apontar as formações dos papéis sexuais de modo diferente do que é definido, demonstrando as diferenças oficiosas decorrentes de diferenças sociais e das construções sociais destes diferentes grupos.
Astrachan (1989, pag. 344) traz um exemplo interessante sobre um homem que tem problemas de ereção por não poder dizer “não” quando não queria fazer sexo, mas que, seguindo conselhos de amigos aceitou convites sexuais de mulheres interessadas nele. Ao tentar seguir os padrões exigidos socialmente para o seu papel masculino, o homem citado não percebia suas emoções. Para ser homem, para se mostrar homem, e para se sentir homem, o exemplo de Astrachan deixava seus próprios sentimentos de lado. O padrão de masculinidade, o papel sexual exigido socialmente do homem o faz colocar de lado a si mesmo. Astrachan associa estas questões às questões de poder no contexto social ligado às formas homem e mulher.
Assim encontramos as primeiras referências à identidade masculina, através do papel sexual prescrito socialmente ao homem e de modo mais rígido do que o que ocorre com as mulheres.
Parker (1989) aponta para a construção social dos papéis masculinos e femininos na sociedade brasileira baseados numa sociedade profundamente patriarcal herdada da colonização portuguesa. De Souza e Hutz (1995) concordam e se referem ao reforço de sistemas de interdição religiosa (por exemplo, o sexo significando procriação) e localização de poder (por exemplo o homem tendo poder sobre a mulher). De Souza (1992) afirma que o homem e a mulher são expostos e reforçados pelos scripts sexuais tradicionais e que são imersos numa estrutura social-econômica e política que contribuem para a sensação de perda de controle ao terem que se adaptar à ordem social em mudança.
Os papéis sexuais tem sido muito usados nas discussões relacionadas a travestismo, homossexualidade e transexualidade. Embora possa ser parte da discussão, os papéis sexuais são contexto secundário para determinação daquelas condições.
Em publicação mais tardia, seu sétimo livro sobre o assunto, Stoller (1993) apresenta cinco fontes das quais resulta a identidade de gênero nuclear:
  1. uma ‘força’ biológica: originado-se na vida fetal e comumente genética em sua origem, esse efeito – tanto quanto se sabe – emerge da organização neurofisiológica (sistema nervoso central) do cérebro fetal;
  2. A designação do sexo no nascimento: a mensagem que a aparência dos genitais externos do bebê leva àqueles que podem designar o sexo – o médico que está atendendo e os pais – e os efeitos inequívocos subseqüentes desta designação para convencê-los do sexo da criança;
  3. A influência incessante das atitudes dos pais, especialmente das mães, sobre o sexo daquele bebê, e a interpretação destas percepções por parte do bebê – pela sua capacidade crescente de fantasiar – como acontecimentos, isto é, experiências motivadas, significativas;
  4. Fenômenos ‘biopsíquicos’: efeitos pós-natais precoces causados por padrões habituais de manejo do bebê – condicionamento, ‘imprinting’ ou outras formas de aprendizagem que, nós imaginamos, modificam permanentemente o cérebro do bebê e o comportamento resultante, sem que os processos mentais do bebê o protejam deste ‘input’ sensorial. Esta categoria está relacionada com o ítem 3; ela é listada separadamente por uma questão de ênfase, e para distingui-la dos processos mentais (também resultado das influências dos pais) com os quais nós estamos mais familiarizados, tais como a ansiedade de castração;
  5. o desenvolvimento do ego corporal: a miríade de qualidades e quantidades de sensações, especialmente dos genitais, que definem o físico e ajudam a definir as dimensões psíquicas do sexo da pessoa, confirmando, assim, para o bebê as convicções dos pais a respeito do sexo de seu filho.” (Stoller, 1993, pag 29-30)
É necessário acrescentar a estes ítens de Stoller a questão dos processos de pensamento que se desenvolvem no indivíduo em interação constante e dialética indivíduo-sociedade. Sob influência social, alguns processos de pensamento tornam-se mais comuns, e muitas vezes agem, irracionalmente, contra o próprio indivíduo. A tendência geral de processos de pensamento estereotipados auxilia a manter os padrões de gênero estereotipados e de modo convencional. Os processos de pensamento desenvolvendo-se desde a infância, sedimentam-se com a adolescência, produzindo um adulto acrítico e incapacitado de discutir consigo mesmo alternativas de papel de gênero, confundindo-o com a identidade central.
