sexta-feira, 22 de julho de 2016

Bloqueio de bens ‘enterra de vez’ André Puccinelli na Lama Asfáltica

Ex-governador teria recebido propinas de empresário para comprar livros de exclusividade da Gráfica Alvorada


Com o bloqueio total de bens, busca e apreensão em sua residência e diversas denúncias de irregularidades em contratos realizados durante a sua gestão, o ex-governador André Puccinelli (PMDB) não pode mais negar que é o novo alvo da Operação Lama Asfáltica, conduzida pela Polícia Federal.

Sempre muito cauteloso, o peemedebista pouco entregou ‘o jogo’ durante as ligações interceptadas pelos investigadores. No máximo, revelou um possível recebimento da empresa Gráfica Jafar Ltda, também conhecida pelo nome fantasia Gráfica Alvorada. A referência ter um ‘bom alvorecer’ não passou despercebida.

Mas conforme a Polícia Federal se aprofundava nas investigações, todos os caminhos voltavam a apontar para o grande chefe de Mato Grosso do Sul. Assim o italiano foi flagrado em reunião ‘secreta’ no fim do mandato com o empresário João Alberto Krampe Amorim e também passeando no famoso avião ‘Cheio de Charme’.

O acúmulo de indícios de irregularidades culminou em ‘batida’ da PF, que cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Puccinelli, em 10 de maio deste ano, e recolheu diversos documentos. Na ocasião, o ex-governador se apresentou voluntariamente para prestar esclarecimentos e até manteve o bom humor, dizendo que foi surpreendido em ‘roupas íntimas’.

Com o surgimento de novas provas, o MPF (Ministério Público Federal) conseguiu obter judicialmente o bloqueio de bens do peemedebista em ação que investiga desvio de recursos públicos na contratação da Gráfica Alvorada. A empresa recebeu R$ 13 milhões em aditivo realizado no dia 31 de dezembro de 2014, último dia de gestão do governo de Puccinelli.

Propinas
Áudios captados pela PF apontam que tanto o italiano quanto o ex-secretário-adjunto de fazenda, André Luiz Cance, e o proprietário da Proteco Construções Ltda, João Amorim, teriam recebido propinas do proprietário da Gráfica Alvorada, Mirched Jafar Junior, mais conhecido apenas como Junior, que também teve os bens bloqueados nesta quarta-feira (20).

Foto: Deivid Correia/Arquivo

Em ligação telefônica, realizada em 17 de dezembro de 2014, Cance pede que João Amorim empreste o “cheio de charme”, codinome para a aeronave do empresário, para que Junior viaje a Brasília, e destaca que o dono da gráfica seria o único disposto a cumprir o acordo, possivelmente o pagamento de propinas.

Em resposta, João Amorim garante que irá emprestar o avião desde que ele se responsabilize pelo combustível e ainda fala em “calote” dos demais envolvidos. Cance explica que ainda é possível receber o benefício, possivelmente a propina, mas não sabe se ela vai chegar até o dono da Proteco.

Boa Alvorada
Nas investigações, Cance é apontado como braço direito do ex-governador André Puccinelli e intermediário no recebimento de propinas. Em ligação interceptada pela Polícia Federal no dia 22 de dezembro de 2014, o peemedebista convoca uma reunião com o então secretário-adjunto para que “tenha uma boa alvorada”.

Segundo o MPF, Cance ligou para Junior, da Gráfica Alvorada, minutos depois e marcou um encontro para recebimento do dinheiro. Já no dia 26 de dezembro, Puccinelli cobrou os “documentos” da gráfica, que havia acabo de receber um reajuste milionário, para fazer a prestação de contas.

Uma quarta pessoa ainda não revelada também poderia estar envolvida, sendo que ela receberia parte do valor entregue ao ex-governador. O MPF considera que essa informação fica subentendida em conversa entre Cance e João Amorim, interceptada em 29 de dezembro de 2014.

O órgão de fiscalização também garante que Puccinelli tinha conhecimento da estrutura da organização e do seu modus operandi, contribuindo com as atividades ilícitas a partir do cargo que ocupava, inclusive intermediando pessoalmente a prorrogação de contratos que foram fraudados na origem e na execução.

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