Falta de servidores ocasiona demora e estende uma situação que se arrasta a anos na capital
Os problemas no serviço de saúde pública de Campo Grande parecem estar longe de ter uma solução, ao menos nas três Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) localizadas em diferentes regiões da cidade. Os locais funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana e têm prioridade em atendimentos de urgências e emergências a adultos e crianças, mas muitas vezes a população campo-grandense não pode contar com o socorro médico nesses locais da forma adequada.
A dona de casa Damaris Duarte, 24, foi à UPA do bairro Universitário, na região sul, para que sua filha, Caroline, de seis anos, recebesse atendimento após de queixar de fortes dores de ouvido. A mãe, que mora no bairro, se encaminhou ao local, mas ao chegar lá foi informada de que, no dia, não havia nenhum pediatra. “Aí me falaram pra ir no Cempe (Centro Municipal de Pediatria), que fica bem longe, mas a sorte é que hoje nós conseguimos uma carona. A minha filha está chorando de dor, mas parece que deixar a gente na mão virou costume, né?”, ironizou.
Foto: Amanda Amaral
Na mesma unidade, a professora Heloisa Alegre, 56 anos, passou por duas situações que disse ser “uma total falta de respeito”, ao tentar encaminhar seu pai, Afonso Leonardo Alegre, 85 anos e cadeirante, aos cuidados de um médico. A primeira atitude ao perceber que o idoso estava passando mal foi ligar para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), sem sucesso.
“Me falaram que tinham outras emergências para socorrer, aí demos um jeito e viemos pra UPA. Chegando aqui, vi duas viaturas paradas. Isso nos faz sentir menos gente, até”, desabafou. Além disso, o idoso esperou por mais de uma hora até ser chamado para a triagem e só então ser encaminhado para atendimento, pois dos quatro clínicos gerais escalados para o período vespertino, apenas dois se encontravam no local.
Foto: Amanda Amaral
Na região norte da Capital, na UPA do bairro Coronel Antonino, a dona de casa Aline da Silva Ortiz, 23 anos, aguardou por cerca de 15 minutos para que seu filho, Caio, cinco anos, recebesse atendimento após episódios seguidos de vômito. Apesar de ser recebida com relativa rapidez pela médica que atendia na unidade, Aline conta que antes passou por uma verdadeira ‘saga’ para saber as causas e diminuir o mal estar da criança. “Passamos no posto de saúde do Nova Bahia, que não tinha pediatra, depois no Cempe, que estava muito lotado, aí viemos pra cá e, pela primeira vez, foi rápido”, conta a mãe.
Na UPA do bairro Vila Almeida, na região noroeste, também se queixavam a estudante Beatriz Kelly Batista, 18 anos, e sua mãe, Sandra Rosany Batista, 39, cabeleireira. Elas não conseguiram o auxílio de um profissional para solucionar as fortes dores de estômago que a jovem se queixava durante horas.
“Nem adianta ficar aqui, a gente já vem sabendo que vai ter que rodar a cidade atrás de médico. Se até quem tem plano de saúde às vezes tem problema, imagina o pobre que depende de prefeitura, de governador”, disse Sandra. No local, apenas dois dos seis médicos clínicos gerais estavam no local. Dos três pediatras, apenas um atendia.
Foto: Amanda Amaral
Um enfermeiro da unidade, que preferiu não se identificar, relatou à reportagem que a falta de profissionais – e as faltas injustificadas dos mesmos em plantões e escalas – são alguns dos principais motivos do atendimento insuficiente à população. “Campo Grande inteira sofre com isso, há anos. A falta de comprometimento com a saúde forma essa ‘bola de neve’ que a gente tem que lidar diariamente”, declarou o profissional.
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