quarta-feira, 1 de abril de 2015

Reinaldo vai alugar hospital privado de integrante da Máfia do Câncer

Autor: Diana Gaúna

Uma das donas do hospital privado que será locado pelo Governo atuou para desativar o serviço de radioterapia do SUS

Prefeito de Dourados, Murilo Zauith (PSB) e o governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Foto: divulgação.

Prefeito de Dourados, Murilo Zauith (PSB) e o governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Foto: divulgação.
O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) vai alugar o hospital privado São Luiz, em Dourados, que tem entre os proprietários integrante da Máfia do Câncer - desmantelada pela Polícia Federal em 2013 durante a Operação Sangue Frio. A informação foi divulgada pelo próprio tucano, que disse que após embargar a obra do Hospital Regional de Dourados, irá alugar a unidade - que estava fechada há anos - para realização de cirurgias eletivas. Leia mais clicando aqui.

                        (Fachado do hospital em Dourados / Foto: Alexandre Duarte)

O hospital pertence ao oncogrupo Neoclin, que tem em seu quando societário a irmã do médico Adalberto Siufi, Eva Glória Abrão Siufi, bem como Paulo Siufi Júnior, Luis Henrique Marcarenhas Moreira, Sandra Cristina Kiomido Maia, Luiz Felipe Terazas Mendes, Eulálio Arantes Correa da Costa e Aparecida Mitsuki Miura.


Luis Henrique Mascarenhas Moreira era presidente do Conselho Regional de Medicina de MS na época do escândalo da Máfia do Câncer e chegou inclusive a prestar depoimento a CPI da Saúde da Assembleia Legislativa. O conselho é responsável, entre outras coisas, por analisar processos ético-profissionais de médicos.

Já Eva Glória Abrão Siufi – irmã de Adaberto Siufi – foi apontada como integrante da Máfia do Câncer e teve pedido de indiciamento pela CPI da Saúde da Câmara de Vereadores, acusada de ter colaborado para desativar o serviço de radioterapia do SUS. O pedido de indiciamento dos vereadores se estende ao ex-diretor Adalberto Siufi,  ao ex-diretor do Hospital Universitário, José Carlos Dorsa, à médica Eva Glória Siufi do Amaral e aos ex-presidentes  do conselho curador do HC, Blener Zan e Luiz Felipe Terrazas.

O esquema da radioterapia começou a ser montado a partir de uma decisão de 2008 da CIB (Comissão Intergestora Bipartite), comandada pela então secretária estadual Beatriz Dobashi, secretário municipal Luiz Henrique Mandetta e representantes de hospitais (Ronaldo Perches e José Carlos Dorsa). Na época, a comissão determinou que o Hospital Regional abandonasse de vez o atendimento de radioterapia e o serviço ficou centralizado no Hospital do Câncer e no Hospital Universitário -  ambos com atuação de Adalberto Siufi - apontado pelo MPF como mentor do esquema de desvio de verba.

Logo em seguida a desativação do serviço no Regional, o HU paralisou o serviço e toda a radioterapia em Mato Grosso do Sul acabou indo para o HC, que terceirizava os tratamentos, privatizando o serviço com a contratação da Neorad, empresa de Adalberto Siufi e Issamir Saffar (Saffar &Siufi).

A participação de Eva Glória na desativação da radioterapia do SUS - segundo relatório do MPF datado de 2009 - foi deixar o hospital público (HU/UFMS) desguarnecido de profissional, desativando o serviço e direcionando todos os pacientes de radioterapia do HU para o Hospital do Câncer que, por sua vez, direcionava para clínica de seu irmão Adalberto Siufi.


Leia trecho do documento abaixo:

“Em que pese a dita servidora, Dra. Eva Gloria Siufi do Amaral, ter sua lotação de origem na FAMED – Faculdade de Medicina, e não o Hospital Universitário - NHU/UFMS, durante todo seu período na Instituição sua atividade resumiu-se aos quadros do NHU, sendo que sua ausência nas atividades que até então desenvolvia do Hospital Universitário deu-se justamente para que pudesse operar exclusivamente na radioterapia do Hospital do Câncer Dr. Alfredo Abrão.

