terça-feira, 16 de junho de 2015

Petistas acusam CPI da Petrobras de ‘golpe’ ao convocar Okamotto

Deputados questionam aprovação durante intervalo da votação no plenário.
Presidente da comissão rebate críticas e diz que age com imparcialidade.

Fernanda CalgaroDo G1, em Brasília
Em uma sessão tensa, deputados petistas integrantes da CPI da Petrobras acusaram nesta terça-feira (16) o colegiado de aplicar um “golpe” e uma “manobra” na semana passada para conseguir aprovar a convocação do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
Irritados, eles reclamaram que a aprovação se deu justamente durante uma breve interrupção da votação no plenário principal da Casa, que durou 13 minutos.
Pelo regimento interno, não pode haver votações nas comissões enquanto tiver votação no plenário, chamada de ordem do dia.
 

Durante a suspensão temporária dos trabalhos no plenário, os deputados da CPI, então, aproveitaram para votar, de uma só vez, 140 requerimentos, a maior parte contrária ao PT, incluindo, além da convocação de Okamotto, diversas acareações entre o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e delatores da Operação Lava Jato.
Okamotto foi convocado para prestar esclarecimentos sobre doações de R$ 3 milhões feitas, entre 2011 e 2013, pela construtora Camargo Corrêa à entidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A empreiteira é uma das empresas suspeitas de integrar o esquema de corrupção que atuava na Petrobras.
“Foi feita uma manobra da pior espécie para envolver o Paulo Okamotto. Há uma parcialidade da comissão”, protestou a deputada Maria do Rosário (PT-RS), acrescentando que houve uma “gambiarra” para permitir a aprovação dos requerimentos.
Para o deputado Jorge Solla (PT-BA), os requerimentos foram aprovados “na calada” da suspensão dos trabalhos no plenário. “É um absurdo. Foi dado um golpe para aprovar mais de cem requerimentos”, criticou.
O deputado Afonso Florence (PT-BA) reclamou ainda que não constavam da ata os momentos em que a votação no plenário principal da Casa foi suspensa e depois reiniciada. “É preciso que isso fique registrado”, pediu.

“Se houve possibilidade de os requerimentos serem votados foi porque uma deputada do PT pediu a suspensão da sessão”, disse.
O presidente da comissão, Hugo Motta (PMDB-PB), esclareceu que as inclusões serão feitas na ata, mas rebateu as críticas e disse que age com imparcialidade na condução dos trabalhos da CPI. Ele ressaltou ainda que a ordem do dia foi suspensa na quinta passada a pedido da deputada Moema Gramacho (PT-BA).
A deputada Eliziane Gama (PPS-MA), autora de um dos requerimentos que pedia a convocação de Okamotto, rebateu as críticas petistas argumentando que a comissão já devia ter aprovado a convocação de Okamotto com “muito mais antecedência”.
O deputado Bruno Covas (PSDB-SP) também refutou as críticas do PT em relação ao teor da ata e observou que toda a sessão da semana foi toda gravada e o áudio, assim como as notas taquigráficas, estão anexados ao documento da ata. “Estão querendo fazer que a própria ata seja a nota taquigráfica”, alfinetou.
Blindagem
O deputado Izalci (PSDB-DF) questionou a suposta interferência do ex-presidente Lula, que teria se queixado a aliados e ao vice-presidente da República, Michel Temer, sobre a convocação de Okamotto.
Motta se defendeu afirmando que a CPI tem “vida própria” e não sofre interferências externas. “Quero rechaçar, nem posso admitir nenhuma ilação de interferência do governo ou de qualquer líder partidário”, disse. “Temer nunca falou com este presidente sobre o funcionamento desta CPI.”
Diversos deputados, entre eles Ivan Valente (PSOL-SP) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), voltaram a acusar a CPI de parcialidade ao não colocar em votação requerimentos para convocar o empresário e delator da Lava Jato Júlio Camargo, que cuidava do contrato apontado como fonte da propina para Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do ex-policial Jayme de Oliveira, conhecido como Jayme Careca, que teria entregado dinheiro a Cunha.
O presidente da comissão negou mais uma vez haver qualquer tipo de blindagem e acrescentou que não irá ceder à pressão da imprensa. “Eu não vou ceder à manchete de jornal”.
Depoimentos
A CPI da Petrobras ouve nesta terça o ex-presidente do Conselho Administrativo da Sete Brasil Newton Carneiro Cunha e o ex-presidente da empresa João Carlos de Medeiros Ferraz.
Criada em 2010 para fornecer as sondas que a estatal brasileira usaria na exploração do petróleo em águas profundas, a Sete Brasil é investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) por suspeita de pagar propina a funcionários da Petrobras, entre os quais o ex-diretor de Serviços Renato Duque e o ex-gerente da área Pedro Barusco. A empresa tem contratos de mais de R$ 20 bilhões com a Petrobras para a contratação de sondas de perfuração.

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