sábado, 25 de abril de 2015

POR QUE O PROFESSOR GANHA POUCO NO BRASIL?

Por Bruno Coriolano de Almeida Costa.


Depois desse texto, você será capaz de me odiar, pois acredito que não seria capaz de ler o mesmo sem a ajuda que obteve de algum professor um dia. Essa luta pela educação não é só de uma área, mas de uma nação.
Para começar a responder a essa pergunta, precisamos entender quem é o zelador da educação nesse país. No Brasil, o governo deveria ser o grande responsável pela manutenção da coisa publica. Bobagem, aqui está tudo entregue a um bando de sanguessugas. Não existe visão e os investimentos mais servem para cobrir rombos, gastos desnecessários e roubos do que para o que julgamos ser correto: o investimento em um país melhor.

Voltando a pergunta que serve também como título desse texto, tenho dito ao longo da minha vida que educação será sempre aquele setor usado para eleger alguns em época de campanha. Não haverá mudança se dependermos de políticos que não passaram pelas mazelas do nosso povo.



Comecemos pela visão que nossos governantes têm a respeito da palavra investimento. Quase 100% deles acreditam que dá dinheiro para a área do petróleo é investir, mas para a educação é gasto. Começo a acreditar que votar também deveria ser considerado gasto, pois gastasse muito para ter um pleito.

Acreditem, já foi bem pior. Antigamente, mas nem tão antigamente assim, os filhos de agricultores só tinham pela frente uma perspectiva: serem agricultores como os pais. 

Com o passar do tempo, surgiram aqueles que queriam “ensinar outras coisas”, mas não havia regulamentação nem preparo para tanto. O ensino era bem precário mesmo.

O tempo mudou, as necessidades mudaram, mas a educação ficou estagnada nessa visão, mesmo depois dos professores passaram a se preparar mais e melhor a coisa continua ruim.

Por que um professor ganha tão pouco no Brasil? Resposta simples: não são bem vistos pelo governo, pois “ensinar” a pensar criticamente pode ser uma arma muito perigosa nas urnas. Algo extremamente destruidor.


Como proposta, acredito que tornar a escola cada vez mais publica, obrigando os filhos e netos de políticos a cursarem as aulas como alunos regularmente matriculados, pode não só mostrar coerência, como também forçar o investimento nesse setor, pois qual político vai querer ver seu filho ou neto sem nenhuma perspectiva de vida como o resto de nós?
Fico triste quando imagino que pessoas como Paulo Freire, que deixaram um vasto legado para a educação, teriam que viver com um salario mínimo de professor em um país tão rico como esse nosso.

Se você perguntar para qualquer aluno do Ensino Médio ou Fundamental o que ele quer ser quando crescer, muito provavelmente não ouvirá PROFESSOR como resposta. Até mesmo se fizer a mesma pergunta para estudantes universitários de licenciaturas, ouvirá a mesma resposta. Mas a que se deve tamanha falta de interesse por essa profissão. Bem, todos têm suas razões; seus motivos. Claro que respeitamos, mas primeiramente temos que pensar que hoje em dia, nós temos mais acesso às informações mais rapidamente. Certamente, não precisamos de professores o tempo todo.

Hoje não precisamos do professor da mesma forma que precisávamos anos atrás. A maior prova disso é que se quisermos aprender uma língua estrangeira, podemos fazer isso apenas com um pouco de motivação e fazendo uso da internet. Existem inúmeros sites especializados em aprendizagem de línguas. Indo mais adiante, hoje temos até cursos de graduação e pós-graduação a distancia. Deixemos de lado a qualidade desses e passemos ao foco do tópico.

Diante da necessidade do mercado de trabalho, nós podemos constatar que o profissional tem seu valor mediado pela qualificação recebida durante seu período de preparo para exercer sua profissão. Mais ainda, o profissional ganha devido a quantidade. Se tivermos muitos professores no mercado, então é lógico que se pague menos.

Existe solução para isso? Não. Parece uma resposta simples, curta e carregada de um tom negativo, mas é melhor eu ser honesto e realista do que mentiroso e sonhador. Se chegamos até essa situação, é porque não podemos mais reverter esse quadro. O governo federal até tenta “tampar o sol com uma peneira”, mas isso não resolve problema algum. Com a ampliação dos Institutos Federais, tivemos a abertura de portas para profissionais de outras áreas, não apenas licenciaturas. O que vemos são muitos “ex-engenheiros”, literalmente, se arriscando na educação. Motivados pelo que? Dinheiro. Na maioria das vezes, mas nem sempre, eles não têm o conhecimento didático-pedagógico para o ensino de qualidade que o governo quer, se é que quer!

Não estou atacando nenhuma profissão, mas para expor meu ponto de vista, preciso de exemplos fortes. A justificativa para a criação de escolas técnicas é para preparar os alunos para o mercado de trabalho de forma mais rápida. Então, surgiu a necessidade de investir no Ensino Médio. Longe de não ser algo positivo, mas com isso os profissionais de outras áreas como a engenharia precisavam se interessar pela docência. Qual foi a solução encontrada pelo governo? Isso mesmo, atrair tais profissionais fisgando-os pelo bolso. Dinheiro, palavra mágica que pode mudar qualquer um.

