quarta-feira, 1 de abril de 2015

Quem são os "houthi" iemenitas?


POR DIOGO BERCITO

“Deus é maior. Morte à América. Morte a Israel. Maldição aos judeus. A vitória ao islã.”
Se vocês estão se perguntando “quem são os houthi”, que expulsaram o presidente iemenita de seu palácio em Áden nesta quarta-feira, a resposta está resumida aí em cima. É o lema desse grupo insurgente xiita que desceu de seu território ao norte e, em setembro de 2014, tomou a capital Sanaa, desestabilizando o (já instável) país.
Lema houthi: Deus é maior, morte à América, morte a Israel, maldição ao judeus, a vitória ao islã.
OK, não são dos menos radicais. Mas de onde eles surgiram?
Os houthi vêm de um grupo chamado Ansar Allah (partidários de Deus), seguidores de um xiismo conhecido como “zaidismo” –o mesmo do ex-ditador iemenita, Ali Abdullah Saleh. Não são aliás uma minoria inexpressiva: os zaidis constituem um terço da população e tiveram o controle do norte do país em um sistema de imamato por mil anos, até 1962. Nos anos 1990, o Ansar Allah era visto como um grupo moderado de proselitismo religioso.

Tropas leais a Hadi observam a base aérea al-Annad, tomada por rebeldes houthi nesta quarta (25)
Tropas leais a Hadi observam a base aérea al-Annad, tomada por rebeldes houthi nesta quarta (25)
Zaidi?
É uma vertente do islã xiita quase exclusiva do Iêmen, e tradicionalmente vista como próxima ao sunismo (daí, dizem, a boa convivência durante os séculos de imamato). Eles seguem os ensinamentos de Zaid ibn Ali, reunidos no livro “Majmua al-Fiqh”, que se parece com a escola sunita Hanafi de jurisprudência. Especificamente, não acreditam que um imã seja infalível em suas decisões.

O que significa “houthi”?
É o sobrenome de Hussein Badr al-Din al-Houthi, líder de uma rebelião desse grupo nortenho em 2004, em busca de autonomia para a região de Saada. Ele morreu no mesmo ano, mas o cessar-fogo foi assinado apenas em 2010. O nome seguiu adiante como o de um movimento.


O que eles querem agora?
Mais autonomia. Me lembro de sentar-me com alguns deles, quando estive no Iêmen, e ouvir suas reivindicações. Já então se dizia que eles seriam o maior desafio à transição iemenita, mas à época havia otimismo em relação ao acomodamento das diferenças em um projeto nacional. Os houthi, porém, buscam expandir sua influência no norte do país, aproveitando-se do vácuo deixado pela queda do ex-ditador Saleh.

Como eles têm agido?
Desceram até Sanaa, dissolveram o Parlamento e deram um ultimato às forças políticas, em setembro passado. Desde então, têm ganhado território e empurrado o presidente Hadi para fora do cenário –primeiro, ele fugiu ao sul, Áden; agora, há relatos de que já deixou o país.


É uma questão interna do Iêmen, né?
Nem. Acredita-se que os houthi sejam apoiado pelo Irã (também xiita). A oposição a seu avanço é apoiada pela Arábia Saudita, potência sunita, e pelos EUA. O presidente Hadi, perseguido pelos insurgentes, é sunita também. Com os ataques aéreos sauditas iniciados hoje, e as exigências iranianas de que cessem, fica claro que o Iêmen é um cenário para disputas regionais.


Isso é ruim?
É horrível. Não é que o Iêmen estava tranquilo, antes disso. O leste está tomado pela franquia mais violenta da Al Qaeda, que foi responsabilizada por diversos atentados terroristas recentes. O sul é mobilizado por um forte separatismo, com justificativas históricas e culturais. Houve, ainda, um recente ataque terrorista organizado pelo Estado Islâmico em mesquitas xiitas do país, com dezenas de mortos.

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