Imagens também mostram o ex-governador na pista de desembarque do avião 'cheio de charme', de propriedade do empreiteiro
Durante as investigações da Operação Lama Asfáltica, a PF (Polícia Federal) flagrou em vídeo o ex-governador André Puccinelli (PMDB) na sede da Agesul (Agencia Estadual de Gestão de Empreendimentos) momentos antes de encontro com o empreiteiro João Krampe Amorim.
As imagens foram gravadas às vésperas do Natal, em 24 de dezembro de 2014. Segundo a PF, o ex-governador teria combinado com o empreiteiro sobre a prorrogação de contratos que beneficiariam a Proteco Construções Ltda e outras empresas ligadas ao grupo durante a próxima gestão.
A reunião foi marcada dias antes. Em ligação interceptada em 22 de dezembro, às 14h40, João Amorim pergunta sobre o encontro para Elza Cristina Araújo dos Santos, apontada como 'faz tudo' e principal laranja do empreiteiro, que avisa o horário: a partir das 14h. Na ocasião, Amorim ainda destaca que o empresário 'Nininho', apelido de Firmino Miranda Cortada Filho, precisa de orientação para registrar medições, possivelmente sobre fraudes em contratos e medições realizadas em obras executadas pelo grupo criminoso.
A secretária do ex-secretário de obras, Edson Giroto, também confirma o convite para a reunião, em ligação registrada às 14h48, de 22 de dezembro. No dia do encontro, a ex-diretora da Agesul, Maria Wilma Casanova, liga pessoalmente para o empreiteiro, às 09h47. Na conversa, ela destaca que Puccinelli quer resolver umas 'pendências'. Confira as imagens registradas pela PF:
De acordo com as investigações, as ‘pendências’ retratam um conjunto de ações para não deixar a organização criminosa perder o superfaturamento e a apropriação de recursos públicos com o fim do governo peemedebista. Tanto que, logo após os encontros com João Amorim, que foi coordenador e tesoureiro de campanha de Puccinelli, o ex-governador publicou no Diário Oficial do Estado diversos termos aditivos prorrogando contratos com a Proteco.
Em alguns dos extratos, o governo estadual inclui o repasse de recursos arrecadados através de multas em rodovias estaduais para a empresa. Assinam a então presidente da Agesul, Maria Wilma Casanova Rosa, e Elza Cristina Araújo dos Santos – apontada como laranja de João Amorim em outras empresas.
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), Puccinelli tinha conhecimento da estrutura da organização e do seu modus operandi, contribuindo com as atividades ilícitas a partir do cargo que ocupava, inclusive intermediando pessoalmente a prorrogação de contratos que foram fraudados na origem e na execução.
Entre as vantagens recebidas pelo ex-governador, as investigações apontam o recebimento de propinas, inclusive para o favorecimento da Proteco nas obras do Aquário do Pantanal, e do uso de uma aeronave de propriedade de João Amorim nos dias 20 e 26 de fevereiro e 1º de dezembro de 2014.
Em um dos vídeos registrados pela PF em dezembro, Puccinelli aparece chegando ao aeroporto internacional de Campo Grande e conversando com possíveis funcionários que trabalham com o ‘cheio de charme’, apelido do avião do que está registrada em nome da Itel Informática Ltda, mas pertence a João Amorim.
A aeronave teria sido utilizada por diversos participantes do esquema de corrupção. Segundo a Polícia Federal, também usaram o serviço aéreo o ex-secretário estadual de obras, Edson Giroto, o ex-secretário-adjunto de fazenda, André Cance, e o empresário Mirched Jafar Junior, dono da Gráfica Alvorada.
Operação Lama Asfáltica
As interceptações mostram a influência do empreiteiro João Amorim nas três esferas do poder, incluindo negociações sobre as vagas no Tribunal de Contas, responsável por julgar as contas do Governo do Estado. Os suspeitos teriam cometido os crimes de sonegação fiscal, formação de quadrilha, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva e fraudes à licitação.
O nome da operação faz referência a um dos insumos utilizados em obras com indícios de serem superfaturadas identificadas durante as investigações. Durante o cumprimento de mandados e apreensão na casa dos envolvidos, a polícia apreendeu documentos, uma obra de arte e mais de R$ 747,9 mil, em moedas nacionais e estrangeiras.
Entre os contratos com indícios de fraude aparecem as licitações para a pavimentação da MS-430, que liga o município de São Gabriel do Oeste a Rio Negro, o aterro sanitário de Campo Grande, o Aquário do Pantanal e as Avenidas Lúdio Coelho Martins e Duque de Caxias.
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