sexta-feira, 27 de março de 2015

Conheça cinco causas do 'fôlego curto' da economia brasileira


PIB faz 'voo de galinha', sem manter mesmo ritmo ao longo de anos.
Entre problemas citados estão conjuntura externa e taxa de juros alta.

Anay Cury e Marta CavalliniDo G1, em São Paulo
Com crescimento de 0,1% em 2014, a economia brasileira vem mostrando que tem fôlego curto, incapaz de manter o mesmo ritmo de crescimento ao longo dos anos.
Seja influenciado pelo ambiente internacional ou pela condução das políticas domésticas, o Produto Interno Bruto (PIB) do país já experimentou períodos de certa estabilidade. Porém, nos últimos cinco anos, os dados têm indicado que a economia brasileira não tem mais evoluído de forma constante.  
Com base nas avaliações de quatro especialistas, o G1 reuniu os motivos mais frequentemente citados que podem ter levado o Brasil a apresentar o que alguns economistas chamam de “voo de galinha” – uma metáfora usada para indicar períodos de perda de fôlego do PIB brasileiro, que, assim como a ave quando tenta voar, não se sustenta em alta.
Veja a seguir as 5 principais razões para o desempenho irregular

 
Conjuntura externa (Foto: G1)
O problema:
A crise econômica que teve início em 2008 e culminou com a quebra do banco Lehman Brothers nos EUA refletiu no mundo inteiro, incluindo o Brasil, fazendo com que o governo apostasse na redução do esforço fiscal e no aumento dos gastos públicos como medida de estímulo.
O que dizem os especialistas:
"O crescimento durante a era Lula foi baseado no excesso de liquidez internacional e na elevação no preço das commodities [como mineirais e produtos agrícolas]. Após a crise internacional, o governo Dilma não pode mais contar com essa bonança internacional. Sem mudanças estruturais necessárias, ficamos mais vulneráveis ao ambiente externo", disse Alan Ghani, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA).
Já para o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) Vinícius Botelho, a crise econômica mundial, num primeiro momento, teve efeito no crescimento do país – mas para ele, o efeito foi apenas em 2009. "A falta de competividade é problema nosso, não do mundo. Falar que o externo compromete é falacioso. Foram os problemas domésticos que geraram nossa desaceleração", afirma o especialista.

Selo Gastos públicos (Foto: G1)
O problema: 
Com a desaceleração da economia diante das intempéries internacionais, o governo passou a adotar uma política anticíclica, que consistia em aumentar os gastos para impulsionar a economia.
No entanto, o que foi considerado como uma medida de estímulo no passado se transformou, hoje, em um dos grandes desafios do governo: cortar despesas.
O que dizem os especialistas:
Na avaliação da economista da Tendências Consultoria Integrada Alessandra Ribeiro, as políticas macro e microeconômica pós-crise geraram desequilíbrios que acabaram por derrubar a taxa de crescimento, resultando em menor produção e investimento.
"Entre 2004 e 2010, a economia teve uma média de crescimento muito boa, de 4,5%, e desde 2011 a trajetória foi só descendente em termos de crescimento. A política econômica foi muito equivocada nos últimos anos. Agora eles já estão revertendo e poderiam ter começado lá atrás", diz.
Além do excesso de gastos ter sido apontado como um dos problemas para a falta de estabilidade das taxas de crescimento, o economista Alan Ghani, da FIA, afirma que os gastos foram ineficientes. "A elevação dos gastos correntes ocorre em detrimento dos investimentos produtivos."
Esses problemas estão sendo resolvidos no início deste mandato, segundo o Rogerio Buccelli, professor das Faculdades Integradas Rio Branco, com uma política fiscal contracionista para manter o superávit primário (dinheiro que “sobra” nas contas do governo depois de pagar as despesas, exceto juros da dívida pública) de 1,2% do PIB.

Taxa de juros (Foto: G1)
O problema:
A elevada taxa de juros, que hoje está em 12,5% ao ano, também é apontada como um dos entraves para a recuperação da economia – que vem mostrando ausência de crescimento com inflação alta, chamada pelos economistas de “estagflação”.
Ao tornar o crédito e o investimento mais caros, os juros elevados acabam prejudicando o crescimento da economia.
O que dizem os especialistas:
"A inflação elevada corrói o poder de compra da população e cria um ambiente menos favorável para investimentos, gerando enfraquecimento da atividade econômica", afirma Ghani. Para Rogerio Buccelli, a elevação da taxa de juros como forma de combater a inflação é "comprovadamente ineficiente".

Selo preços PIB_VA (Foto: Arte/G1)
O problema:
Os especialistas também apontam o controle de preços pelo governo como um dos motivos do desequilíbrio econômico enfrentado pelo país.

O que dizem os especialistas: 
"A intervenção estatal não foi benéfica e fez com que a economia patinasse, pois a contração dos preços para evitar inflação gerou déficit nas empresas, desacelerando o crescimento", disse Botelho, da FGV.
Segundo a economista da Tendências, do ponto de vista microeconômico, o controle de preços de energia e gasolina resultaram em desestrutura do setor de energia e dificuldades na Petrobras.
"Poderia ter havido uma melhoria da regulação institucional, com reforço do papel das agências reguladoras, para aumentar a competitividade na oferta dos produtos", avaliou Botelho.

Perda de confiança (Foto: G1)
O problema:
O mercado vem perdendo confiança e, com isso, os investimentos são afetados.

O que dizem os economistas:
“Perda de confiança trava o investimento, pois todos ficam à mercê da política econômica que está sendo realizada naquele momento. As regras do jogo deveriam ser claras e debatidas com todos os setores, e não impostas. É preciso ainda dar mais previsibilidade às regras tributárias”, diz Botelho.
O mercado topa correr riscos, mas não gosta de mudanças nas regras do jogo, sejam elas formais ou informais, na opinião de Ghani. “A quebra de contrato com as empresas de energia, aliada às interferências no setor de transporte sinalizam para o mercado um ambiente ruim para negócios para essas áreas e demais setores da economia, marcados por alta interferência governamental. Isso afugentou os investimentos.”

PIB anual 2014 (Foto: Editoria de Arte/G1)
Galinha ou falcão?
Com aumento do volume econômico, proporcionado, entre outros fatores, pela expansão do crédito, os ganhos vão crescendo, mas se a economia não se sustenta, esse ciclo também não se sustenta, afirma Botelho.
“O país agora vive uma contração. O voo é baixo e não chega muito longe. Dá a volta, sobe e desce, não é como o voo do falcão, pois o crescimento acaba não se sustentando. Até 2010 houve crescimento de falcão, mas o falcão foi descendo e virou a galinha”, explica.
"O crescimento brasileiro na era Dilma foi um típico voo de galinha, baseado em estímulos pontuais sem investimentos e reformas estruturais capazes de gerar um crescimento sustentado do PIB", afirma o professor Ghani, da FIA.

Para o professor das Faculdades Integradas Rio Branco, o crescimento da economia brasileira depende de investimento em infraestrutura e não de política que estimule o consumo das famílias, para que possa se manter ao longo do tempo.
“Enquanto não houver uma política industrial que deslanche o investimento do setor privado, que recupere a confiança do setor empresarial, o PIB deverá ter fôlego curto. Pior, perder o fôlego como em 2015, por exemplo”, diz Buccelli
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário