quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Coreano de 26 anos que 'não envelhece' intriga a ciência

BBC


Hyomyung Shin aparenta ter cerca de 10 anos; médicos dizem que ele é saudável, mas nenhum exame específico foi realizado.

Ewerthon TobaceDe Tóquio para a BBC Brasil
Médicos dizem que coreano é saudável, mas exames específicos não foram realizados  (Foto: Arquivo pessoal/ BBC)Médicos dizem que coreano é saudável, mas exames específicos não foram realizados (Foto: Arquivo pessoal/ BBC)
Ele tem 26 anos, mas sua aparência é de um pré-adolescente de no máximo 10. Hyomyung Shin ganhou fama na Coreia do Sul após aparecer em um programa de tevê local e, agora, vídeos seus no Youtube se tornaram virais no mundo todo.
Nascido em 5 de janeiro de 1989, Hyomyung conta que percebeu que havia parado de envelhecer somente aos 18 anos.
“Uma vez fui a um reencontro de colegas da escola e todos meus amigos já estavam crescidos. Eu era a exceção”, diz em entrevista à BBC Brasil.
Os médicos que cuidam do coreano garantem que ele é saudável. Ele, no entanto, nunca passou por um exame mais completo para saber as causas do lento envelhecimento.
Com 1,63 m e jeito de quem não passou pela puberdade, Hyomyung diz levar uma vida normal, inclusive no trabalho, em um escritório de consultoria técnica - onde diz nunca ter tido problemas para ser respeitado. Ele também é DJ nos fins de semana.
Hyomyung só percebeu que não envelhecia mais aos 18 anos  (Foto: Arquivo pessoal/ BBC)Hyomyung só percebeu que não envelhecia mais
aos 18 anos (Foto: Arquivo pessoal/ BBC)
Mas o programa de TV que o alçou ao sucesso mostra algumas dificuldades: em uma boate e durante um encontro, as mulheres não acreditavam em sua idade real.
Na TV, ele aparece dançando, bebendo e falando sobre o sonho de ter uma namorada.
Mas quando questionado sobre as desvantagens de parecer mais novo, Hyomyung cita apenas uma: ser alvo de brincadeiras de outros jovens da mesma idade.
Ele também é obrigado a andar com o documento sempre na mão, principalmente quando sai à noite ou vai comprar bebidas alcoólicas. Mas isso, ele garante, não o incomoda.
“Uma vantagem de ter cara de menino é que quando vou para o interior e entro nas lojas ou restaurantes os mais idosos ficam me chamando de fofo, me dão desconto e, às vezes, até consigo coisas de graça.”
Hyomyung diz também ter medo de envelhecer de repente. “Eu ficaria com medo se começassem a aparecer rugas”, diz.
“Vivo com esse rosto jovem há sete anos. Se envelhecesse de repente, acho que perderia um pouco da diversão da vida.”
Segundo Hyomyung, o caso dele não é único na família.
“A minha irmã mais velha também parece bem mais nova do que sua idade real. Ela tem 31 anos e aparenta ser uma estudante do Ensino Médio, eu diria.”
Programa de tevê
Hyomyung apareceu pela primeira na tevê em 2012, em um especial de ano novo lunar (o ano novo chinês), num concurso chamado “Baby Face” (“Cara de Bebê”, numa tradução literal).
No ano seguinte, uma emissora de tevê coreana fez um especial somente com ele, no qual mostrou sua vida. O programa mostra ele de pijama de bolinha, sentado na cama em um quarto com decoração colorida e falando com voz aguda, sem as mudanças de tom típicas da puberdade.
Segundo ele, única desvantagem de parecer novo são piadas de jovens da mesma idade  (Foto: Arquivo pessoal/ BBC)Segundo ele, única desvantagem de parecer novo são piadas de jovens da mesma idade (Foto: Arquivo pessoal/ BBC)
A mídia coreana divulgou que Hyomyung era portador de uma síndrome rara, chamada Highlander, informação que foi replicada pelos jornais do mundo todo.
Mas o professor Moisés E. Bauer, coordenador do Instituto de Pesquisas Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), atenta para o fato de não haver precedentes como o do coreano na bibliografia médica.
“Devemos evitar a divulgação de 'possíveis achados que poderiam ser chaves para encontrar a cura para parar o envelhecimento'. O envelhecimento não é uma doença, todas as espécies envelhecem, embora em taxas diferentes, e precisamos disso para o correto desenvolvimento”, explicou à BBC Brasil o pesquisador, que coordena o Laboratório de Imunologia do Envelhecimento.
Além disso, Bauer diz que portadores de síndromes raras estudadas pela ciência apresentam, na verdade, atrasos de crescimento físico e não de envelhecimento retardado.
“Acredito que o aspecto mais importante na área de gerontologia é a geração de conhecimento que leve a um envelhecimento mais saudável”, defende.
 Casos conhecidos
A ciência, na verdade, está ainda longe de descobrir uma cura para o avanço da idade, mas uma pesquisa conduzida pelo médico e cientista norte-americano Richard Walker pode desvendar a chave para conter o envelhecimento do corpo.
O pesquisador diz que a resposta está em uma doença rara que nem sequer tem um nome real, "Síndrome X". Ele identificou quatro meninas com essa condição, marcadas por aquilo que parece ser um estado permanente de infância, uma parada dramática no desenvolvimento.
Ele suspeita que a doença é causada por uma falha em algum lugar no DNA das meninas. Não é o caso do coreano Hyomyung Shin.
A história mais famosa é a da garota Gabby Williams, de 10 anos, que pesa apenas 5 quilos e tem aparência de um bebê. Há ainda o caso da australiana Nicky Freeman, de 44 anos, que aparenta ter 10 anos.
Avanços
O professor Bauer reforça que a Medicina já avançou muito na busca por meios de controlar o envelhecimento de forma saudável. “As populações estão aumentando a suas expectativas de vida, num reflexo do avanço no desenvolvimento das sociedades.”
Além disto, do ponto de vista científico, o cientista lembra que já conhecemos muito sobre intervenções nutricionais (como micronutrientes e antioxidantes), hormonais (como a reposição com hormônio do crescimento) e psicológicas (a exemplo da redução dos níveis de estresse), que promovem alterações comportamentais e biológicas que lembram um envelhecimento atenuado.
“Observamos no nosso laboratório que uma intervenção de acupuntura é capaz de reverter alguns aspectos de imunossenescência (que se refere à deterioração natural do sistema imunológico) em idosos saudáveis”, exemplifica.

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