sábado, 17 de outubro de 2015

WhatsApp do demônio: 17 celulares e corrupção combinada estão nas mãos do GAECO



Quase todo brasileiro tem, mas poucos sabem o que significa o termo watsapp, que não tem na verdade uma tradução ao pé da letra. Trata-se de uma fusão no idioma inglês de duas expressões, a interrogativa what´s up (o que é que há ou qual é?) e o substantivo applicative (aplicativo, referindo-se a programas de celulares e tablets).
Assim, watts app pode traduzir uma pergunta feita em português e que está intrigando a sociedade campo-grandense diante do escândalo envolvendo a cassação do prefeito Alcides Bernal e a investidura de Gilmar Olarte: o que está acontecendo que até agora não foram punidos exemplar e efetivamente os executores da trama criminosa atestada pela Polícia e o Ministério Publico?
As respostas começaram a ser delineadas a partir de ações do Gaeco (Grupo de Apoio Especial de Combate ao Crime Organizado), quando policiais, Ministério Publico e Controladoria-Geral da União (CGU) realizaram operações como a “Lama Asfáltica” e a “Coffe Break”, em cujo bojo se assentava pedaços de toda história de assalto ao poder político da capital.
Se ainda persistiam dúvidas sobre culpas e culpados, mesmo com a divulgação de reveladoras escutas telefônicas entre vereadores e empresários combinando o golpe e respectivos benefícios, agora a Polícia e o Poder Judiciário acabam de ganhar um substancial reforço para zerar o débito das instituições com um povo carente de decisões saneadoras, doa a quem doer. São mensagens e conversas de políticos e empresários reunidos num grupo restrito ao watts app, contidas em ambientes aparentemente blindados, os celulares e os respectivos chips.
Em 17 aparelhos de pessoas investigadas, apreendidos a mando da Justiça, o Instituto de Criminalística da Polícia Civil rastreou e encontrou conversas muito reveladoras que, impressas, preencheriam 400 mil páginas de papel tamanho duplo ofício. Esses diálogos já estão nas mãos do promotor do Gaeco, Marcos Alex Vieira de Oliveira. Mas já se sabe que tais conversas são privativas de um grupo de pessoas investigadas na Coffe Break por compra de votos para a sessão da Câmara Municipal que oficializou a cassação de Bernal.
SOBRANDO INDÍCIOS - A coleção de indícios nas mãos das autoridades é farta. Contém áudios, vídeos, mensagens, recados em código e ligações efetuadas e recebidas. Para obter os dados e abrir compartimentos aparentemente indevassáveis, a Polícia Técnica utilizou um programa recentemente adquirido pelo governo estadual, o Ufed, um mecanismo de fabricação israelense cuja avançadíssima tecnologia abre as memórias e consegue recuperar todo histórico registrado no whatsapp.
Além das claras e sobejas evidências, as autoridades policiais e do Judiciário têm consigo a visibilidade de comportamentos mais que suspeitos das pessoas investigadas, como a tentativa de desfazer-se de chips e até de aparelhos logo que souberam da Operação Coffe Break. O vice-prefeito Gilmar Olarte é uma dessas pessoas, segundo a Polícia. Outro procedimento que reforça a suspeição foi a tentativa, inútil, de apagar os dados da memória dos aparelhos. E esses trechos de conversas recuperados pela Polícia Técnica são determinantes para as avaliações da Polícia e do Judiciário.
PERFIS: “E DAÍ”? – Os celulares apreendidos no dia 25 de agosto pertencem aos vereadores Mário César, Edil Albuquerque e Paulo Siufi, do PMDB; Jamal Salem, do PR; Flávio César, Eduardo Romero e Otávio Trad, do PTdoB; Gilmar da Cruz, do PRB; Aírton Saraiva, do DEM; Waldeci Nunes, o Chocolate, do PP; Carlão Borges, do PSB; e Edson Shimabukuro, do PTB; aos empresários João Amorim, João Baird e Fábio Portela Machinski; e ao ex-vereador Alceu Bueno. Estes, com Andréia Olarte, mulher de Gilmar Olarte, e alguns assessores da Prefeitura, formavam o grupo criado no wattsapp para travar os diálogos rastreados e já identificados pela Polícia.
Mário César era presidente da Câmara e perdeu o mandato de vereador por ordem da Justiça durante a Coffe Break. Alceu Bueno renunciou ao mandato para não sofre cassação por quebra de decoro, após ser flagrado em um caso que o incriminou por envolvimento em exploração sexual infantil. Hoje, o presidente da Câmara é Flávio César, outro cujas conversas telefônicas tratando de vantagens com operadores do golpe contra Bernal foram captadas pelo Gaeco.
E o rosário de comprometimentos e contradições do Legislativo não termina por aí. A Mesa Diretora, presidida por Flávio César, acionou a Comissão de Ética da Câmara para investigar nove vereadores - Mário César, Edil, Siufi, Aírton saraiva, Chocolate, Gilmar, Shimabukuro, Jamal e Carlão - que poderiam ser enquadrados no decoro parlamentar por envolvimento no caso. O presidente da Comissão é o tucano João Rocha, um dos principais beneficiários da gestão de Olarte, na qual apadrinhou nomeações, inclusive a dos dirigentes da Fundação Municipal de Esporte. Também fazem parte da mesma Comissão os vereadores Chiquinho Telles, Herculano Borges e Vanderley Cabeludo, todos integrantes do grupo de 23 parlamentares que votaram para derrubar Bernal do cargo em março de 2013.
Nesse contumaz cirandeio, e com absoluta e ampla maioria para julgar a si próprios, os vereadores que dominam a Comissão de Ética da Câmara Municipal, dentro ou fora do watsapp, vão deliberar se cometeram crimes, se quebraram decoro ou se merecem continuar representando o povo no legislativo acima do bem e do mal. Se a Justiça não se manifestar naquilo que já está sob sua competência, restam pouquíssimas dúvidas sobre o tipo do parecer a ser exarado pelo douto e ilustre colegiado que “cuida” da ética política e jurídica do Legislativo. Alguém duvida? Afinal, o que é que há? 

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