Há quem queira a substituição do pároco e integrantes da comunidade que suspeitam de gastos; Dom Dimas fala em ‘chantagem’
Anahi Zurutuza e Fernanda Mathias
A suposta frieza do pároco da Catedral Santo Antônio na relação com seus fiéis, além da suspeita sobre como o dinheiro da paróquia está sendo gasto, colocaram membros da comunidade 'em pé de guerra' com a Arquidiocese de Campo Grande. Há quem queira a “demissão” do padre, enquanto o arcebispo metropolitano, dom Dimas Lara Barbosa, fala até em chantagem.
Para piorar a confusão, o grupo de 15 pessoas que fez as denúncias não tem apoio de outros integrantes da comunidade.
A reforma para deixar o quarto luxuoso, um carro de R$ 90 mil para uso da paróquia, roupas de grife e aulas de ginástica em uma academia de alto padrão estão entre as condutas incompatíveis ao propósito da batina denunciadas por fiéis ao arcebispo. As suspeitas levantadas sobre o comportamento do padre Odair de Souza Costa, sacerdote há 21 anos, desde 29 de junho de 1995, foram levadas a dom Dimas em maio deste ano.
A ata da reunião, que durou duas horas e meia e foi realizada entre 15 integrantes da comunidade e o chefe local da Igreja Católica, foi registrada no 4º Ofício de Campo Grande no dia 5 deste mês. Conforme consta no documento, que é público, o encontro foi gravado e posteriormente transcrito.
Este é um dos pontos de conflito. Em nota divulgada na tarde de segunda-feira (25), o arcebispo afirma que não autorizou a gravação da reunião entre o grupo e ele.
Queixas - Na conversa, paroquiano identificado na ata como Willian Vogado Riquelme afirmou que o padre “tem um discurso bonito”, mas, que não condiz com o comportamento dele.
Ele contou que o pároco, assim que assumiu, arrumou confusão com o departamento financeiro, pois pedia que fossem entregues a ele cheques em branco. “Ele fez exigências de estrela”, disse.
Para Willian, Odair não entende que “além de ser honesto, um padre tem de parecer honesto”.
Para Willian, Odair não entende que “além de ser honesto, um padre tem de parecer honesto”.
Os autores das queixas disseram ao arcebispo que a reforma do quarto na casa da paróquia não tem serventia para a Igreja, nem o tal carro de R$ 90 mil, que eles não detalham a marca e modelo.
Um fiel, que pede para não ser identificado, diz que o comportamento ríspido do padre começou a gerar desconfiança da comunidade.
Dom Dimas – Por várias vezes, o arcebispo esclarece situações questionadas durante a reunião. Em resumo, afirma que o padre está em dia com as prestações de contas. “Não me pareceu que havia algo suspeitável”, afirmou aos fiéis, conforme a transcrição na ata.
O bispo diz ainda que esteve na casa paroquial e que a residência não lhe pareceu luxuosa, mas que ele não entrou no quarto do pároco. “Confesso que fiquei um pouco confuso com todas estas declarações”.
Neste momento, a fiel identificada como Raquel Rosato afira que tem a impressão “que passam uma situação maquiada para o senhor”, referindo-se às contas prestadas.
Na nota divulgada ontem, o arcebispo disse que no fim da reunião, o advogado Luiz Fernando Lopes Ortiz pede a substituição do pároco. “Me advertiu dizendo conhecer o Direito Canônico, e que se eu não tomasse nenhuma providência, ele saberia recorrer a instâncias superiores”, explicou dom Dimas.
O bispo afirma que chamou o padre Odair para conversar. Para o arcebispo, a postura de Luiz Fernando soou como ameaça e chantagem.
“Diante de tudo isso, venho publicamente repudiar esse tipo de comportamento, e expressar meu vivo desejo e orações para que a concórdia reine em nossa Igreja. Divergências se resolvem na base do perdão e do diálogo, e não com esse tipo de pressão”, concluiu o arcebispo.
No domingo (24), outro grupo de fiéis também publicou no site da arquidiocese nota de repúdio aos que foram até ao bispo para fazer denúncias contra o pároco.
Viagem – O padre estava na Europa até a semana passada. A última postagem em sua página no Facebook foi na quarta-feira (21). Ele publicou fotos do dia que passou em Assis, na Itália. Na terça-feira (19), ele postou fotos em Roma, no Vaticano, onde participou de celebrações religiosas.
A reportagem tentou contato com o padre Odair, por meio de telefone celular que consta no site da Arquidiocese, mas a ligação chamou até cair.
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