terça-feira, 16 de junho de 2015

Para manter conquistas, classe C dá 'reboladas'

Quando a crise econômica chega às prateleiras dos supermercados, significa que os desequilíbrios avançaram para os últimos canais de transmissão da economia. É a fase mais perversa das crises porque atinge diretamente a qualidade de vida das pessoas, especialmente das classes menos favorecidas. Esse quadro vem sendo forjado há meses, infelizmente. E vai demorar outro tanto para se dissipar.
As vendas no comércio tiveram queda de 0,4% em abril, o pior resultado para o mês em mais de 10 anos. Na comparação com abril de 2014, a queda chega a 3,5%, um tombo para uma economia que viveu desse setor nos últimos anos. Tão importante quanto entender o que está acontecendo agora é debater sobre como o varejo pode ir tão bem durante tanto tempo e “de repente” desabar.
Aí que mora o detalhe mais importante dessa história. Nos últimos anos, o comércio vendeu muito (de tudo!) porque o governo, sob o comando do ex-ministro Guido Mantega, criou um mundo cor-de-rosa para o consumo com dinheiro barato artificialmente, preços controlados, redução de impostos e muitas “pedaladas” nas contas públicas.
Pois agora que a “cortina caiu”, a classe C terá que dar muitas “reboladas” para manter minimamente as conquistas da última década. Tudo que estava camuflado pela gestão equivocada de Mantega no primeiro mandato de Dilma Rousseff, aparece agora com a força d'água represada, com as comportas recém abertas. Estamos todos enfrentando uma enxurrada de reajustes com intensidade estrambólica – caso da conta de luz que chega a 60% em algumas regiões do país – e de tantos outros serviços e produtos que estavam incorporados à vida dos brasileiros.
Um estudo feito em abril pela Plano CDE, uma consultoria especializada no comportamento da classe CDE, mostra o que a classe média brasileira está fazendo para driblar a crise e não perder muito. A pesquisa foi realizada em abril, com 200 famílias de várias regiões do Brasil. As conclusões do levantamento indicam, entre outras coisas, que houve uma mudança no caráter das escolhas das famílias.
Será quase impossível escapar de cortes e muitos já estão sendo feitos. A diferença é que o entendimento sobre o que é mais importante mudou: cortam a carne mas não a internet e o wi-fi, que têm um papel relevante na vida dos filhos que, aliás, se tornaram os protagonistas das decisões das famílias, segundo a pesquisa do Plano CDE. As mulheres, líderes da maioria das famílias, vestiram a capa de caçadoras de promoção, diminuindo a jornada de compras, dando preferência ao atacado e trocando de marcas sem peso na consciência.

Refeição e lazer fora de casa já estão limados. O salão de beleza também foi para o final da lista de prioridades. O consumidor está “rebolando” para não perder. O varejo também precisará se mexer para não afundar com a crise que vai se impor enquanto juros, inflação e desempregos estiverem em alta e o investimento em queda. As famílias estão dando a dica: com a internet mantida, está aberta uma porta para prestação de serviços que possam repor as alegrias da classe média sem que ela tenha que sair do sofá.

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