A Operação Lava Jato já dura um ano. Nesse período, graças ao depoimento de ex-executivos da Petrobras, de doleiros e de donos de empreiteiras presos, se descobriu um gigantesco esquema de corrupção que sangrou a estatal numa dimensão ainda desconhecida, favorecendo partidos e políticos a mancheias. A sensação, passado todo esse tempo, é de que o País já sabia tudo o que havia para saber a respeito do maior escândalo de sua história. Mas eis que, no mais recente capítulo desse drama, anunciado na sexta-feira pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público, o Brasil foi informado, pela boca do procurador Carlos Fernandes Santos Lima, de que tudo isso é “apenas o começo”.
Isso significa que o escândalo ficará a pairar, por muito tempo ainda, sobre o mundo político, como espada de Dâmocles a ameaçar de decapitação vários daqueles que hoje se movimentam para ganhar centímetros de poder em meio ao esfacelamento do governo. A situação torna também potencialmente inútil todo o esforço da presidente Dilma Rousseff e de seus (poucos) fiéis defensores para superar a crise política e econômica que engolfa a sua desastrosa administração. O mar de lama – é essa a expressão adequada – tende a tragar tudo o que encontrar pela frente.
O procurador Santos Lima se referiu ao futuro da Operação Lava Jato em termos épicos. Ele disse que a investigação adentrará “mares nunca dantes navegados” – uma referência ao fato de que o escândalo é muito mais amplo do que até agora se sabe. “Há indícios de fraudes além da Petrobras”, afirmou o delegado da PF Márcio Anselmo, coordenador da investigação, confirmando recorrentes suspeitas de que a quadrilha que tomou de assalto a petroleira agiu em outras estatais e também em Ministérios.
A 11.ª fase da Lava Jato apura indícios de irregularidades em contratos publicitários da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Saúde. Foram presas sete pessoas, entre elas três ex-deputados – André Vargas, que foi do PT; Luiz Argôlo, do Solidariedade; e Pedro Corrêa, do PP. A operação foi apelidada de “A Origem” porque atinge os políticos cujo envolvimento no esquema do doleiro Alberto Youssef, pivô do escândalo, foi o estopim de toda a Lava Jato.
Segundo a PF, uma agência de publicidade comandada por Ricardo Hoffmann, também preso, tinha contratos com a Caixa e o Ministério da Saúde. A agência então subcontratava fornecedores de material publicitário. Na hora de receber desses fornecedores a comissão de 10% sobre o contrato – o chamado “bônus de volume” –, a agência os orientava a fazer o pagamento a empresas controladas por André Vargas e seu irmão Leon, que também foi preso.
O padrão é semelhante ao do mensalão, em que as agências de Marcos Valério desviavam dinheiro de contratos publicitários com estatais para financiar políticos da base aliada de Luiz Inácio Lula da Silva. A Polícia Federal suspeita que o esquema tenha se repetido com o mesmo objetivo, sem ter necessariamente vinculação com o escândalo da Petrobrás, mas com ao menos um ponto em comum: o doleiro Youssef.
As conexões não param aí. Outro personagem que aparece tanto no escândalo do mensalão quanto no atual é o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE). Segundo o juiz Sérgio Moro, que conduz o caso da Petrobrás, Corrêa recebeu propinas oriundas dos cofres da estatal no mesmo período em que estava sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal no caso do mensalão. Para Moro, Corrêa demonstrou “profissionalismo” na prática de crimes, além de evidente “desprezo” pela Justiça.
Sempre que novas revelações como essas são feitas nessa aparentemente interminável série de malfeitos, fica claro que a agenda do governo – e do País – está à mercê dos imprevisíveis desdobramentos das investigações que, conforme disse o delegado Anselmo, “ainda vão prosseguir por muito tempo”. Assim, pode-se prever que o pouco que resta da capacidade de Dilma de governar, neste momento de crise cada vez mais aguda, não será suficiente para se impor ante a vaga de escândalos da qual, segundo seus investigadores, se conhece apenas a superfície.
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