Edson Moraes
Se os sucessivos e comprovados escândalos praticados na Prefeitura de Campo Grande não resultarem na punição aos políticos e empresários envolvidos, a cidade pode ganhar em 2016 as manchetes da vergonha nacional como o cenário do ano eleitoral mais vergonhoso da história das capitais brasileiras.
Está nas mãos do Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul um dos casos mais rumorosos de butim ao bolso do contribuinte, com raízes fincadas nas relações promíscuas entre poder publico e iniciativa privada. Desde que os gestores locais decidiram comprometer os orçamentos públicos com esquemas criminosos atestados pelos órgãos de controle e fiscalização, deu-se início a uma sangria sem precedentes nos cofres da municipalidade.
A grande maioria dos vereadores participou diretamente como executora do consórcio golpista que apeou Alcides Bernal do poder, já que 23 deles concordaram em cassar o mandato do prefeito para entronizar seu vice, Gilmar Olarte, sendo compensados com benefícios investigados pelo Gaeco (Grupo de Apoio Especial de Combate ao Crime Organizado).
PREMIAÇÕES - Entre as vantagens já identificadas e sustentadas em depoimentos e escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, a Polícia e o Ministério Publico já sabem que Olarte nomeou várias pessoas em sua equipe para atender vereadores que cassaram Bernal. Alguns exemplos dessa troca de favores são muito eloquentes, como nos casos dos vereadores Edil Albuquerque (PMDB) e Jamal Salem (PR), que se tornaram secretários municipais de Desenvolvimento Econômico (Sedesc) e Saúde, e João Rocha (PSDB), responsável pelas nomeações dos titulares da Fundação de Esporte (Funesp).
Nesse mercado de benesses, Olarte e os empresários João Amorim e João Baird tiveram premiações de excelência compensatória. Do anonimato de vice-prefeito o pastor Olarte foi alçado ao posto máximo da representação política local, enquanto a Amorim e Baird foi assegurada a manutenção do controle majoritário de investimentos que engolem as maiores fatias do orçamento da Prefeitura, destinadas a obras de pavimentação asfáltica (asfalto novo e recapeamento), serviços de coleta e tratamento de lixo e de assistência técnica e operacional em áreas como a de informática.
Não se sabe ainda qual o montante real do que foi desviado da Prefeitura e do valor dos prejuízos que foram causados à capital e a população em dois anos e meio de absoluto desgoverno, porque nesse período nem o titular e nem aquele quem lhe tomou o lugar conseguiram realizar o mínimo necessário para garantir dinâmica administrativa à cidade que já foi considerada uma das mais belas, limpas e organizadas do Brasil.
Bernal assumiu em janeiro de 2013 e foi deposto em março de 2014, em ter conseguido deslanchar sua gestão. Olarte o substituiu até agosto deste ano e seus 17 meses de poder foram pífios. Agora, quase dois meses após retomar a caneta, Bernal vem patinando na areia movediça em que foi transformada a máquina gerencial, sufocada pelo acúmulo de crises, escândalos, descontinuidade administrativa e incapacidade técnica e financeira para resolver problemas básicos e elementares, como o recorrente caos na saúde e a proliferação de buracos em escala jamais vista nos 116 anos de Campo Grande.
DESCRÉDITO - Diante do tempo restante de governo curto demais para a recuperação satisfatória do Município, a confiança que era maciça em Bernal cai gradativamente. As relações entre sociedade e poder publico chegam a um estágio de perigosa instabilidade, contaminadas pelos escândalos e investigações que expõe representantes políticos e empresários numa ciranda de vale-tudo para satisfazer seus próprios interesses.
É com esses personagens que o eleitor campograndense vai conviver ano que vem, nos palanques e programas do horário eleitoral gratuito para pedir seu voto e mais quatro anos de mandato.O apetite é tão incontrolável que algumas decisões e posturas são assumidas sem ao menos um cuidado de agir com discrição, como se verifica na Câmara Municipal. A Mesa Diretora, presidida por Flávio César (PTdoB), instituiu uma Comissão de Ética para investigar se nove vereadores quebraram o decoro parlamentar ao ser denunciados pelo Ministério Publico por envolvimento no jogo de favores que derrubou Bernal. Mas pouquíssimos campograndenses acreditam na isenção de um colegiado cuja maioria é controlada por vereadores que cassaram o prefeito, entre os quais o seu presidente, João Rocha, dono de nomeações no primeiro escalão da Prefeitura que lhe foram concedidas pelo agradecido beneficiário do golpe, Gilmar Olarte.
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