quarta-feira, 29 de julho de 2015

O plenário da Câmara, e todos os demais poderes, parece, se transformaram em lama


A 'Democracia' pede e exige discordâncias, em Campo Grade/MS, parece que só exige negócios. Triste. Em troca de ‘cafezinhos’ rasgaram a moral e ética.
Dia da posse do prefeito Gilmar Olarte - Foto: arquivoDia da posse do prefeito Gilmar Olarte - Foto: arquivo
  • Dia da posse do prefeito Gilmar Olarte - Foto: arquivo
Difícil. Quase impossível de se explicar. Sempre que se cogitava a hipótese de golpe, não contra o ex-prefeito Alcides Bernal, que tantas fez, mas contra a vontade soberana de 270 mil eleitores, a explicação em forma de desculpa, ou desculpa em forma de preocupação, era a mesma: “Apenas impedimos que a Capital de Mato Grosso do Sul se tornasse ingovernável. Pensando maior, cassamos um prefeito que estava levando nossa cidade ao caos”. Poxa, que bom que temos vereadores tão denodados...
E agora que os “indícios” de supostos crime cometidos pelo prefeito Gilmar Olarte, entronizado, por esses vereadores vão além dos supostos atrasos de pagamento e contratos emergenciais feitos pelo prefeito cassado, como Legislativo e Executivo municipais irão responder à população? 
Fato é que a cassação de Alcides Bernal ainda hoje levante dúvidas e denota fatores mal explicados. Porém, recentemente, com divulgação de trechos do processo investigatório da Polícia Federal, que com autorização da justiça, gravou ligações telefônicas entre políticos e empresários, algumas partes desse quebra cabeça começa a querer se encaixar.
Semana passada, foi publicado pela imprensa local, uma conversa entre o presidente da Câmara, vereador Mário César (PMDB) e empresário João Amorim, dono da Proteco Engenharia Ltda, empresa investigada na operação Lama Asfáltica.

    No diálogo do dia nove de março, três dias antes da cassação de Bernal, Amorim e Mário marcam encontro. Em outro áudio gravado pela PF no dia anterior (8 de março), Mário fala a Amorim sobre uma "(...) excelente conversa".
    Em seguida, Amorim responde: "(...) então temo que pegar outro cafezinho, hoje ". Cafezinho, conforme traz relatório da PF seria um código usado por Amorim e pessoas ligadas a ele para identificar "dinheiro."
    Em outra conversa interceptada pela PF, um dia antes da votação que cassaria mandato de Bernal, João Baird, dono da Itel Informática, conversa com Fabio Portella sobre quantidade de vereadores que votariam pela cassação de Bernal. Fábio diz claramente que "Goiano", pessoa ainda não identificada, garantiu a ele que Gilmar (supostamente vereador Gilmar da Cruz) havia fechado com grupo e votaria pela cassação. Gilmar da Cruz (PRB) é um dos vereadores que até dia votação era da cota dos indecisos, ele havia sido da base de Bernal e pouco tempo antes da cassação se declarou independente. Depois Baird pergunta a ele qual seria placar da votação, e ele diz: "Todo mundo acha que dá 22, na minha conta pode ser 23". De fato Bernal foi cassado por 23 votos. 
    A Câmara e todos os vereadores, que nas palavras daquele que durante o julgamento da Comissão Processante disse, em alto e bom som, que votava pela cassação porque alguns vereadores haviam “roído a corda”, e que mais tarde, quando dos confrontos democráticos enfatizou que “Vereador Gosta de Vereador”, está na berlinda e deverá sair em busca de alguma moralidade para que as urnas lhes sejam complacentes e benéficas em 2016.
    Não há explicação plausível para o áudio capturado com autorização da Justiça, em que o Chefe do Legislativo, supostamente, negocia com um empresário a chefia de um poder Executivo que deveria ser independente. Aonde chegamos? De três poderes que deveriam nos representar, apenas o poder de investigação, e não falamos do poder de julgamento, da Justiça, parece valer o poder do povo, em nome do qual o poder será exercido, dos órgãos investigativos. Todo o resto – e resto é - está sob a descrença

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