Bióloga Ana Paula Maciel está na Suécia a bordo do Arctic Sunrise.
Na embarcação, a gaúcha foi detida com mais 29 pessoas em 2013.
A convicção na causa ambientalista levou, novamente, a bióloga e ativista gaúcha Ana Paula Maciel ao navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, o mesmo onde estava quando foi presa na Rússia em 2013 sob acusação de vandalismo e pirataria com outras 29 pessoas. Durante uma parada da embarcação na cidade sueca de Karlskrona, neste final de semana, a ativista relatou por e-mail aoG1 como está nova empreitada. Em sua segunda viagem após ter sido detida, ela tem como companheiros outros 17 tripulantes, totalizando 12 nacionalidades diferentes. Diante do desafio, a brasileira garante que a experiência vivida no Oceano Ártico não a amedronta.
"As mudanças climáticas e o derretimento do Ártico me preocupam muito mais do que voltar para a cadeia. Eles podem prender meu corpo, mas nunca prenderão meu espírito", garante a ativista.
Comprometimento e carinho do público
Ana Paula integrou o grupo conhecido como "Os 30 do Ártico", presos em São Petersburgo em 19 de setembro de 2013. Eles tripulavam o mesmo navio quando o Greenpeace realizava um protesto pacífico em uma plataforma petrolífera da companhia Gazprom. Após grande mobilização mundial em favor da libertação dos ativistas, a bióloga foi solta no dia 20 de novembro de 2013.
Além da gaúcha, outros seis membros da tripulação atual também estavam presentes na ocasião. Assim como há um ano e meio, o objetivo é defender o uso de fontes de energias renováveis, em detrimento do petróleo. "Isso demonstra nosso comprometimento e vontade de mudar as políticas de produção de energia", afirma.
A brasileira embarcou para a Finlândia em fevereiro. Depois que deixar a Suécia, ainda passará pela Dinamarca. Nestes países, o grupo promove um contato com o público, que pode até mesmo entrar no navio. Neste período, Ana teve a oportunidade de conhecer pessoalmente um menino sueco que, durante a detenção em 2013, conquistou o grupo de ativistas com uma carta de apoio. "Foi emocionante poder agradecê-lo diretamente", relembra.
O contato com o público é o incentivo para o grupo que, após deixar os portos escandinavos, parte para uma nova aventura. "Estamos carregando nossas energias com o carinho do público e nos preparando para chamar a atenção do mundo outra vez", conta. O destino, pondera, é "confidencial".
Retorno com momentos de tensão
Não é a primeira viagem de Ana Paula com o Greenpeace após a prisão. Em novembro do ano passado, ela participou de uma ação contra a exploração de petróleo ao redor das Ilhas Canárias. E o retorno passou longe de ser tranquilo: ela conta que pilotava uma lancha com oito ativistas quando dois barcos da Marinha Espanhola "praticamente atropelaram" o grupo. Um membro do Greenpeace sofreu fratura exposta na perna, que ficou presa nas hélices da lancha da corporação espanhola.
Para ela, foi um "atentado". "Eles quase afundaram minha lancha com oito ativistas dentro. Foi uma experiência e tanto", conta.
Apoio após posar nua: 'história fantástica'
Em fevereiro de 2014, menos de três meses após deixar a prisão na Rússia, Ana Paula afirmou que planejava posar nua para uma revista voltada ao público masculino. Os fundos do ensaio serviriam para ela construir um santuário com objetivo de recuperar e inserir na natureza animais selvagens apreendidos pela Polícia Federal por tráfico ilegal.
Uma foto com trajes de banho foi publicada na edição de março da revista Playboy, do Grupo Abril. A aceitação do público determinaria se o desejo de se despir para o periódico se concretizaria, o que aconteceu no mês seguinte. Ao retornar ao Arctic Sunrise, encontrou "apoio, suporte e amizade" por parte dos companheiros.
"Todos eles sabem dos meus objetivos depois que eu parar de navegar, que é ter uma reserva e trabalhar com animais selvagens. Não houve diferença depois dessa experiência, creio que é somente mais uma historia fantástica em uma vida fantástica", conta.
Da 'segunda casa' à terra firme
O santuário, entretanto, ainda está longe de ficar pronto. Ana Paula segue angariando recursos para a realização, e planeja se especializar no trato a animais selvagens para, depois de muitas outras jornadas pela causa ambientalista, estar pronta para manter o local.
"Vou fazer uma especialização em biologia da conservação e um mestrado em ecologia. Também quero muito trabalhar no Parque das Aves em Foz do Iguaçu, para aprender tudo que puder, entender como esse trabalho de conservação funciona a fundo e conhecer pessoas da área que possam me ajudar", afirma.
Por enquanto, Ana Paula segue indo e voltando do navio que considera sua "segunda casa". Ela acredita que, dos nove anos em que trabalha em embarcações do Greenpeace, quatro tenham se passado dentro do Arctic Sunrise. Por isso, quando é chamada pela entidade, geralmente vai para onde estava em um dos momentos mais marcantes de sua vida. "Minha experiência e conhecimento do navio fazem com que o escritório me envie quase sempre para cá", afirma.
O retorno ao Brasil deve ficar somente para 2016. "Tenho planos depois desta viagem, e depois desses planos volto a embarcar, o que nos leva ao final do ano", conta, com o desprendimento de quem não costuma parar em algum lugar por muito tempo. Se o navio Arctic Sunrise é a segunda casa de Ana Paula, a primeira não parece ser a Porto Alegre onde vive a família, mas sim, simplesmente, a terra firme.
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