Até mesmo os vereadores que eram vaiados durante suas falas, neste longo período de trevas em que vive Campo Grande, ressaltavam a ordem das manifestações. Por vezes, ruidosa, outras mais exaltas, mas respeitados poderes do povo e dos parlamentares. Hoje tudo ruiu. A Câmara Municipal de Campo Grande, Capital de Mato Grosso do Sul, sob o comando do vereador Mario Cesar (PMDB) e as ordens do prefeito empossado Gilmar Olarte (PP por liminar), não bastasse a blindagem “subjetiva” (e, na verdade, efetiva) arrogada pelo Prefeito, reviveu os piores momentos da Ditadura Civil-Militar sob a qual o país esteve a julgo durante o final do século passado.
Evidente que a sessão de hoje (4) não seguiria os caminhos normais, e isso ficou claro quando substituindo a pizza, entregue pelos professores em greve antes do recesso parlamentar, foi servido cafezinho àqueles que passavam pela Avenida Ricardo Brandão, numa clara demonstração de crítica motivada pela divulgação da gravação telefônica feita com autorização da Justiça, entre o presidente da Câmara, Mario Cesar e o empresário João Amorim, por meio de sua secretária e sócia Elza Cristina de Araújo dos Santos, investigados pela Operação Lama Asfáltica desencadeada por uma força tarefa composta pela Polícia Federal, Receita Federal, Ministério Público Federal e Controladoria Geral da União, em que marcavam data e hora para tomar o delicioso cafezinho.
Mario Cesar concedeu entrevista, antes de assumir a presidência da Mesa Diretora, evidenciando todos os motivos, notícias divulgadas pela imprensa, pareceres jurídicos e resultado das CPIs instauradas durante a gestão do prefeito eleito Alcides Bernal (PP), justificando os motivos pela qual a Casa instaurou a Comissão Processante que levou à cassação do prefeito. O plenário estava claramente disposto a impedir os trabalhos legislativos e a manifestação dos poucos vereadores que compareceram. O restante do plenário foi ocupado por alguns guardas municipais à paisana e um grande efetivo da Guarda Municipal deslocada para o local pelo secretário municipal de Segurança Pública, Valério Azambuja, para proteger o patrimônio público do público.
Nos melhores moldes do poder pela força, segundo informações obtidas de professores presentes na manifestação, um dos guardas municipais, após encerrada a sessão, resolveu confrontar uma das professoras que se manifestava contra os vereadores, e para evitar alguma agressão foi contido por outros dois professores. Conforme vídeo que foi postado nas redes sociais, “Pra todo mundo ver...guardas municipais a paisana espancam professores. E sabem o que aconteceu???? Prenderam o professor!!!”
Um dos presentes à sessão, revoltado, comentava que a política de Campo Grande acompanha com décadas de atraso o país: “Como o Brasil, quando conseguimos romper o coronelismo, nos enfiamos numa Ditadura. Ainda quero ver o dia que teremos, em Campo Grande, o exercício da Democracia”.Após o encerramento dos trabalhos legislativos, a tropa da Guarda Municipal tomou o espaço que separa o público dos parlamentares formando uma barreira de escudos, demonstrando a força democrática dos vereadores que, conforme as palavras do próprio prefeito empossado Gilmar Olarte, lhe “blindam”. Mesmo os jornalistas, no exercício de sua função, quando saíram do plenário para acompanhar as manifestações que ocorriam do lado de fora, foram impedidos pela Guarda Municipal de retornar ao plenário.
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