sexta-feira, 26 de junho de 2015

O Brasil precisa acordar para o terror


Um terrorista invade uma igreja em Charleston e, motivado pelo racismo mais ignóbil, promove uma chacina que deixa nove negros mortos. Nem dez dias depois, uma usina de gás de propriedade americana é invadida na França e, numa tentativa de explodi-la, terroristas decapitam uma pessoa. Na Tunísia, simultaneamente, um resort de praia é invadido por terroristas armados que deixam pelo menos 27 mortos. No o mesmo dia, uma explosão em uma mesquita xiita do Kuwait, assumida pelo Estado Islâmico, deixa ao menos oito feridos, e um ataque à cidade de Kobani, na Síria, mata 145 civis.

A lógica do terror é a mesma em toda a parte. Mudam os atores, a nacionalidade, a religião ou a cor das vítimas, mas o objetivo permanece o mesmo – espalhar o medo pela população e fazer propaganda das ideologias mais despiciendas: o racismo supremacista, o islamofascismo e todos os “ismos” que promovem a destruição de alguém apenas porque ele é “diferente”. O brasileiro sempre se julgou a salvo do terrorismo. Nada mais ilusório. Precisamos acordar com urgência para a ameaça. O terror busca os holofotes. Os Jogos Olímpicos de 2016 já fazem do nosso país um alvo preferencial de ataques, num momento em que o mundo todo vive um clima de tensão ante a ascensão de grupos capazes de fazer o impensável.

O mais ameaçador deles é o Estado Islâmico (também conhecido como Isis, Isil, Ei ou Daesh), que pretende eliminar os infieis e restabelecer no território do Oriente Médio um califado governado pela interpretação mais tacanha e deturpada da lei islâmica. Desde a revelação dos crimes nazistas no final de Segunda Guerra, não surge algo tão desprezível, vil e abjeto. Em vídeos de propaganda disponíveis online, o Isis exibe o assassinato de infieis pelas estradas do Iraque. De dentro do carro em movimento, terroristas metralham inocentes pela janela apenas porque… estavam passando. Quem tiver estômago, pode procurar na internet o vídeo chamado Clanging of the Swords, parte IV (recuso-me a incluir o link). Quem estiver interessado em ler a respeito e entender as motivações que levam gente do mundo todo a aderir a esse tipo de barbárie pode ler a excepcional reportagem de Graeme Wood publicada em março pela revista The Atlantic. O jornal The New York Times tem mantido uma página em que registra todos os avanços do grupo no território da Síria e do Iraque, além de seus ataques terroristas. Se há vencedores na guerra insana que se espalhou pela região nos últimos anos, têm sido os terroristas.

O brasileiro médio costuma achar esse tipo de ameaça distante, muito embora o Brasil já tenha fornecido vários recrutas ao Estado Islâmico. Tramita no Congresso há tempos uma Lei Antiterrorismo, para garantir que a polícia e a Justiça disponham da autoridade necessária para combatê-la. Infelizmente, ela anda parada, sob pressão de movimentos sociais que temem que seja cerceado seu direito de protestar. Essa visão é escandalosamente absurda. O terrorismo é uma atividade repugnante que nada tem a ver com a livre manifestação. Exige não apenas nossa repulsa, punição e condenação veemente – sempre, sem exceção. Com o aumento dos riscos e a aproximação da Olimpíada do RIo de Janeiro, exigirá também que as autoridades tenham meios legais e técnicos de deter atos terroristas antes que eles ocorram. Ou então – como mostram as vítimas de hoje na França, na Tunísia e no Kuwait – poderá ser tarde demais.

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