quinta-feira, 30 de julho de 2015

Citados na Lama Asfáltica receberam homenagens no Legislativo


Empresários e agentes públicos mantinham laços de amizade que também eram públicos

A troca de apelidos, cumprimentos informais e o uso dos códigos nas ligações interceptadas pela PF (Polícia Federal) demonstram o relacionamento íntimo entre os agentes públicos e empresários, mas os laços de amizade entre os investigados pela Operação Lama Asfáltica muitas vezes são públicos e aparecem nas trocas de homenagens e discursos.

Por exemplo, o empresário Walter Gargione Adames, mais conhecido como ‘Waltinho’, recebeu o Título de Cidadão Sul-Mato-Grossense pelos serviços prestados ao Estado em 2013. A homenagem foi proposta pelo então 1º secretário da Assembleia Legislativa, deputado Antônio Carlos Arroyo (PR).

Nascido em 26 de fevereiro de 1963, em Vacaria (RS), Walter Gargione Adames começou sua carreira profissional em Mato Grosso do Sul como administrador de fazendas. Conforme a assessoria da Casa de Leis, fundou uma empresa no ramo de fabricação de suplementos minerais para bovinos em 1985 e tornou-se referência local e nacional.

“Sempre me senti um sul-mato-grossense e agora tenho o reconhecimento com o Título de Cidadão deste Estado. Esta homenagem nos estimula a continuar o nosso trabalho, sempre visando o crescimento de Mato Grosso do Sul”, destacou Waltinho na solenidade, realizada dia 12 de setembro de 2013.

O empresário aparece nas interceptações telefônicas realizadas pela PF com autorização da Justiça intermediando conversa entre o empresário João Krampe Amorim, pivô das investigações, e o deputado Arroyo. Na ocasião, o ex-deputado estava magoado com suposta traição do ex-governador André Puccinelli (PMDB) e ameaçava divulgar um dossiê com informações comprometedoras sobre o grupo político.

No telefonema realizado em 30 de dezembro de 2014, às 20h25, o empreiteiro pergunta a situação de Arroyo e sobre suas intenções. Waltinho responde que ele está "mau" e que a esposa dele, Maria Aparecida Albuquerque Arroyo, pretende "apelar”, ou seja, divulgar os documentos. A discussão era sobre a indicação para a vaga de conselheiro do TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado). Leia mais aqui.

Ligado à família Trad e ao empresário que foi considerado pela PF como o sucessor de João Amorim, André Luiz dos Santos, mais conhecido como ALS, o dono da rede de postos de gasolina Trokar Postos e Serviços Ltda, empresário José Laureano Ribeiro, também foi homenageado, mas pela Câmara Municipal de Campo Grande.

Segundo a assessoria da instituição, o homenageado nasceu em Corumbá-MS, em 12 de outubro de 1959. Formado em Ciências Econômicas pela Universidade Unimar de Marília-SP, José Laureano iniciou sua vida profissional como office boy no Banco Financial, fazendo carreira em vários setores, até tornar-se gerente do Banco Itaú , onde encerrou sua carreira bancária em 1986. Depois ele começou uma empresa no segmento de lavagem, até transformá-la em Posto de Gasolina, em 1989.

Seu relacionamento com outros investigados é evidenciado em conversa interceptada pela PF em 28 de abril de 2014, às 12h50. Durante o diálogo, o empresário ALS pergunta a José Laureano se ele conseguiu acertar o pagamento do “bandido” que, segundo as investigações, seria João Amorim.

Investigações
A Operação Lama Asfáltica investiga uma organização criminosa que teria fraudado diversas licitações em obras públicas de Mato Grosso do Sul. Os suspeitos teriam cometido os crimes de sonegação fiscal, formação de quadrilha, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva e fraudes à licitação.

O nome da operação faz referência a um dos insumos utilizados em obras com indícios de serem superfaturadas identificadas durante as investigações. Durante o cumprimento de mandados e apreensão na casa dos envolvidos, a polícia apreendeu documentos, uma obra de arte e mais de R$ 747,9 mil, em moedas nacionais e estrangeiras. 


Entre os contratos com indícios de fraude aparecem as licitações para a pavimentação da MS-430, que liga o município de São Gabriel do Oeste a Rio Negro, o aterro sanitário de Campo Grande, o Aquário do Pantanal e as Avenidas Lúdio Coelho Martins e Duque de Caxias.

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