Toda grande mudança é difícil, é complicada e enfrenta enormes obstáculos. Principalmente quando estas mudanças mexem com estruturas malévolas de poder, corrupção e dinheiro.
Em Campo Grande, a capital de Mato Grosso do Sul, no já distante ano de 1996, quando o italiano André Puccinelli foi eleito prefeito, uma quadrilha de alta periculosidade começou a ser organizada, um grupo de pessoas mal intencionadas, perigosas e sem escrúpulos, que visava tão somente o poder e o enriquecimento ilícito, abrigou-se atrás de uma sigla partidária e, sob o comando deste homem, André, chefe de uma perigosa quadrilha através de uma bem azeitada máquina eleitoreira, passou a colecionar vitórias nas eleições que se sucediam, conquistando mandatos eletivos e muito dinheiro, produto de ações ilegais, propinas e falcatruas.
Este grupo comandou Campo Grande por longos e ininterruptos dezesseis anos. A estratégia adotada era extremamente eficiente. Consistia na realização de muitas obras, todas de qualidade deplorável e superfaturadas, farta distribuição de propina, um megalomaníaco esquema de publicidade - assim contavam com o silêncio de quase toda a imprensa - e a conivência dos poderes Legislativo e Judiciário e também do Ministério Público, que recebiam generosos duodécimos e que tinham diversos de seus membros aliciados, fatos estes que já foram objeto de denúncia, que estão sendo investigados e que agora provocaram o desencadeamento da operação Lama Asfáltica, da Polícia Federal.
A força que este grupo aglutinou fez com que tivesse condições suficientes para "mudar" - na "mão grande" - o resultado das eleições de 2012 em Campo Grande.
Naquele pleito, nas urnas, finalmente, foram derrotados, mas, num bem arquitetado "golpe político", cooptaram o vice-prefeito e conseguiram cassar o mandato do prefeito, através de uma CPI fabricada, mentirosa e sem qualquer respaldo legal.
O vice-prefeito, um pastor de uma igreja caça-níquel, para manter-se no cargo, entregou-se aos caprichos de seus senhores. Pastor, a marionete dos golpistas A prefeitura de Campo Grande virou uma verdadeira anarquia. A algazarra e as ilicitudes que reinaram durante 16 anos, retornaram com muito mais força, pois diante da insegurança jurídica do mandato ocupado pelo vice-prefeito, a cidade virou um verdadeiro "deus nos acuda", todos os golpistas e apaniguados querendo tirar o seu naco do bolo. Dilapidaram totalmente os cofres públicos da cidade.
A situação hoje é caótica. A cidade não tem dinheiro nem para pagar a próxima folha de pagamento. Vale lembrar que quando o prefeito eleito pelo povo foi vítima do golpe político, a sua gestão apresentava superávit, com quase 700 milhões na conta da prefeitura, um programa de obras pujantes estava sendo planejado e todos os servidores recebendo no primeiro dia do mês, não obstante, todas as adversidades impostas pela Câmara Municipal, onde, 23 dos 29 vereadores, faziam oposição raivosa e despropositada, apenas porque não conseguiam nomear apaniguados e não recebiam o tal mensalão, que havia sido praticamente institucionalizado pelas gestões anteriores, regiamente pago pelo empresário, dublê de gangster, João Amorim.
Com o golpe, tiraram o prefeito eleito, bem intencionado e com uma proposta séria, para colocarem em seu lugar o vice, um golpista, mau caráter e incompetente, que hoje brinca de administrar a cidade, com os seus bens particulares bloqueados pela Justiça, em razão dos desmandos de sua nefasta gestão. Uma situação realmente inusitada e incompreensível para a população.
Na realidade, a Justiça de primeira instância até que agiu com rapidez, pois no dia 15 de maio de 2014, apenas dois meses após o golpe, o juiz David de Oliveira Gomes Filho, concedeu tutela antecipada determinando o retorno do prefeito ao cargo. Horas depois, na madrugada do dia seguinte, uma estranha liminar de um desembargador cassava a decisão do Juiz.
Curiosamente, antes do magistrado anunciar a sua decisão, um ex-deputado federal - Trad, influência explicita na decisão participe do golpe - já sabia o resultado, comemorava nas redes sociais e se vangloriava de sua intervenção para que este objetivo tivesse sido alcançado.
Um dos argumentos utilizados pelo magistrado de segunda instância para deferir a liminar mantendo o pastor impostor, foi uma suposta invasão da prefeitura por parte de Alcides Bernal e seus aliados. Hoje, após minucioso inquérito policial, mais esta farsa, foi desmantelada, conforme foi noticiado recentemente pelo Jornal da Cidade Online (veja aqui).
Assim, concretizado o golpe, o pastor assumiu, nomeou dois filhos de desembargadores, alguns vereadores e um assessor da presidência da Câmara no seu secretariado e, de acordo com investigações do GAECO, vem se mantendo a peso de ouro no cargo, custeando advogados com dinheiro público, distribuindo propina para os financiadores do golpe e penalizando a população. A cidade só agoniza...
Eis que no momento atual, quando a cidade está totalmente de "cabeça para baixo", escolas sem aula, postos de saúde sem médicos e servidores sem salário, surge uma luz no fim do túnel.
O processo em que o juiz David de Oliveira Gomes Filho concedeu a tutela antecipada para o retorno do prefeito Alcides Bernal, em maio do ano passado, e cuja decisão fora cassada pela liminar coruja do desembargador insone, já pode ser julgado, pois todas as formalidades já foram cumpridas, todas as partes devidamente citadas e as devidas contestações apresentadas.
O juiz tem o futuro de Campo Grande em suas mãos, mas precisa julgar rápido, pois se a cassação do prefeito se deu por meio ilícito - o que tudo leva a crer - persistir no erro é temerário a justiça social e a sociedade.
José Tolentino
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