Redação | 29 de Agosto de 2015 às 07:00
Reunir-se com todos os vereadores, incluídos os que votaram por seu afastamento; procurar o governador Reinaldo Azambuja (PSDB); e recorrer ao valioso apoio das representações parlamentares locais e nacionais foram as agendas políticas que receberam tratamento prioritário de Alcides Bernal (PP) desde quarta-feira, 25, logo ao ser informado da decisão do Tribunal de Justiça (TJ-MS) devolvendo-lhe o cargo de prefeito, arrancado pela Câmara Municipal em março de 2014. Segundo Bernal, no retorno ao Executivo ele quer reoxigenar as parcerias institucionais e tratá-las como peças de uma engrenagem de gestão que tem na sociedade sua força motriz.
“Não deixei de aprender profundas lições nesse período em que estive afastado. Foram 17 meses nos quais, apesar de continuar recorrendo da cassação, refleti bastante, fiz uma severa autocrítica, indaguei-me sobre decisões que tomei e que deixei de tomar. E tive duas certezas fundamentais: uma, a de que nenhum revés significa derrota total, sempre temos a ganhar quando sabemos perder aprendendo as lições pertinentes; e outra certeza, a de que nas vitórias sobre quaisquer adversários ou adversidades, o vencedor não tripudia, deve saber ganhar e entender que o que dignifica é a legitimidade de sua luta”, afirma Bernal.
De posse do resultado da decisão que o reconduziu ao cargo, Bernal lembra que agradeceu primeiro a Deus. Em seguida rogou por proteção e sabedoria para tomar as decisões corretas, além de apelar à misericórdia divina para blindar-se contra o rancor e não permitir que desejos de vinganças ou de retaliações prosperassem, nem dentro de si nem nos círculos de pessoas e instituições que o ajudarão a governar.
“Cultivar o ódio, rancor ou desejos de vingança fazem de quem ganha uma batalha um vencedor. Essa é a derrota que não quero. Revanchismo não leva a lugar algum, a não ser ao poço dos medíocres e fracassados”, pontua. Sobre o pedido de auditoria nas contas da Prefeitura, Bernal a considera inevitável, pois, está assumindo uma administração cujas disponibilidades e demandas financeiras são desconhecidas. Médicos e professores em greve por três meses, salários contingenciados, transferências não-realizadas e um verdadeiro caos em diversos setores, além das investigações de operações policiais sobre práticas criminosas que afetaram as contas publicas – tudo isso impõe medidas drásticas que possam revelar a radiografia do que se tem e do que precisa ser feito.
SEM MILAGRES - Bernal recusa-se a ser visto como “salvador da Pátria”, mas está confiante nos resultados do trabalho que reinicia. Garante não dispor de fórmulas milagrosas. Contudo, mesmo privado de um terço de seu mandato, afiança: “O tempo que foi perdido não volta, mas o Município vai sair desse poço de prejuízos. Daqui em diante, faremos com a comunidade o nosso tempo, um novo tempo, com soluções de curto, médio e longo prazos para os diversos problemas”, antevê. E diz que para ter um governo de resultados é essencial construir um governo resolutivo.
“Temos bons profissionais no serviço público, pessoas que se doam dia e noite por Campo Grande e merecem condições dignas de trabalho. Esta é uma das prioridades determinantes, que inclusive já vínhamos cumprindo até sermos afastados. Buscarei, antes de tudo, salvaguardar a meritocracia. Por isso, reduzir o contingente de cargos comissionados não é apenas por uma questão de economia. Esta é uma questão imediata, mais próxima. Porém, queremos enxergar longe e caminhar hoje já andando no futuro”.
Quanto aos problemas estruturais, o prefeito entende que há rituais que precisam ser obedecidos, não só em relação às obras e serviços que dependem de recursos, mas também pela necessidade de ampliar e ajustar as parcerias com direcionamento estratégico. “O País atravessa uma crise feroz. Mas é uma travessia. Não vamos nos deter no meio da tempestade. Vamos seguir adiante, com sacrifício, com renúncias, mas recorrendo às inteligências que estão irmanadas nesse caminhar”, frisa.
Bernal insiste em conclamar toda a sociedade a estabelecer de vez um ambiente político-administrativo de unificação de objetivos, sem prejuízo das escolhas e projetos de cada um. “Ano que vem teremos eleições, a democracia precisa renovar seu fôlego e cada partido tem legitimidade para defender seu próprio projeto. O que podemos fazer, todos nós, é não permitir que esses projetos eleitorais interfiram no curso da gestão da cidade”, advoga. E completa: “Isso implica coexistência de governo e de oposição, cada um com seu papel e ambos devem ser respeitados. O legislativo exerce o papel institucional de fiscalizar as ações do Executivo. É legítimo e é absolutamente necessário esse papel, que pode ser exercido sem excluir a construção de parcerias institucionais necessárias na busca de soluções de interesse publico”, assinala.
“SOU FORJADO NA CONVIVÊNCIA” - Para um líder que no auge da convulsão política que o alijou do cargo foi carimbado pelos mais diversos estigmas – inclusive os de bipolar, instável e individualista -, Bernal surpreende quem não o conhecia melhor e quem tem a oportunidade de ouvi-lo agora e avaliar a firmeza e a serenidade de sua expressão confiante:
“Sozinho, sou apenas um. Apenas um homem com uma ideia. Mas nem eu e nem minha ideia vão prosperar se eu insistir em seguir só, confundindo individualismo com individualidade. Não é este o meu caráter. Sou forjado na democracia, na convivência, na partilha, por formação familiar, pela origem geográfica de fronteiriço (nasceu em Corumbá, fronteira com a Bolívia, e tem ascendência paraguaia) e pelas convicções cristãs. Jamais eu poderia fazer qualquer coisa na política sem precisar do coletivo. Por isso, as organizações comunitárias, as entidades organizadas, os conselhos, enfim, sempre terão vez e voz no governo. E o trabalho em equipe vai refletir esse compromisso, que é uma condição inegociável para o êxito do mandato de prefeito”.
Alcides Bernal já se avistou, esta semana, com os vereadores e o governador Reinaldo Azambuja, além de conversar informalmente com deputados estaduais, deputados federais e senadores. Sua agenda de paz e diálogo – como a denomina – inclui o aprofundamento de conversas com a sociedade, mobilizando instituições publicas e privadas, entre as quais a Associação Comercial e Industrial, a Federação das Indústrias (Fiems), a Federação da Agricultura e Pecuária (Famasul), a Associação dos Criadores (Acrissul), a Federação do Comércio (Fecomércio) e o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae-MS), entre outras.
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