Mas por que o professor ganha tão pouco? Porque uma profissão precisa ser marginalizada para que as outras sejam mais respeitadas. É a lógica do capitalismo. Outra razão: existe um número muito grande de “profissionais” nessa área e isso o torna fácil de ser encontrado. Mais além, existe a condição que chamo de “estar professor”, o que isso quer dizer? São pessoas que dão aulas para completar suas rendas, mas não estudaram para tanto. Terminando deixando uma perguntinha no ar: será que esses profissionais que são professores, teriam escolhido essa profissão quando estavam em suas universidades de Direito, Engenharia, Enfermagem, Ciências Econômicas...?

EDUCAR É IR ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA.


Educaixão. 


A nossa educação pública, de uma forma geral, não vem atingindo os resultados esperados em provas como ENEM. As universidades não formam cidadãos preparados para o mercado de trabalho e muitos alunos de licenciatura perderam o desejo de atuar em sala de aula após receberem o canudo da graduação. Esses acontecimentos são fatos. Mas o que surgiu há anos foi o questionamento em relação aos mesmos: por que o sistema educacional brasileiro não prospera?

Se observarmos a maneira como se constrói educação em outros países, perceberemos que no Brasil a coisa é feita de forma alheia, sem objetivos claros e sem critérios como a realidade social servindo de suporte para o sistema educacional. Nesse país, muitos pregam que “a educação é a solução para os problemas”. Mera fantasia. Essa visão é muito simplista e carrega para a lama muitos anos de pesquisas e estudos de intelectuais que vieram antes mesmo de muitos de nós começarmos a dá os primeiros passos e juntar as primeiras sílabas.

Talvez um dos grandes problemas seja a incompetência que o estado tem em administrar. Isso mesmo, o estado brasileiro não mostra competência nesse setor. Falar em educação pública já implica dizer que a qualidade é bastante questionável. E quem está dizendo isso não é o autor desse texto, pelo menos, não sozinho. Se nos basearmos nas evidências, e temos que fazer isso, perceberemos que educação não passa de um mero instrumento dos discursos políticos. Daqueles famosos discursos divorciados da prática.

Criamos tantos mitos ao longo da história, que muitos até associam a educação pública a uma forma de educação gratuita. Uma tremenda inverdade. “Como o estado pode manter uma educação de qualidade, se o mesmo não tem dinheiro?” Esse é o discurso de sempre. Pois, se “eles” não sabem, a educação é paga com o dinheiro dos impostos recolhidos do povo.

Mas se o estado coleta dinheiro público e não fornece ensino de qualidade, podemos concluir que ele, o estado, é incapaz. Claro que a lógica não é tão simplista assim.  O sistema responsável pela educação pública, assim como diversos outros setores também públicos, é guiado por pressões políticas e não importa o tamanho dos fracassos causados pelo mesmo, quando pelo menos fracassam, sempre haverá mais recursos disponíveis. Mais coletas de impostos. Não se tem dinheiro para educação, mas para criar mais cargos públicos como vereadores, por exemplo, existe recurso.

Melhorar a educação pública nesse país parece ser um convite para sair dos muros da escola e adentrar em questões relativas à cidadania. Não se pode querer resolver o problema de um setor, sem envolver os outros. Não podemos dizer que apenas o sistema de ensino público está sucumbindo, mas a saúde, segurança e outros setores também. O público não funciona nesse país.

O problema na educação brasileira está relacionado a questões sociais. Qual criança, que não tendo um prato de comida à mesa e que precise trabalhar para ajudar a família, vai encontrar sentido ou motivação em passar horas nas salas de aula estudando coisas que nem os professores sabem quando serão colocadas em prática?

Apenas fornecer educação não resolve nenhum problema. Veja o exemplo de Cuba, país onde o analfabetismo praticamente não existe mais. Naquela ilha, tanto um médico quanto um garçom recebem igualmente. Salários iguais para responsabilidades diferentes. Não desmerecendo a segunda profissão, mas destacando que em medicina se estuda bem mais, acredito ser injusto.

Eu diria que não resolve problema algum ter muitos médicos formados e bem instruídos, se eles não irão usar seus conhecimentos no mercado de trabalho, que muitas vezes, em Cuba, se encontra sem vagas. Pensem comigo, esse não foi um exemplo de “investir em educação”? Claro que sim, mas faltou pensar no pós-estudo. Depois de terminar os estudos, os aprendizes, agora recém-formados, terão lugar no mercado? Será que o Brasil pensa nisso quando aponta seus números mentirosos de avanço nesse setor?

Como vimos ao longo da história desse país, não é tão simples resolver qualquer problema na educação, mas a abertura para a discussão entre governo e sociedade parece ser o caminho mais coerente e viável. Romper com a visão de que educação somente é feita na escola e pensar a sociedade como educadora são pré-requisitos para uma escola pública de boa qualidade. Temos que parar de imitar o modelo errado e seguirmos os exemplos de países como Finlândia (desse país eu falo mais tarde). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário