quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Combate ao Estado Islâmico inclui alvos sem armas; saiba quais

Para especialistas, tarefa é difícil, mas começaria por cortar dinheiro.

EI foi responsável por atentado que matou mais de cem em Paris.

Rosanne D'AgostinoDo G1, em São Paulo
O Estado Islâmico, facção radical que já vinha chamando a atenção do mundo com seus vídeos de decapitações, assumiu a responsabilidade pelos atentados em Paris, que deixaram mais de cem mortos na França. O grupo já controla boa parte da Síria e Iraque e, antes mesmo do atentado, era combatido por uma coalizão formada por 60 países, centrada no poderio militar dos Estados Unidos.
Mas alguns pesquisadores já apontavam que, para derrotar o grupo extremista, não bastaria uma incursão militar, e sim, atingir alguns alvos com o uso da inteligência, sem armas. Isso porque o EI não prega apenas o terrorismo, como fazia a Al-Qaeda de onde ele surgiu, mas tem o poder de cooptar membros de todo o mundo em nome da utopia de um novo estado.
Dinheiro
A fortuna do EI é estimada em US$ 2,2 bilhões pelo Centro de Análise de Terrorismo da França. Sua principal fonte de recursos é o petróleo, provindo de campos tomados durante seu avanço na guerra da Síria.
Renda do grupo Estado Islâmico vem do petróleo, impostos e roubos (Foto: Reuters)Renda do grupo Estado Islâmico vem do petróleo,
impostos e roubos (Foto: Reuters)
O grupo se apropriou de campos de produção e vende, segundo a organização Council on Foreign Relations (CFR), 48 mil barris por dia - 44 mil dos campos sírios e 4 mil dos iraquianos. A venda do combustível rende US$ 1 a 3 milhões por dia.
Ainda de acordo com o CFR, o regime do ditador Bashar al-Assad, os turcos e os curdos iraquianos - todos conhecidos inimigos do EI - são alguns dos clientes.
Outras fontes de renda são a pilhagem, extorsão e cobrança de impostos nas regiões controladas pelo grupo. Por isso, uma das formas de minar o grupo seria cortar seu financiamento.
“Teria que se impedir a venda e contrabando do petróleo. Uma das saídas seria tentar asfixia-los evitando que eles tomem outras cidades, roubando bancos, por exemplo. Sem dinheiro, não conseguem fazer nada”, afirma Leonardo Paz, coordenador de Estudos e Debates do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI).

Recrutamento
O Estado Islâmico oferece benefícios a seus membros, aproveitando-se da falta de emprego e da dificuldade de muitos sírios para sustentar suas famílias em um país devastado pela guerra. Há relatos de sírios que aceitaram desempenhar diversas tarefas em nome do EI, como pedreiros e até médicos, que são pagos em dólares.
O EI também se utiliza das redes sociais para recrutar seus membros em outros países, além de uma propaganda maciça por meio de vídeos, revistas e sites. Uma das plataformas usadas é o aplicativo de mensagens criptografadas Telegram.
Charlie Winter, pesquisador sênior da Fundação Quilliam, em Londres, contou à BBC que se surpreendeu com a quantidade de propaganda do EI espalhada pela internet. Segundo sua pesquisa, em apenas 30 dias, foram 1.146 peças de propaganda do EI em diversos meios, em até seis idiomas.
O norueguês Ole Johan Grimsgaard-Ofstad, de 48 anos, e o chinês Fan Jinghui, de 50 anos, reféns postos à venda pelo Estado Islâmico em anúncios na revista ‘Dabiq’ (Foto: Reprodução/Archive.org)O norueguês Ole Johan Grimsgaard-Ofstad, 48, e o
chinês Fan Jinghui, 50, reféns postos à venda pelo
Estado Islâmico em anúncios na revista ‘Dabiq'
(Foto: Reprodução/Archive.org)
Segundo ele, a propaganda é feita em grande quantidade e não se trata apenas de vídeos de decapitações e apedrejamentos. Grande parte do conteúdo mostra um mundo de utopia, que busca atrair cada vez mais jovens, inclusive os muçulmanos estrangeiros que não se sentem acolhidos em seus países na Europa.
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Em entrevista ao jornal The Guardian, ele alerta que o EI possui uma estratégia, por isso, encerrar esse monopólio de informação seria uma maneira de enfraquecer o grupo nas regiões por eles dominadas. Assim como impedir o acesso a esse conteúdo em outros países.
Os serviços de inteligência dos EUA calculam que o Estado Islâmico conta com um número de combatentes que varia de 20 mil a 32 mil. Além dos jovens, o Observatório Sírio de Direitos Humanos documentou pelo menos mil crianças que aderiram ao EI na Síria.
“Eles estão muito eficientes na comunicação via internet. Bloquear o máximo possível a iniciativa online de propaganda vai fazer com que tenham cada vez menos soldados para suprir suas fileiras”, diz Paz. Segundo ele, é preciso engajar lideranças no Oriente Médio e Europa, porque é onde está o grande nicho de jovens homens que se sentem alienados e vão para a luta”, avalia.
Fim do estigma
Ainda segundo Winter, um dos objetivos do EI é causar a polarização e aumentar o ódio aos muçulmanos em todo o mundo, incluindo os refugiados. Quanto mais excluídos eles se sentirem, menos saídas terão a não ser se juntarem ao Estado Islâmico. Assim, combater o estigma de que todos os árabes são terroristas, assim como engajar os muçulmanos a dizer não aos terroristas, seria outra saída para combater o EI.
“É preciso um engajamento com lideranças árabes e muçulmanas para que eles se sintam incluídos nessa estratégia. O que acontece é que o árabe é visto como um potencial terrorista. Temos que colocá-los como parte da solução, e não do problema”, avalia Paz.
Em sua opinião, o engajamento de lideranças mundiais nesse sentido é mais difícil, porque requer uma grande conversa entre os principais atores.
O presidente da França, François Hollande, disse na quarta-feira (18) que o país manterá sua política de acolhimento a refugiados e receberá 30 mil pessoas nos próximos anos, além de pedir apoio dos prefeitos para reforçar as medidas de segurança. Mas 26 estados dos EUA se recusaram a receber refugiados sírios após os atentados, ao que Barack Obama classificou de decisão vergonhosa.
“Alguém tem que passar essa ideia, porque a prática não acompanha o discurso. Tem que ter uma liderança forte do ponto de vista político. Evitando criar preconceitos contra refugiados. O jovem que não consegue fugir do EI, se radicaliza. A retórica dos países não pode corroborar essa exclusão”, afirma.

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