Desenho gerou polêmica entre os fiéis
e chamou a atenção do departamento jurídico da igreja de Edir Macedo
·
Fábio Santos
Um cartunista de São Paulo recebeu uma notificação extrajudicial da
Igreja Universal do Reino de Deus para que uma charge feita por ele fosse
retirada do ar. De acordo com a notificação entregue pela igreja, Vitor
Teixeira, estaria induzindo ou incitando a discriminação religiosa ao ilustrar
o que seria um “Gladiador do Altar” desferindo um golpe de espada contra uma
mulher seguidora de uma religião de origem africana.
Charge do cartunista Vitor Teixeira com "gladiador" vestindo a
camisa da Universal
Foto: Vitor Teixeira / Reprodução
O grupo dos gladiadores ficou famoso após um vídeo que mostra os fiéis
marchando, como se fossem um exército, ser compartilhado nas redes sociais. De
acordo com a igreja, os Gladiadores do Altar fazem parte de um projeto “de
orientação e formação de jovens vocacionados para a propagação da fé cristã,
que funciona desde janeiro de 2015”.
Na notificação, a Universal explicou seu posicionamento em relação às
religiões africanas. De acordo com o documento, “A Igreja Universal apenas não
concorda com a liturgia das religiões de matriz africana, mas de forma alguma
incita o preconceito contra as mesmas”, disse.
Em entrevista ao Terra , Vitor Teixeira disse que não
concorda com o posicionamento da Igreja ao pedir a retirada de sua página no
Facebook do ar, mas que fez um acordo com o departamento Jurídico da IURD para
que apenas a imagem fosse deletada.
“Eu acabei tirando a imagem do ar, mas não por constrangimento, já que
eu posto uma imagem esperando que eu possa caracterizar uma situação como meu
ofício peça que eu faça. Porém, depois de receber a notificação, eles pediram
para que eu deletasse a minha página no Facebook. Negociamos, por e-mail,
para que somente a imagem fosse retirada do ar”, disse o artista, que usa a
página como ferramenta de divulgação de seu trabalho
Apesar de ter feito o acordo para deletar a imagem, Vitor resolveu
tornar o caso público, pois acredita que seu direito de liberdade foi ferido
pela pressão dos advogados da igreja. “Querendo ou não, pelo poder econômico
que eles têm, é desproporcional (a disputa). Eles são um império de
comunicação, com influência política”, falou o chargista.
Após a polêmica, Vitor publicou outra arte simbolizando as "algemas
da Universal"
Foto: Vitor Teixeira / Reprodução
Desenho polêmico
O cartunista fez questão de deixar claro que não tem absolutamente nada contra a população evangélica ou contra os seguidores da Igreja Universal. Segundo ele, a charge nasceu após a divulgação do vídeo com fiéis que apresentam comportamento paramilitar em frente ao altar, o que causou grande repercussão no Brasil inteiro.
O cartunista fez questão de deixar claro que não tem absolutamente nada contra a população evangélica ou contra os seguidores da Igreja Universal. Segundo ele, a charge nasceu após a divulgação do vídeo com fiéis que apresentam comportamento paramilitar em frente ao altar, o que causou grande repercussão no Brasil inteiro.
Se baseando no histórico de críticas contundentes da Igreja Universal
contra as religiões afro e se apossando das cenas marcantes dos Gladiadores do
Altar, Vitor diz que fez uma interpretação lúdica do assunto e criou, assim, o
desenho.
“Eu não quero me indispor com a população evangélica, não tenho nada
contra eles. O meu desenho é uma critica à iniciativa (dos Gladiadores do
Altar), especificamente, não é nem uma a crítica à Universal como monopólio”,
completou.
Processo judicial
Após uma nova troca de e-mails com o departamento jurídico da Igreja, Vitor acredita que o processo jurídico possa ser inevitável, mesmo após o cumprimento do acordo. “Eu já recebi um e-mail deles, aparentemente eles vão tocar o processo judicial. O que eu vou fazer, vou à casa de cada um deletar a imagem?”, questionou.
Após uma nova troca de e-mails com o departamento jurídico da Igreja, Vitor acredita que o processo jurídico possa ser inevitável, mesmo após o cumprimento do acordo. “Eu já recebi um e-mail deles, aparentemente eles vão tocar o processo judicial. O que eu vou fazer, vou à casa de cada um deletar a imagem?”, questionou.
Segundo Vitor, essa é a primeira vez que uma grande corporação o
pressiona. “Já estou com assessoria jurídica e vamos aguardar o que acontece.
Como prometido, vou cumprir o acordo”, falou.
Charlie Hebdo
Guardadas as devidas proporções com o ocorrido em Paris, quando uma redação jornalística foi vítima de um atentado terrorista após a publicação de charges com teor religioso, Vitor disse que o preceito é o mesmo. “Talvez como tenha sido noticiado a história dos franceses, acho que serve para o público entender como funciona (a liberdade de expressão). Não recebi ameaças, longe disso, mas acho que cabe para que as pessoas entendam o que está em jogo”, disse.
Guardadas as devidas proporções com o ocorrido em Paris, quando uma redação jornalística foi vítima de um atentado terrorista após a publicação de charges com teor religioso, Vitor disse que o preceito é o mesmo. “Talvez como tenha sido noticiado a história dos franceses, acho que serve para o público entender como funciona (a liberdade de expressão). Não recebi ameaças, longe disso, mas acho que cabe para que as pessoas entendam o que está em jogo”, disse.
“Cabe a comparação, mas eu – pessoalmente - não concordo com a linha
editorial deles, já que faziam cartuns de uma população que é muito maltratada.
Eu não concordo com a linha editorial, mas acho que deve haver esse canal”, falou
Outro lado
O Terra entrou em contato com a Igreja Universal, que se posicionou contra a publicação do desenho. Por meio de nota, a Igreja disse que não aceitará qualquer tipo de ataques de ódio. Veja a nota na íntegra:
O Terra entrou em contato com a Igreja Universal, que se posicionou contra a publicação do desenho. Por meio de nota, a Igreja disse que não aceitará qualquer tipo de ataques de ódio. Veja a nota na íntegra:
“A Igreja Universal
do Reino de Deus notificou extrajudicialmente o cartunista, alertando-o que a
publicação incitava o ódio contra as religiões de matriz africana e contra a
própria Universal.
O autor produziu e
publicou uma ilustração acusando a Universal (de) assassinar, ou de pretender
matar praticantes de religiões de matriz africana. Incitar o ódio é crime.
Acusar falsamente de cometer um crime, também é crime. No estado de direito, a
liberdade de expressão não autoriza ou legitima absurdos como tal imagem
horrenda, veiculada de modo irresponsável.
Voluntariamente, o
chargista apagou a postagem, certamente por reconhecer o erro que cometeu. A
Universal respeita e defende as liberdades constitucionais de crença, de culto
e de opinião, mas jamais aceitará calada ataques delinquentes de preconceito e
rancor. Casos semelhantes terão tratamento igual perante a Justiça”
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