Natalia Yahn
Mato Grosso do Sul ainda não faz o exame que detecta o zika vírus na rede pública de saúde, mas laboratórios particulares de Campo Grande já disponibilizam o teste, que chega a custar quase R$ 800 e fica pronto em 10 dias. A procura aumentou tanto que um laboratório na Capital promete mais rapidez no resultado, que poderá ficar pronto em duas horas com custo previsto entre R$ 250 e R$ 280.
Os materiais coletados para casos suspeitos de zika vírus na rede pública do Estado são encaminhados para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo (SP). Os de chikungunya seguem para o Instituto Evandro Chagas, em Ananindeua (PA).
O Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública), que realiza os exames de dengue e é responsável pelo envio dos materias para os laboratórios de São Paulo e do Pará, afirma que por enquanto não há previsão de realizar os testes no Estado.
O farmacêutico bioquímico e gerente técnico do laboratório Multilab em Campo Grande, João Batista da Costa Neto, explica que o exame já é oferecido na rede particular, porém atualmente custa R$ 600 e fica pronto em 10 dias. “Estamos em fase final de validação para importar os kits do exame. Nossa intenção é auxiliar para que o maior número possível de pessoas sejam diagnosticadas, por isso queremos abaixar o preço e proporcionar o resultado o mais rápido possível”, explica em relação ao procedimento mais rápido.
O novo exame vem do Canadá, teve registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberado na sexta-feira (5), e a distribuição será feita por uma empresa de São Paulo (SP). "Vamos ser um dos primeiros no Brasil a ter este tipo de exame", afirmou Neto. O teste vai identificar se o paciente teve contato com o vírus e se doença ainda está ativa. "Hoje o exame disponível só faz o rastreamento genético do vírus, se a pessoa não está doente é mais difícil detectar. O novo vai ter uma abrangência maior e verificar até mesmo se o paciente tem o anticorpo", disse o farmacêutico.
O local também disponibiliza os exames que detectam a dengue e a febre chikungunya, que custam respectivamente, R$ 40 e R$ 130, e o resultado sai em apenas duas horas.
Em outros laboratórios particulares da Capital os exames também estão disponíveis. No laboratório Renato Arruda para fazer os três testes o paciente interessado vai ter que pagar R$ 1.228,17 – separadamente os exames custam R$ 764 (zika), R$ 336,37 (chikungunya), R$ 127,80 (dengue). Os resultados demoram de 1 a 7 dias para ficarem prontos.
Já no Sensus Medicina Laboratorial os testes custam R$ 660 (zika), R$ 360 (chikungunya) e R$ 72 (dengue), e ficam prontos entre 8 e 15 dias – mas o de dengue é feito no mesmo dia.
Para fazer os exames não é necessário solicitação médica – o paciente apenas assina um formulário da Vigilância Sanitária, confirmando o interesse próprio no teste –, porém é preciso apresentar os sintomas de 2 a 7 dias no caso de dengue, no mínimo 7 dias para chikungunya e de 10 a 12 dias para zika.
A epidemia de dengue os casos de microcefalia em recém-nascidos, relacionados ao zika vírus, provocou aumento na procura pelos exames. “Aumentou 500%. Em dezembro atendemos 10 pessoas, a maioria gestantes. Agora em janeiro já foram 50 testes desde recém-nascidos até idosos de 95 anos”, afirmou Neto.
Já os exames de dengue são mais comuns, mesmo disponível na rede pública da Capital, mil pessoas fizeram o teste no Multilab em janeiro. “O exame na rede pública demora até dois meses, enquanto oferecemos aqui um que fica pronto em duas horas e outro em 7 dias. As pessoas querem saber se estão doentes, não querem esperar tanto”, disse o farmacêutico.
O laboratório realizada ainda o exame que detecta a síndrome de Guillain-Barré, uma doença do sistema nervoso de caráter autoimune, que também pode ter relação com o zika vírus, que custa R$ 450.
