terça-feira, 15 de março de 2016

Em depoimento à PF, Lula insinua que Delcídio é 'bandido' e mentiroso

Informação está nas falas do ex-presidente para a Polícia Federal

Delcídio e Lula, na campanha eleitoral do sul-mato-grossense (foto: assessoria)Em depoimento à PF, Lula insinua que Delcídio é 'bandido' e mentiroso
Delcídio e Lula, na campanha eleitoral do sul-mato-grossense (foto: assessoria)
“Qualquer bandido que for prestar delação premiada fica manchete de jornal”. É o que insinua o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, em relação ao senador Delcídio do Amaral. A informação consta em depoimento dado à Polícia Federal e divulgado nesta segunda-feira, 14 de março. A delação premiada de Delcídio, há espera de ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal, teria ocasionado na operação da PF que levou o ex-presidente em condução coercitiva em quatro de março.

No depoimento, Lula criticou as delações premiadas, incluindo a de Delcídio, e também insinuou que o senador teria mentido. “Então, esse depoimento do Delcídio ontem, essa delação premiada, ou seja, nós estamos vivendo que situação nesse país? Ou seja, não existe mais a política, não existe mais a Justiça, ou seja, existe uma quantidade de mentiras”, afirmou Lula, aparentemente irritado. As falas são cópias exatas do depoimento disponibilizado pela Polícia Federal.

Em 3 de março, supostos trechos da delação premiada do senador Delcídio foram divulgados pela revista IstoÉ e denunciaram suposto envolvimento do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, ambos do PT, nas denúncias de desvio de recursos na Petrobras. Lula também foi citado no depoimento do petista como responsável por marcar uma conversa entre Delcídio e o filho de Nestor Cerveró, Bernardo, que acabou culminando na prisão do sul-mato-grossense no âmbito da Lava Jato. Nas palavras da revista: “senador petista revela que Dilma interferiu nas investigações da Lava Jato e que Lula é o mandante dos pagamentos à família de Cerveró”.

A conversa gravada por Bernardo aconteceu em um hotel de Brasília (DF), em 4 de novembro do ano passado, com a presença do chefe de gabinete do petista, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ferreira que, segundo as investigações, foi contratado para defender o ex-diretor da Petrobras, mas atendia aos interesses de Delcídio.

Nos áudios que embasaram o pedido de prisão do MPF (Ministério Público Federal), o petista planeja uma rota de fuga para o ex-diretor da Petrobras, tendo avaliado até mesmo o modelo do avião que poderia levar o prisioneiro até a Espanha. Preocupado com possível escala na Venezuela para recarregar o tanque de combustível, ele sugere o uso de um modelo Falcon 50, que completaria a viagem, a partir do Brasil ou do Paraguai, sem paradas.

Segundo o MPF, Delcídio tentava comprar o silêncio de Cerveró que aceitou o acordo de delação premiada em 18 de novembro de 2015. Ele iria usar sua influência política conversando com os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), para conseguir um pedido de habeas corpus e organizar a fuga.

Além disso, o senador também ofereceria suporte financeiro para a família do investigado, que contaria com o apoio de André Esteves, controlador do Banco BTG Pactual. “O Senador Delcídio Amaral ofereceu a Bernardo Cerveró auxílio financeiro, no importe mínimo de R$ 50 mil mensais, destinado à família de Nestor Cerveró, bem como prometeu intercessão política junto ao Poder Judiciário em favor de sua liberdade, para que ele não entabulasse acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal”, diz o relatório.

O advogado Edson Ribeiro também recebeu a promessa de pagamento dos honorários que tinha convencionado com Nestor, no valor de R$ 4 milhões. Já o chefe de gabinete, Diogo Ferreira, foi indiciado porque conhecia as tratativas ilícitas e demonstra, durante a reunião, que está disposto a acobertar possíveis crimes praticados por Delcídio.

“Em ao menos um segmento da conversa gravada, Diogo Ferreira revela alinhamento evidente com esse propósito: ele se levanta, examina um dispositivo eletrônico dependurado na mochila de Bernardo Cerveró e, ato contínuo, liga o televisor que havia na sala e aumenta o volume, passando a postar-se entre a mochila e o congressista. Ressalta-se que a conversa transcorreu em quarto de hotel ocupado por Bernardo Cerveró. É induvidoso que Diogo Ferreira agiu para tentar neutralizar a possibilidade de Bernardo Cerveró gravar a conversa”, aponta o Procurador-Geral.


Em seus depoimentos para a Operação Lava Jato, Nestor Cerveró revelou a prática de corrupção passiva durante a aquisição de sondas e da Refinaria de Pasadena, nos EUA, efetuadas pela Petrobras. Ele “descreve, ainda, a prática de crime de corrupção ativa por André Esteves, por meio do Banco BTG Pactual, consistente no pagamento de vantagem indevida ao Senador Fernando Collor, no âmbito de contrato de embandeiramento de 120 postos de combustíveis em São Paulo, que pertenciam conjuntamente ao Banco BTG Pactual e a grupo empresarial denominado Grupo Santiago”, completa o relatório.

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