Ora, o Hospital do Câncer, como fundação privada, poderia muito bem contratar um radioterapeuta pelo salário ou produção que lhe aprouvesse. A situação do Hospital Universitário era outra; suas atividades ficam atreladas ao seu próprio pessoal e, diante da ausência de médico radioterapeuta desde a saída do Dr. Norbeto, o serviço de radioterapia ficou paralisado ou diminuído (como foi o caso em períodos alternados na época).

Tivesse a servidora permanecido nos quadros da Instituição, o serviço de radioterapia não teria certamente enfrentado os problemas de diminuição e paralisação de atendimento que enfrentou por ausência de médico radioterapeuta com a saída do Dr. Norbeto em 2007 até a suspensão da admissão de pacientes para tratamento nos setores de Radioterapia e Quimioterapia pela Vigilância Sanitária Estadual, em 06 de março de 2009 (Termo 23.553/2009)”.

A informação é citada na Ata de Reunião de dois de dezembro de 2009, Processo Administrativo n.° 1.21.000.000455/2009-96/MPF, na qual um dos diretores do HC, o médico Luiz Felipe Terrazas Mendes afirma que o Setor de Radioterapia, embora o Dr. Adalberto seja o Diretor Geral do Hospital, é coordenado pela Dra. Eva Siufi.

Outras sociedades

Eva Glória também fazia parte do quadro societário do Centro de Oncologia e Hematologia de Mato Grosso do Sul, empresa terceirizada que prestava serviços de quimioterapia da Santa Casa de Campo Grande. Além dela a clínica era de propriedade de seu irmão, Adalberto Siufi, Arlete Delfina Marques Maia e José Maria Nossa Ascenço.

O contrato com o Centro foi rescindido em 2013 após a morte de três pacientes submetidos a tratamento de quimioterapia. A polícia abriu inquéritos para investigar e descobriu várias irregularidades no serviço como ausência de registros sobre procedimento operacional padrão, falta de experiência do farmacêutico que manipulava os medicamentos e até mau acondicionamento dos medicamentos quimioterápicos. A investigação acumula mais de 8 mil páginas e ainda não foi concluída.

Sócio do Neoclin quer sair do grupo

Um dos sócios do oncogrupo Neoclin, move ação na Justiça, pedindo seu desligamento da empresa e o ressarcimento a parte monetária a que tem direito. No processo Paulo Siufi Júnior alega “temor de ser responsabilizado por obrigações da pessoa jurídica, o que envolve exclusivamente questão financeira”.

CPI apontou que Eva teria recebido em duplicidade

A investigação da CPI da Saúde da Câmara apurou que além da ausência da servidora do HU, decisiva para desativar o serviço de radioterapia, Eva Glória Abrão Siufi recebeu verba salarial pela UFMS por carga horária semanal de 40 horas semanais, enquanto trabalhava  como médica responsável pelo Setor de Radioterapia do HC.

“Recebia por toda a produção do respectivo setor daquele hospital, havendo, pois, indícios de recebimento de verba indevida e em duplicidade, o que recomenda investigação ministerial, tanto do MPF, quanto do MPE. Faz-se imperativa a investigação por parte do MPF para apurar eventuais prejuízos aos cofres da UFMS em relação ao pagamento de verbas salariais quando haveria indícios de que a servidora não cumpria sua carga horária perante a Instituição; e faz-se imperativa a investigação por parte do MPE para apurar se o pagamento que se realizava sobre toda produção do Setor de Radioterapia do Hospital do Câncer em relação a Dra. Eva Siufi operava-se dentro dos ditames legais. Fica a recomendação dessa Comissão Parlamentar de Inquérito nesse sentido”, diz relatório final da CPI.

Operação Sangue Frio

Após dois anos da deflagração da Operação Sangue Frio, as investigações ainda não terminaram. Até agora, o MPF denunciou seis pessoas por malversação de R$ 102 milhões em recursos públicos no Hospital do Câncer, sendo os ex-diretores do hospital Adalberto Abrão Siufi, Issamir Farias Saffar, Blener Zan e Luiz Felipe Terrazas Mendes; a ex-administradora Betina Moraes Siufi Hilgert; e o empresário e ex-funcionário do hospital, Adalberto Chimenes.

A reportagem entrou em contato com a Procuradoria Regional para saber mais informações, entretanto a informação é que o caso corre sob sigilo e nem mesmo o andamento do caso, ou o número de processos que foram abertos pode ser revelado. 


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