Liana Feitosa
Reportagem publicada pelo jornal Estadão neste domingo (29) dá detalhes sobre propriedades rurais do empresário sul-mato-grossense José Carlos Bumlai, assim como a relação dele com o ex-presidente Lula.
Um dos alvos foi a Rancho Alegre, uma das 12 propriedades rurais de Bumlai, que fica em Campo Grande, perto do Aeroporto Internacional da cidade. O pecuarista, preso na semana passada em Brasília na 21ª fase da Operação Lava Jato, é suspeito de intermediar grandes repasses de dinheiro ao PT em troca de privilégios no governo.
De acordo com a reportagem a fazenda é cenário de festas exclusivas e, além disso, funciona como centro de coleta de embriões e sêmen para fertilização in vitro de bovinos.
O zootecnista responsável da fazenda, entrevistado pelo jornal, disse que embrião de um bom reprodutor pode valer até R$ 30 mil.
Conforme o Estadão, as investigações apontam que Bumlai fez empréstimo de R$ 12 milhões com o Grupo Schahin para repassar o dinheiro ao PT e, assim, o partido ter condições de pagar dívidas de campanha. Em troca, o grupo conseguiu fechar contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras em 2009.
O empresário nega a informação e garante que pagou o empréstimo com fornecimento de embriões e sêmen e pode provar os trâmites por nota fiscal.
No entanto, pecuaristas ouvidos pelo Estadão ironizaram o argumento de Bumlai dizendo que desconhecem "boi de ouro".
Mas não foi só as transações na Rancho Alegre que levantou suspeitas da Justiça contra o empresário. Ele era dono da Cristo Rei, uma fazenda de 130 mil hectares em Miranda, mas que foi vendida a André Esteves, do Banco BTG Pactual.
Esteves foi preso um dia após Bumlai e, segundo as investigações, estaria envolvido no plano de fuga do ex-presidente da Petrobras, Nester Cerveró, sugerido pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS), preso também nesta semana pela Lava Jato.
Amizade - Ainda de acordo com o Estadão, foi na Cristo Rei que Lula gravou a campanha eleitoral que deu a ele a vitória nas urnas em 2002.
Bumlai tinha medo de que as terras fossem invadidas mas, nos vídeos, Lula garantiu que defenderia a o setor produtivo. A aproximação do pecuarista e Lula foi apadrinhada pelo então governador do Estado, Zeca do PT.
Com isso, a amizade entre os dois se tornou estreita e fez de Bumlai "mais influente que Delcídio e Zeca", fato comentado entre produtores rurais e confirmado pelo presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Jonatan Pereira Barbosa, apontado como amigo de Bumlai.
"Eu estava com o Bumlai, tocava o telefone, quem era? O ex-presidente. Daí nessa hora ele era amigo, pedindo que fizesse favor", diz Jonatan.
Negociação - O pecuarista viu seus negócios deslancharem durante o governo Lula. Em 2005, ele negociou uma de suas fazendas, a São Gabriel, com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). A propriedade foi vendida por R$ 20,6 milhões, enquanto ele havia pago R$ 2 milhões na mesma fazenda dois anos antes.
Para o Ministério Público Federal, o valor justo era de R$ 13,3 milhões e um laudo pericial falso garantiu o pagamento do montante, apesar da Justiça ter tentado suspender o pagamento. Os peritos que elaboraram o laudo estão sendo processados.
Anos mais tarde, Bumlai decidiu entrar no setor sucroalcooleiro com a usina São Fernando, em Dourados. Segundo o presidente da Acrissul, o investimento foi feito por insistência de Lula.
Etanol - "Quando o Lula estava saindo do governo, convenceu o Bumlai de que o etanol seria negócio do futuro. Ele entrou, com o piloto Emerson Fittipaldi e uma parte do Grupo Bertin. O álcool começou a dar para trás e, primeiro o Emerson, depois os Bertin, saíram do negócio. Ele teve de comprar a parte dos outros e não se recuperou", conta o pecuarista Jonathan.
Para salvar a usina, Bumlai vendeu a Cristo Rei, mas o dinheiro não conseguiu impedir que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) entrasse com pedido de falência da usina
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