A identidade de gênero é autorrevelada aos outros através de palavras e comportamento, e é publicamente conhecida e reconhecida. Porém, as outras pessoas sempre sabem menos do que o indivíduo sobre a totalidade do gênero deste, o que as faz construir, em segunda mão, as evidências da identidade de gênero de tal indivíduo, cujas evidências são de acesso apenas dele. O gênero somente pode ser certeza para o indivíduo.
Desde a década de 60, Stoller (1993) refere-se à frase identidade de gênero significando masculinidade e feminilidade encontradas em todas as pessoas em formas e graus diferentes. Assim, ao aplicar esta idéia, afirma que:
“embora a masculinidade combine com a qualidade de ser homem e a feminilidade com a qualidade de ser mulher, sexo e gênero não estão, necessariamente, de maneira direta, relacionados” (pag. 28).
  • desenvolvimento da identidade de gênero
Chodorow (1978) sugeriu que o desenvolvimento da identidade de gênero em homens e mulheres deve ser diferente nos estágios mais tenros da vida da pessoa. A diferença adviria na interação da criança com os pais, especialmente com a mãe. A identidade de gênero masculino, segundo Chodorow, adviria da experiência da mãe em diferenciar-se, em perceber-se diferente do menino-filho, e como a mãe o afasta fisicamente mais do que o faria com a menina. Este afastamento provocaria a identificação com o pai distante e a perda da empatia com a mãe.
A consciência de sexo, do gênero, da identidade e dos papéis sexuais parece estar formada aos 3 anos de idade. Belotti (1973) apontava que crianças até três anos de idade de ambos os sexos comportam-se de maneira idêntica, brincando com os mesmo brinquedos e da mesma maneira. A formação desta identidade genérica pode ser observada por estudos de diferenciação de tratamento, pela mãe, para meninos e meninas (Lézine, 1965).
Kholberg considera a identidade sexual como produto do desenvolvimento cognitivo. A identidade de gênero, a classificação cognitiva de si mesmo como menino ou menina, é considerada por Kholberg (1966; Kohlberg e Ullian, 1974) como a categoria básica, o fator organizador central das atitudes relativas ao papel sexual. Para que estas atitudes ocorram, a criança deve se reconhecer como menino ou menina, tendo que se sentir seguro da invariabilidade deste conceito, a criança tem que construir o que Kholberg chama de constância de identidade de gênero.
Retomando o trabalho de Piaget, o desenvolvimento das constâncias conceituais foi analisadas por Carmen Pierres (1994) em termos de conservação das propriedades dos objetos físicos através das mudanças aparentes. Piaget demonstrou que as crianças não constróem as noções de conservação até a idade aproximada de 6 ou 7 anos. Da mesma maneira, Kholberg considera que a identidade de gênero não chegará a constituir-se como uma categoria lógica, firme, até que a criança alcance o período de operações concretas e com ele a conservação.
A identidade de gênero se constrói nos primeiros 7 anos de vida e se inicia com a aprendizagem verbal dos qualitativos “menino” e “menina”, mesmo que as crianças já se apliquem corretamente estes conceitos ao final do segundo ano de vida. Nos 2 ou 3 anos seguintes, as crianças tendem a aprender também a reconhecer nos outros o gênero, baseando-se em um conjunto de critérios não totalmente definidos, o que conseguem fazer com resultados parcialmente corretos.
