quinta-feira, 23 de abril de 2015

Pagamentos a Palocci aumentaram durante as eleições de 2010

Documentos revelam que os repasses ao ex-ministro da Fazenda, então coordenador da campanha de Dilma Rousseff à Presidência, se intensificaram a partir de agosto daquele ano

THIAGO BRONZATTO E FILIPE COUTINHO

Documentos obtidos por ÉPOCA revelam que os pagamentos suspeitos do Pão de Açúcar à empresa de consultoria do petista Antonio Palocci, em 2010, aumentaram conforme o avanço das eleições. Palocci era coordenador – e arrecadador – da primeira campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República. Foram 11 pagamentos, que somaram R$ 5,5 milhões.
 
Pagamentos feitos pelo escritório de Márcio Thomaz Bastos à Projeto, de Palocci (Foto: Reprodução)
Conforme revelou ÉPOCA em sua última edição, há evidências fortes de que Palocci não prestou qualquer serviço ao Pão de Açúcar – de que a consultoria foi de fachada. O pagamento de R$ 5,5 milhões, faturado em nove notas fiscais (confira as notas ao fim desta reportagem), feito pelo Pão de Açúcar, então comandado pelo empresário Abilio Diniz, foi camuflado pelo escritório do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, morto em novembro de 2014. Com um histórico de serviços prestados ao PT e ao próprio Palocci, Thomaz Bastos disse em documento obtido por ÉPOCA que subcontratou o ex-ministro da Fazenda para auxiliá-lo na fusão do Pão de Açúcar com as Casas Bahia.
 
Advogados de Palocci afirmam que a Projeto foi contratada para auxiliar na operação de fusão entre o Pão de Açúcar e a Casas Bahia  (Foto: Reprodução)
O milionário acordo entre Thomaz Bastos e o Pão de Açúcar foi feito no fio do bigode, sem registro no bom e velho papel. Em correspondência oficial interna do Pão de Açúcar obtida por ÉPOCA e que será analisada pela auditoria interna do grupo, o então diretor jurídico do grupo, Ednus Ascari, justificou que “em função da relação de confiança desenvolvida” é comum que os “serviços de assessoria jurídica sejam contratados de modo mais informal”. (Confira fac-símile abaixo).
 
Pão de Açúcar responde o MPF, atestando contrato de boca com o escritório de Márcio Thomaz Bastos e reconhecimento de que o grupo tinha ciência da subcontratação de Palocci (Foto: Reprodução)
No entanto, advogados e banqueiros que participaram dessa operação nunca viram Palocci, nem souberam da sua participação no negócio. A consultoria Estáter, contratada formalmente para ser assessora exclusiva da criação da maior rede de varejo do país, afirmou, em ofício, que não tinha conhecimento de qualquer atividade de Palocci ou mesmo de Márcio Thomaz Bastos na transação.

Em carta enviada hoje a amigos, o ex-ministro Antonio Palocci tentou justificar os pagamentos à sua consultoria quando era coordenador de campanha da presidente Dilma Rousseff, em 2010. Sobre o maior contrato, no valor de R$ 5,5 milhões, com o Grupo Pão de Açúcar, Palocci voltou a afirmar que “foram prestados serviços técnicos de acompanhamento da aquisição de Casas Bahia, pelo acima nominado conglomerado varejista, trabalho este executado em parceria com o Escritório de Advocacia Márcio Thomaz Bastos''.

Diante da revelação de ÉPOCA, no último fim de semana, o grupo Pão de Açúcar foi prudente. Decidiu por uma auditoria interna para esclarecer sobre "a suposta existência e a origem dos pagamentos realizados; caso se verifique que ocorreram, os serviços que a eles corresponderam, e a cadeia de aprovações de tais pagamentos".
As consultorias suspeitas de Palocci serão analisadas com lupa pelos investigadores da Lava Jato – que devem quebrar o sigilo da empresa do ex-ministro, a Projeto. A força-tarefa em Curitiba irá analisar se Palocci de fato pediu R$ 2 milhões por intermédio de Alberto Youssef para a campanha de Dilma em 2010, conforme a delação feita por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal.  Em Brasília, o petista ainda responde a um processo sigiloso na Procuradoria da República no Distrito Federal por suspeita de improbidade administrativa.
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