segunda-feira, 22 de junho de 2015

Na Capital que vai definhando, a disputa tem sido pelo espólio


Todo o rumor e as discussões dessa semana, e que devem se estender, giram em torno do leito onde Campo Grande definha lentamente.
Posse do prefeito Gilmar Olarte.Posse do prefeito Gilmar Olarte.
Seria poético se não fosse trágico e não levasse consigo toda uma população. Seria menos impactante se os problemas causados pelo estupor de uma administração incompetente, sob a desconfiança da Justiça e do povo, criada e blindada por tantas conhecidas e estranhas forças políticas, não sinalizasse para um futuro sem futuro, onde ainda tudo estará para ser consertado. Mas pode ser poético, de uma poesia desgostosa. Como se seguisse a receita de Deliana Varejeira, adaptada para Campo Grande:
“Como definhar lentamente em lume brando... a Receita!
1º meter o seu coração (sua cidade) nas mãos de qualquer palhaço; / 2º não fazer nada quanto a isso, esperar que caia ao chão; / 3º apanhar os restinhos de coração (da cidade) do chão, limpar ligeiramente; / 4º repetir o passo de 1 a 3 até que não sobre nada para apanhar; / 5º terminado o processo, chorar violentamente; / Fim. / Simples, rápido, eficaz e mega-doloroso... como um bom desgosto deve ser!
O prefeito Gilmar Olarte, que se mantém no PP por liminar e, por mais que busque não consegue espaço em nenhum dos outros 31 Partidos, nem mesmo naqueles que tão bravamente lhe dão sustentação na Câmara Municipal de Campo Grande, ainda não conseguiu chegar num acordo com os professores da Rede Municipal de Ensino, que mantém sua greve. Também não consegue explicar falta de merenda as escolas e tenta imputar o mal caratismo de seus auxiliares que assediam os grevistas com toda a sorte de ameaças, aos próprios professores. ““Não existem ameaças, não existe coação, são frases montadas e criadas para tentar colocar a população contra o Prefeito”, disse Olarte. Como se precisasse disso para a população estar contra sua pessoa e sua gestão.
Investigado por uma Justiça que lhe cobra defesa às diversas acusações, outra justiça tem contemporizado. Cobrado pela população pelos desmandos e desserviços, tem sido afagado por legisladores em nome da governabilidade que, desde sua posse, nunca houve. E o eleitor questiona os motivos pelos quais tantos e tão ferrenhos defensores não convidam para seus partidos esse administrador e político tão diligente? Coisas não da Política, mas dessa política que se faz.
Enquanto isso a Justiça que investiga e denúncia abre novas frentes. O prefeito e os secretários de Obras e Educação, Valtemir Brito e Wilson do Prado, interinamente na pasta da Educação, estão sendo investigados pelo Ministério Público Estadual, no Inquérito Civil de nº 147/2014 por eventual desvio de verba pública de obras municipais e federais que estão paradas na Capital.
Parece até que para a montagem deste quebra-cabeças judicial falta uma peça mantida a sete chaves a quem só tem a perder. Como publicado no MS Notícias: todos os favorecidos com cassação de Bernal devem ter interesse em manter Ronan em silêncio, e talvez, por isso, é possível suspeitar que esse grupo ligado a Olarte que hoje “toma conta” da Prefeitura esteja atuando para garantir que Ronan permaneça longe dos holofotes. (…) Onde está Ronan, ninguém sabe. Se ele irá aparecer é uma dúvida, mas que a estrutura administrativa da Prefeitura pode sim estar sendo usada por Olarte, Raimundo Nonato, Liz Derzi, Paulo Matos e outros para custear o silêncio dele é uma certeza em potencial.
Enquanto isso Olarte vai buscar, além de fotos ao lado de famosos, no melhor estilo 'tiete' e que lhe permita mostrar um poder que não tem, é rechaçado nas antessalas dos gabinetes em Brasília e tem que fugir das vaias e de seus adversários nos saguões dos aeroportos. Onde queria um partido que lhe desse guarida...
O presidente da Câmara Municipal, Mario Cesar (PMDB) parece haver decidido retomar o “peso da Democracia” e suas prerrogativas como representante mais direto e próximo do eleitor – talvez não da população –, e entre a maioria dos vereadores da Casa de Leis que comanda e que é favorável à gestão Olarte (que conta com um líder interino, Edil Albuquerque [PMDB] e dois extraoficiais, João Rocha [PSDB] e Airton Saraiva [DEM]; e a maioria da população que desaprova o atual prefeito (pesquisas não divulgadas apontam que esta rejeição está acima de 80%), ficará com a maioria democrática.
O tempo de blindagem e camaradagem da Câmara de Vereadores de Campo Grande com prefeito Gilmar Olarte está se esgotando, segundo declarações feitas por Mario Cesar, que se reuniu com Prefeito para discutir o reajuste salarial dos professores, como havia prometido aos vereadores da oposição e aos professores, e conseguiu obter de Olarte o compromisso de pagar o reajuste integral de 13,01%, sem parcelamento, sem data definida, mas que acredita será em breve. “Estive ontem com Prefeito e ele concordou em pagar os 13,01%, só falta definir data, mas acredito que agora conseguimos avançar e a greve deve acabar”, disse Mario.
Olarte não tem cumprido com o que se compromete e, talvez, esse acordo apalavrado seja mais um ato da versão da peça mal rascunhada para esvaziar a instauração da Comissão Processante pedida pela oposição e parte dos independentes. Aliás para um PMDB que já vem se esfacelando pelos seus próprios desencontros, a defesa de Olarte por parte dos aquinhoados com cargos versus a atitude da vereadora e presidente municipal da legenda, Carla Stephanini com sua ação “Reaja Campo Grande”, tem acelerado o processo e deixará cicatrizes difíceis de curar.
Se temos um Executivo “à força” para nos governar e um Legislativo que “por maioria democrática” o blinda, o único poder que poderia proteger a população é o Judiciário. A Câmara Municipal, caso não haja, comete Crime de Prevaricação, conforme informou Paulo Pedra (PDT). Então nos resta a Justiça, mas para finalizar esta “Receita do Definhar”, cabe perguntar à Justiça a quantas anda o processo contra Olarte?
Por fim, parece que a grande disputa política não tem sido salvar a Capital que definha, mas acelerar o processo de morte para que se lute pelo espólio.

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