Os exames podem ser parcelados no cartão de crédito em até quatro vezes, e por enquanto só um plano de saúde – o IMPCG (Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande), que é dos servidores da Prefeitura – tem convênio com o local. “Mas o preço é praticamente o mesmo, não muda muita coisa mesmo sendo para o plano”, afirmou Neto.
Rede pública - Enquanto a rede particular disponibiliza os exames de zika e chikungunya, na rede pública de Mato Grosso do Sul ainda não há previsão de realizar os testes. O diretor do Lacen(Laboratório Central de Saúde Pública), Luiz Henrique Ferraz Demarchi, afirmou que uma funcionária já foi capacitada, mas o Ministério da Saúde não enviou os kits com reagentes.
“Continuamos enviando para os laboratórios de referência. Porém foi estabelecido pelo Ministério que podemos mandar somente 20 amostras de pacientes com suspeita de zika por semana. Por isso priorizamos gestantes e recém-nascidos”, explicou Demarchi.
O Lacen registrou aumento de 900% no número diário de exames realizados para detectar dengue, por conta da epidemia. No local normalmente são processadas 20 amostras por dia, mas essa quantidade passou para 200 desde outubro de 2015.
Dados - Campo Grande registra 91 novos casos suspeitos de dengue por dia. Em apenas nove dias foram 826 notificações da doença entre 2 e 10 de fevereiro. O boletim epidemiológico da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), divulgado na quarta-feira (10), apontou aumento de 10,7% no número de notificações.
Na semana passada eram 6.876 notificações, mas no boletim divulgado nessa quarta-feira até mesmo os casos de janeiro registrados em janeiro tiveram aumento. Até o dia 2 de fevereiro eram 6.876 casos mas agora passaram para 7.592, além de 111 em fevereiro, com um total de 7.702 notificações este ano.
Os casos de zika vírus também aumentaram, agora são 729 notificações de zika vírus, 701 em janeiro e 28 em fevereiro. Este ano a doença foi confirmada em duas mulheres que estavam grávidas, mas já tiveram bebê. No balanço anterior eram 487 casos. Já a febre chikungunya, que registrou 80 em janeiro, teve apenas uma notificação em fevereiro.
Enquanto as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti – dengue, zika e chikungunya – tem cada vez mais casos registrados em Campo Grande, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) ainda não divulgou o boletim epidemiológico. Os dados deveriam ser publicados há dois dias, mas por conta do período de carnaval não foram concluídos e a previsão da SES é de divulgar o boletim somente hoje (12).
Números – Em Mato Grosso do Sul o boletim epidemiológico, divulgado na quarta-feira (3) da semana passada, apontou 12.219 casos suspeitos de dengue nas quatro primeiras semanas do ano.
O número representa 3.950 novos casos suspeitos em relação ao levantamento anterior, o total é 47,7% maior. Também já supera os dados de 2014, quando foram computados 9.256 casos ao longo do ano.
Já entre os dias 24 e 30 de janeiro, foram registradas 1.804 notificações, contra 2.133 das computadas entre os dias 17 e 23 deste mês, o que representa uma queda de 15,4% de casos suspeitos em uma semana.
O município de Dois Irmãos do Buriti lidera o ranking de cidades com maior índice de incidência do Aedes aegypti, com 172 notificações, seguido de Deodápolis, com 175. Em terceiro lugar vem Caracol, com 74 casos suspeitos.
Na Capital, as confirmações de óbitos devido a dengue continuam sendo as mesmas do último boletim, com dois casos, uma criança de 8 anos, que morreu no dia 12 de janeiro na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Vila Almeida ao dar entrada com dengue clássica e depois sofrer uma parada cardíaca e a adolescente Karolina Ribeiro Soares Rodrigues, 16, que morreu um dia depois no Hospital Regional Rosa Pedrossian. Em todo o Estado foram registrados 17 óbitos no ano passado por causa da doença.
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