Prefeito afastado garante que escândalo dos ‘cheques em branco’ foi fabricado e tenta anular investigação
Investigado por suposta participação em esquema estelionatário, o prefeito afastado Gilmar Antunes Olarte (PP por liminar) afirma que foi vítima de uma armação e tenta anular toda a investigação que deu origem ao processo. Segundo ele, os cheques apresentados pelas testemunhas-chave são de quantia irrelevante se comparados aos seus vencimentos e possuem diversos indícios de fraude.
Em sua defesa, Olarte usa também a análise da perícia forense, que desqualificou parte das lâminas entregues pelo agiota Salem Pereira Vieira. Por causa disso, ele aposta na perda total do inquérito conduzido pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). “Só isso anularia toda a investigação. Ficaram criando corpo, usando de falácias”, explica.
Destacando que “contaram mentiras” ao Ministério Público Estadual, o prefeito afastado garante que os cheques trocados entre o agiota e o ex-servidor comissionado da prefeitura Ronan Edson Feitosa de Lima, não tinham nenhuma relação com sua vida pessoal ou suposto esquema para comprar vereadores. Mais que isso, ele ironiza que o valor apresentado não compraria nenhum voto de parlamentar.
Em sua argumentação, Olarte explica que foram anexados cheques que, somados, atingem quantia próxima a R$ 180 mil, mas foram reduzidos a cerca de R$ 140 mil após as lâminas falsificadas serem descartadas. Considerando que a tese da acusação é que cada vereador recebeu, em média, R$ 1 milhão para votar a favor da cassação do prefeito Alcides Bernal (PP), o valor arrecadado seria ínfimo.
Contabilista por formação, Gilmar também destaca que ele e a esposa, Andreia Olarte, possuem duas empresas, sendo uma na área de contabilidade e outra no comércio para o atacado, que complementavam a renda do salário de vice-prefeito. “Não temos necessidade de trocar um monte de ‘chequinho’ sem fundo. Se houvesse mesmo compra de vereadores, eu tinha como fazer sem precisar dos cheques. Temos crédito junto aos bancos”, justifica.
Provas testemunhais
Em relação às possíveis vítimas do golpe estelionatário, Olarte utiliza o depoimento da secretária Marly Deborah Pereira durante audiência no TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). Segundo ele, a ex-aliada afirmou que ele trocou cheques para viajar ao interior do Estado. “[Eu e a Andreia] fizemos crescer uma loja que começou pequenina. Como eu não vou ter R$ 700 para ir a Ponta Porã?”, questiona.
Marly prestou depoimento em 27 de novembro de 2015. Na ocasião, ela contou que frequentava a igreja Adna (Assembleia de Deus Nova Aliança) e trabalhou sem nomeação durante a campanha eleitoral em 2012. De acordo com ela, Ronan começou a pedir os cheques em branco e, para convencer os fiéis e amigos, ele prometia nomeações na prefeitura e outras vantagens, que eram sempre confirmadas pelo pastor progressista.
Discurso que Olarte nega veementemente. Na versão dele, Ronan frequentava a igreja Adna junto com a família, que começou a ser ameaçada por agiotas. Ele garante que tentou ajudar apenas para evitar que o pior acontecesse já que um cobrador teria invadido a casa da irmã de Ronan e destruído tudo, além de ameaçá-la e a mãe dela de morte. “Como pastor eu ajudei”, pontua.
Além disso, Gilmar afirma que os agiotas perceberam que não iam receber e tentaram um ‘alvo maior’, com mais condições e sabiam que estavam sendo gravados o tempo todo. “Cortaram o trecho do áudio em que eu digo ‘eu não tenho nada a ver com isso’ e divulgaram para toda a imprensa. Foi tudo armado”. Também questiona a demora de Bernal em exonerar Ronan mesmo sabendo do problema. “Por que não exoneraram no meio do ano de 2013 sendo que os problemas foram informados para a secretaria?”.
Compra de vereadores
Em relação à possível compra de vereadores, Olarte ainda aponta a relação conturbada entre o prefeito e a Câmara Municipal e garante que todos os crimes que culminaram na cassação foram ratificados pela CGU (Controladoria-Geral da União). “Isso é uma piada. Eu não precisava trocar R$ 140 mil em cheques até porque os vereadores não precisavam ser comprados. O Bernal criou uma situação insustentável, criou uma guerra desde o primeiro dia, até ameaçou jogar os vereadores na rodoviária velha”, enumera.
Apesar das duas denúncias estarem relacionadas, as investigações de possível compra de parlamentares e de suposto estelionato tramitam separadamente. Em relação ao escândalo dos ‘cheques em branco’, o Ministério Público trabalha com a tese de que Olarte e Ronan atuavam “fazendo ofertas de ajuda política, empregos futuros e outras participações no executivo municipal” para obter “cheques bancários, que passaram a descontar com agiotas ou em factorings [compra de ativos financeiros], deixando sem fundos as respectivas contas bancárias, causando prejuízos aos seus titulares”. O caso segue para julgamento.
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