CONSIDERADO UM DOS MAIORES FILÓSOFOS CONTEMPORÂNEOS, O PROFESSOR DE HARVARD DEFENDE QUE EXISTE UMA LACUNA ENTRE O “DISCURSO VAZIO” DE POLÍTICOS E O QUE AS PESSOAS DE FATO QUEREM
O voto de uma pessoa que não estudou tanto quanto você deveria valer menos? Qual a relação entre desigualdade e democracia? Essas foram algumas das provocações que fez ao público Michael Sandel, professor da Universidade de Harvard, durante o Fórum HSM de Liderança e Alta Performance, nesta quinta-feira (09/04). Sandel já foi descrito como "o mais relevante filósofo vivo" pela imprensa americana. Ele é conhecido por desafiar seus alunos a examinar dilemas éticos que enfrentam no cotidiano. Segundo ele, diante dos escândalos de corrupção no país, “o Brasil é um ótimo lugar para pensar em ética”.
O que falam os políticos X o que a população necessita
Sandel aponta que existe uma lacuna entre o “discurso vazio” de políticos em muitas democracias no mundo e o que as pessoas de fato querem. “Em quase todas as democracias, existe uma frustração profunda com política, políticos e partidos políticos. Por quê? Bem, vocês sabem melhor do que eu como isso se aplica ao Brasil: as pessoas estão frustradas com o modo como a política tem sido conduzida. Estão frustradas com a superficialidade dos discursos públicos e do debate. As pessoas querem grandes questões. Às vezes, pensamos que a democracia só acontece no dia da eleição, quando a população vota. Mas a democracia de verdade tem de acontecer todos os dias — com debates e discussões que cidadãos têm uns com os outros. Não só na TV ou no jornal, mas no dia a dia.”
Desigualdade X democracia
Para Sandel, as duas estão intimamente ligadas. “Um obstáculo para formas democráticas de discutir pacificamente justiça e injustiça, certo e errado, é que cada vez mais nossa sociedade está segregada. Isso nos leva ao problema da desigualdade. Há vários motivos para nos preocuparmos com a desigualdade. A primeira delas é que ela é injusta com aqueles que atinge. Os indivíduos deixam de ter acesso a bens básicos. É um conceito de injustiça com o qual as pessoas estão acostumadas. Mas nas décadas recentes, nós vemos um motivo mais profundo para nos preocuparmos com a desigualdade. Tem a ver com o destino da democracia. À medida que a lacuna entre ricos e pobres aumenta, algo é corrompido. Cada vez mais, aqueles quem têm dinheiro ‘compram’ sua saída de locais públicos. As pessoas deixam de conviver nos mesmos espaços. A ideia de que estamos todos juntos, em uma comunidade, é corrompida. A democracia não demanda igualdade perfeita. Mas requer que indivíduos de diferentes classes se encontrem uns com os outros pelo menos alguma vez no dia a dia. Porque é assim que aprendemos a viver com as diferenças.”
Para Sandel, as duas estão intimamente ligadas. “Um obstáculo para formas democráticas de discutir pacificamente justiça e injustiça, certo e errado, é que cada vez mais nossa sociedade está segregada. Isso nos leva ao problema da desigualdade. Há vários motivos para nos preocuparmos com a desigualdade. A primeira delas é que ela é injusta com aqueles que atinge. Os indivíduos deixam de ter acesso a bens básicos. É um conceito de injustiça com o qual as pessoas estão acostumadas. Mas nas décadas recentes, nós vemos um motivo mais profundo para nos preocuparmos com a desigualdade. Tem a ver com o destino da democracia. À medida que a lacuna entre ricos e pobres aumenta, algo é corrompido. Cada vez mais, aqueles quem têm dinheiro ‘compram’ sua saída de locais públicos. As pessoas deixam de conviver nos mesmos espaços. A ideia de que estamos todos juntos, em uma comunidade, é corrompida. A democracia não demanda igualdade perfeita. Mas requer que indivíduos de diferentes classes se encontrem uns com os outros pelo menos alguma vez no dia a dia. Porque é assim que aprendemos a viver com as diferenças.”
Executivo X líder
Segundo o professor, pensar em ética não resultará em novas estratégias de negócios para executivos. Ainda assim, ele defende que existe uma conexão profunda entre liderar empresas e pensar em ética e valores. “Essa é a diferença entre ser um executivo e um líder. Executivos são bons em descobrir maneiras de atingir certos fins. Mas não escolhem os fins. Um líder é diferente de um executivo, porque um líder motiva funcionários, fornecedores, consumidores e acionistas em torno de um propósito em comum. Um líder não está preocupado só com a maneira de atingir um certo fim, mas também pensa em qual o fim deveria ser. Por isso, ser o líder de uma empresa ou de uma sociedade democrática requer refletir sobre grandes questões éticas.
”
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