Nos 4 ou 5 anos, as crianças são igualmente capazes de generalizar corretamente a denominação do gênero a bonecas (com esta idade as crianças tendem a conhecer o grupo genérico pelos critérios físicos gerais como o vestir-se ou o estilo do cabelo). Aqui elas tem certa consciência de que o gênero não pode mudar, mas não será até os 6 ou 7 anos que a maioria das crianças estarão seguros de si mesmos de que o conceito da identidade sexual é irreversível, que um menino será sempre um menino e que uma menina será sempre uma menina, independentemente das mudanças na aparência ou comportamento. Segundo Kholberg, entre os 4 e 7 anos, o conhecimento das diferenças genitais não conduzem diretamente a usá-las como critério básico de classificação sexual. Isto contrasta com a definição adulta de identidade sexual, a qual se centra nas diferenças genitais. Na criança a importância dos genitais crescerá , primeiro ao dar-se conta de que é a base de classificação dos sexos (6 ou 7 anos), posteriormente quando desenvolve uma idéia definida do ato sexual.
As mudanças no desenvolvimento cognitivo relacionados com a identidade de gênero, refletiram nas mudanças em atitudes e valores relacionados a outros aspectos do desenvolvimento psicossexual, entre eles estão os atributos que classificam as crianças com os estereótipos masculinos e femininos.
Igualmente ao conceito de identidade de gênero, os conceitos referentes a estereótipos familiares masculinos e femininos desenvolvem-se paralelamente. Estes estereótipos aparecem com cerca de 6 a 7 anos e apresentam elementos universais.
Os estereótipos masculino e feminino, de acordo com Kholberg, não se aprendem por transmissão direta de padrões específicos de um grupo familiar, mas são criados pela criança mediante interpretação ativa de uma ordem social que faz uso de categorias sexuais segundo conotações culturalmente universais. Estes correspondem a uma conquista comum a todas as crianças de um grupo etário, independentemente de diferenças familiares, sociais, culturais, econômicas ou ideológicas, e mais, com ou sem a presença de modelos paternos e maternos.
A construção dos estereótipos masculino e feminino deriva principalmente de duas situações específicas: as diferenças enquanto estrutura corporal do homem e da mulher e as diferenças designadas pela sociedade aos papéis extra familiares do homem e da mulher (a exemplo de designar aos homens os papéis de maior força e poder).
Se aos 6 ou 7 anos o conceito físico dos estereótipos sexuais se concluíram, o passo seguinte no desenvolvimento cognitivo é a determinação dos estereótipos em termos de lugar que ocupam na sociedade. Neste nível as crianças enfocam as diferenças em termos de papéis sexuais definidos pelas ocupações sociais típicas atribuídas a cada sexo. Neste caso, os homens e mulheres são vistos como sujeitos que cumprem um papel particular dentro de um sistema social mais amplo. No último nível, as características do estereótipo são escolhidas num nível pessoal, baseada numa concepção individual. Esta seleção não corresponde necessariamente a um estereótipo social determinado e está baseada na necessidade de reciprocidade e igualdade dos indivíduos dentro do contexto das interrelações sexuais.
A aprendizagem cognitiva dos conceitos relativos ao papel sexual e aos estereótipos básicos, leva a desenvolver os valores masculinos e feminino. Este processo, igualmente aos anteriores, é produto de uma construção cognitiva da criança, onde, nem as pressões sociais, nem o ensinamento direto tornam-se primordiais.
  • Os caminhos futuros…
O ambiente social tem exercido (sempre o fez, deixe-se claro) uma função direcionadora sobre o papel de gênero e as identidades sexuais (ou não) das pessoas. A mídia escrita, falada e televisiva tem reproduzido os estereótipos concedendo-lhes foros realidade natural. Faz-se necessário afirmar veementemente que a identidade sexual e de gênero são criações sociais que são desempenhadas pelas pessoas de modo como se fossem naturais, não o sendo ou podendo ser mudadas por meios cognitivos, a exemplo da mídia. A determinação social, no entanto, pode ser limitada através dos mecanismos individuais dos processos de pensamento. A auto-identidade deve ser o objetivo para as pessoas desde a adolescência, quando o processo é facilitado e permite uma vida mais longa pela autodeterminação. De outra forma, alguns adultos poderão promover-se em suas identidades mais tarde, geralmente através de uma situação vivenciada como uma “crise de identidade”, refazendo o passo adolescente que culminara numa identidade convencional, não questionada, sendo apenas mais um na multidão…
Nos últimos anos a questão com comportamento de macho e os aspectos negativos tem aparecido mais freqüentemente na mídia. Livros passaram a ser escritos e mesmo nas revistas leigas o assunto identidade masculina tem sido apresentado e debatido. O papel mais assertivo da mulher tem sido exaltado desde a década de 70 no Brasil através das revistas femininas e do movimento feminista. A mídia somente produz influências quando da socialização secundária, pois não tem presença direta sobre os primeiros anos de uma pessoa, somente através dos pais desta criança.
