Representante da Câmara de Comércio de Pedro Juan diz que número de clientes caiu de 12 mil para 3 mil por fim de semana, mas garante que ainda compensa comprar em lojas do Paraguai
Helio de Freitas, de Dourados, e Caroline Maldonado
A crise que afeta o comércio de Pedro Juan Caballero por causa da disparada do dólar no Brasil não é novidade. A situação se arrasta desde o segundo semestre do ano passado, quando a cotação da moeda norte-americana saltou de R$ 3,05 em média para R$ 4,16 em valores desta quinta.
Como no Paraguai é usado o dólar paralelo, nesta sexta a moeda custa R$ 4,20 em Pedro Juan Caballero, cidade separada por uma rua de Ponta Porã, a 323 km de Campo Grande
Para tentar sobreviver a essa realidade – nunca em 22 anos de Plano Real o dólar esteve tão alto no Brasil – as lojas de Pedro Juan Caballero apelam para promoções e estão reduzindo os preços em dólar, o que significa produtos mais baratos independente da cotação.
Menos clientes – Entretanto, nem mesmo todos esses esforços parecem convencer o consumidor brasileiro, especialmente o sul-mato-grossense. Estimativa da Câmara de Comércio e Indústria de Pedro Juan aponta que o número de clientes despencou pelo menos 75%. Antes da crise do dólar eram 12 mil em média por fim de semana. Agora o número não chega a três mil visitantes por fim de semana.
Apesar da gigantesca queda nas vendas, que já fez pelo menos dois mil trabalhadores mudarem de ramo na cidade paraguaia, a maioria das lojas resiste. Anderson Carpes, dono de uma importante loja de importados em Pedro Juan e membro da Câmara de Comércio, diz que menos de 5% fecharam as portas.
“Algumas fecharam, principalmente de libaneses, que voltaram para o país de origem aproveitando o bom momento que vivem lá atualmente. Das 800 empresas de atendimento aos turistas, estimo que 40 fecharam nos últimos 12 meses”, afirmou Carpes ao Campo Grande News.
Queima de estoque – Já faz tempo que comprar no Paraguai não significa uma mega economia, mas o mercado da fronteira se mantém firme, anunciando descontos para não perder cliente. O Shopping Chinaestá com queima de estoque até o próximo domingo (24) e descontos de até 50%, garante a gerente de Marketing, Mirta Alvarenga.
“Temos mais de seis mil produtos em queima. Apesar do dólar alto, vale a pena, por exemplo, comprar um Iphone por um preço que não é tão baixo, mas o cliente paga a vista, não precisa parcelar e ficar endividado”, argumenta Mirta. De acordo com ela, a crise afeta as vendas, mas há clientes fidelizados e ainda os consumidores do Paraguai, que mantêm o faturamento.
Queda do preço em dólar – Anderson Carpes tem opinião semelhante. Segundo ele, as promoções, com baixa dos preços em dólar, ajudam a segurar as vendas. “Os preços em dólar estão caindo bastante e as promoções estão bem mais competitivas”.
Segundo ele, o consumidor brasileiro ainda não começou a sentir os efeitos da crise econômica e a tendência é que a alta dos preços no Brasil aumente a competividade dos produtos comercializados no Paraguai.
“No Brasil, além do dólar alto, os impostos também aumentaram, então, quem pesquisar, confirmará os preços ainda mais atrativos, sobretudo nos produtos de alto giro e nos lançamentos”, afirmou o comerciante.
Ele cita como exemplo preços de suplementos alimentares, pneus tecidos e produtos eletrônicos. “Compare aí o preço do pendrive ou cartão de memória SanDisk de 16GB, por exemplo, aqui estou promocionando por R$ 19,00. Esse cartão de memória custa 92,78% mais caro nas principiais lojas do Brasil”.
Tendência mundial – Anderson Carpes não vê como negativa para os comerciantes a redução dos preços em dólar, medida que vem sendo adotada por lojistas de Pedro Juan para segurar os preços diante da cotação da moeda norte-americana. “É uma tendência. Veja o barril do petróleo (que dá matéria prima para o pneu ou carcaça de celular, pendrive e computador). Caiu de U$ 150 para menos de U$ 25. Com custos mais competitivos, as fábricas conseguem oferecer produtos finais com custos mais baixos”.
Segundo ele, nesse momento de readaptação do comércio, os primeiros a baixarem os preços são os que mais crescem. “As vantagens são enormes e a dica é sempre a mesma: pesquise bem antes de comprar”.
Sensação de crise – O comerciante reconhece, no entanto, que o movimento é baixo nas lojas de Pedro Juan e atribui parte dessa situação à “sensação de crise” vivida pelos brasileiros.
“A sensação de crise faz com que todos prefiram deixar os gastos não essenciais para depois. Também existe muita desinformação. Além disso, a cotação do dólar deixa os preços aqui [Paraguai] inicialmente menos atrativos, mas isso vai ocorrer até que todos os estoques do Brasil sejam repostos, pois os custos no Brasil também são em dólar. Embora alguns preços estejam com pouca diferença, outros já custam até 100% mais caros no Brasil”, avaliou Anderson Carpes.
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