terça-feira, 17 de maio de 2016

Na mira da Lama Asfáltica, dono da Alvorada tramou contra deputado

Empresário foi indiciado na Operação Vintém


Além da Gráfica Alvorada estar sendo investigada por supostos desvios de recursos e distribuição de propina, o nome do sócio proprietário da empresa, Mirched Jafar Júnior aparece em outro escândalo envolvendo o ex-governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli.

Em janeiro de 2007, durante a Operação Vintém, também da Polícia Federal, Jafar foi um dos indiciados pelos policiais, na ação que desvendou um esquema contra a candidatura a deputado estadual, em 2006, do ex-secretário de Infraestrutura de Campo Grande, Semy Ferraz.

Escuta telefônica feita pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, registra uma conversa do ex-governador com Mirched, denunciado pelo Ministério Público Federal sob a acusação de ter participado da montagem de uma farsa para incriminar um adversário político de Puccinelli, o ex-deputado estadual Semy Ferraz.

Também foram denunciados o filho do governador, André Puccinelli Júnior, e o secretário estadual de Obras, Edson Giroto. Segundo o Ministério Público, o grupo teria articulado a colocação de "santinhos" de Semy, grampeados com notas de R$ 20, no interior do carro do coordenador da campanha do deputado, Benoal Sobral.

Em depoimento à Polícia Federal, o executor da operação, Edmilson Rosa, o Rosinha, assumiu a responsabilidade exclusiva da montagem da fraude, eximindo de culpa os outros três denunciados. A operação aconteceu em 29 de setembro de 2006, dois dias antes das eleições gerais. A procuradora regional da República Luiza Frischeinsen afirma na denúncia, oferecida em 15 de julho deste ano, que os quatro denunciados, "em comunhão de esforços e conjugação de vontades", praticaram o crime de denunciação caluniosa, já que "encarregaram-se de colocar no veículo de Benoal Sobral materiais que poderiam incriminar o coordenador de campanha e o próprio candidato, posteriormente providenciando 'denúncia' anônima à Polícia Federal".

Frischeinsen considerou importante acrescentar que, no momento em que conversava com Edminson, Mirched "encontrava-se na residência de André Puccinelli, juntamente com André Puccinelli Júnior". A procuradora afirma que isso fica confirmado nos diálogos entre Mirched e o próprio governador (dia 29, às 18h16) e depois com Edmilson (às 18h29, 18h36 e 18h45 do mesmo dia). Na conversa das 18h16, Mirched fala primeiro com André Júnior. De repente, o filho do governador interrompe o diálogo, dizendo: "Só um pouquinho!". Surge a voz de André Puccinelli: "Oi!". Mirched responde: "Fala, meu chefe!". André pergunta: "Você pode vir aqui em casa?". Em seguida, André Júnior retoma o telefone. Mirched pergunta: "Quem falou? Foi seu pai?". André Júnior confirma: "É, vem aqui no apartamento".

A Operação Vintém da PF teve início por acaso. No mesmo período, a polícia monitorava os telefones do escritório dos advogados André Puccinelli Júnior e Félix Nunes da Cunha, procuradores de um empresário acusado de contrabando de cigarros. Era a Operação Bola de Fogo. As escutas acabaram revelando o plano para tentar incriminar Ferraz, que acabou não sendo reeleito deputado. Em 29 de setembro, por volta das 19h30, outros agentes da Polícia Federal encontraram os santinhos grampeados em cédulas de R$ 20 no interior do Fiat Uno, de cor verde, placas BLH 4429, pertencente a Benoal. Somente mais tarde a fraude foi esclarecida pelas gravações feitas com autorização judicial.

No depoimento à PF, Edmilson afirmou que André Júnior , Giroto e Mirched só teriam tomado conhecimento da montagem que ele fez "após o ato concretizado". Disse que o ato da implantação do dinheiro e da lista no carro foi "exclusivamente" seu. E acrescentou que o dinheiro utilizado era seu. Edmilson afirmou que foi repreendido por Mirched quando o mesmo tomou conhecimento do fato. "Não é desse jeito que se faz política. Tinha que ser feito pelos caminhos certos" , teria dito Mirched. O executor da fraude acrescentou que também teria sido repreendido por André Júnior no dia seguinte. "Ô, doutor, não devia ter sido feito, abre precedente para eles fazerem contra a gente numa próxima ocasião. A eleição está praticamente definida, não tem essa necessidade", teria afirmado o filho do governador.

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