A mídia, no entanto, não exerce papel predominante, engana-se quem assim o pensa!
Os pais são outra fonte muito importante em se considerar no que respeita a formação da identidade sexual dos filhos. Sendo modelos para os filhos, pais e mães são as primeiras referências que aqueles tem para desenvolverem as identidades e papéis sexuais. Através de mecanismos infantis facilmente percebidos pelos pais, a criança imita para desenvolver-se. Imita aos pais para serem adultos. Mas a função dos pais na formação da identidade sexual dos filhos também é restrita, embora mais fundamental que o papel da mídia. Os pais, sendo os meios sociais de formação da pessoa nos primeiros anos de vida, oferecem as direções para onde as crianças se dirigirão em termos de identificarem-se em seu gênero e os estereótipos sexuais, fornecendo os guias para os papéis sócios-sexuais. Mas enganam-se os pais que se consideram culpados ou extremamente responsáveis sobre como será a identidade dos filhos. Talvez até sejam mais responsáveis pela identificação que demonstram durante a infância, mas deve haver um outro e terceiro aspecto a ser considerado que é mais determinante que estes dois primeiros.
Desde o início da vida fazemos escolhas. Nem sempre nossas escolhas são racionais, nos direcionam para um esenvolvimento e estão de acordo com projetos de vida. Para uma criança, um projeto de vida é algo longínquo e fantasioso de modo impossível. Pouca racionalidade pode haver nas escolhas de uma criança, até se tornar adolescente! Mesmo assim a criança faz escolhas. Em interação com o ambiente as escolhas vão sendo feitas desde o nascimento e se cristalizando, repetindo-se transformam-se em hábitos, vícios, preferências e gostos. Nos primeiros sete anos de vida concretiza-se a identidade de gênero. Os papéis sexuais vão sendo treinados até o final da adolescência quando pode permitir uma opção, mesmo que não voluntária. Os conflitos, as forças contrárias vão produzindo saídas e concretizando formas e maneiras de ser que são partes de uma identidade geral que se forma. O indivíduo se esforça em reproduzir-se para perceber-se igual e, convencido, busca convencer aos outros de como é em termos de sexualidade e de objetos de prazer. A pessoa tem dentro de si o aspecto mais importante na formação da identidade sexual: o pensamento e como ele produz (e reproduz) o ser de uma maneira ou outra. Ao pensar predetermina como será, vindo a ser concretamente pelo pensamento.
Faz-se necessário perceber que existe uma identidade central independente dos vários papéis (ou identidades) que vivencia e assume uma pessoa. É este cerne que permite à pessoa superar formas anacrônicas ao correr da vida, ou perceber-se capaz de mudar os rumos de sua vida através de planos e projetos que desenha para a própria vida futura. Aqui nos deparamos com a possibilidade da androginia psicológica anteriormente apresentada. Ao deparar-se com os problemas insolúveis ou muito dispendiosos de serem solucionados pelos meios transmitidos culturalmente, a pessoa muda alguns ítens de seus papéis e assume formas emocionais que independem do gênero e do papel de gênero aprendido. Ao desenvolver novas características de expressão e interação com o mundo a pessoa (a partir da adolescência até o final da vida) deixa a fase convencional de ser podendo encontrar uma identidade pós-convencional, adequada com uma sociedade pós-moderna que necessita de novas formas de comunicação.