Valores repassados pelas empresas nas últimas eleições somam, pelo menos, R$ 1,7 milhão
Desde 2010 a 2014, empresas investigadas pela Polícia Federal envolvidas na Operação Lava Jato são agentes financiadoras de campanha de políticos 'conhecidos' em Mato Grosso do Sul. O valor repassado, no período, chega a pelo menos R$ 1,7 milhão, que foi distribuído entre diversos partidos.
Na relação, nomes como do senador Delcídio do Amaral, do PT; do deputado federal e ex-governador Zeca do PT; dos vereadores Magali Picarelli, do PMDB; e de Evander Vendramini, do PP, de Corumbá, são apenas alguns entre as personalidades que estão na lista de beneficiários das empresas investigadas nacionalmente pela Polícia Federal.
Em Mato Grosso do Sul, a Piemonte Empreendimentos Ltda. e a Treviso Empreendimentos Ltda., do lobista Julio Gerin Camargo, foram as principais financiadoras de campanha em 2010 e 2012.
Segundo levantamento feito pelo TopMídiaNews, o senador Delcídio do Amaral, do PT, preso em Brasília, recebeu em 2010, R$ 200 mil das empresas. Logo depois, vem o ex-deputado estadual, Antônio Carlos Arroyo, do PR, que recebeu doação de R$ 80 mil, da Treviso; o mesmo ocorreu com o deputado estadual Paulo Correia, também do PR, que recebeu R$ 80 mil, da Piemonte. As informações constam na prestação de contas dos candidatos, no site do Superior Tribunal Eleitoral (TSE).
Doações da Piemonte em 2010, segundo informações do TSE.
Nas eleições municipais de 2012, o atual prefeito de Ponta Porã, Ludimar Godoy Novais, do PPS, recebeu da Treviso, a maior doação feita no Estado. O valor repassado foi de R$ 100 mil. Logo depois, vem o vereador eleito e candidato derrotado ao Governo do Estado, Evander Vendramini, de Corumbá, que recebeu R$ 50 mil em doação da mesma empresa.
Ainda na relação, aparecem as candidatas a vereadoras, Magali Picarelli, do PMDB, e Graziele Machado, do PR. Cada uma recebeu da Treviso, R$ 20 mil em doação. O ex-vereador Alceu Bueno, envolvido no escândalo de exploração sexual infantil, também foi agraciado em R$ 20 mil. E Adão Cornélio, do PTN, candidato não eleito a vereador, teria recebido R$ 10 mil.
Doações da Treviso em 2010, segundo informações do TSE.
Pela Piemonte, a prefeita de Miranda, cassada em 2013 por compra de votos, Juliana Pereira Almeida (PT), e reconduzida ao cargo em junho de 2014, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recebeu da empresa R$ 50 mil. O prefeito de Anaurilândia, Vagner Alves Guirado (PR), que é investigado pelo Ministério Público Estadual (MPE) por firmar contratos entre o Executivo e empresa de parentes, recebeu R$ 50 mil da Treviso.
Eleições 2014
Outra empresa que também figura na lista das investigadas pela Polícia Federal, a Engevix Engenharia S/A, do grupo Engevix, financiou, em Mato Grosso do Sul, pelo menos 14 candidatos do PT e PDT, que concorreram ao pleito de deputado estadual e federal. Alguns foram eleitos como o caso do ex-governador Zeca do PT.
Na relação petista está o deputado federal Vander Loubert, que corre o risco de perder o mandato, pois foi acusado pela Procuradoria-Geral da República de receber propinas para campanha. Da empresa, ele foi contemplado em R$ 125 mil. Logo depois, vem o atual presidente da legenda, candidato derrotado a deputado federal, Antônio Carlos Biffi, que recebeu R$ 125 mil. E, por fim, o atual deputado federal, Zeca do PT, beneficiado pelo mesmo valor.
Os deputados da bancada petista na Assembleia Legislativa, Pedro Kemp, Amarildo Cruz, João Batista dos Santos, conhecido como João Grandão e José Almi Pereira Moura, conhecido como Cabo Almi, receberam R$ 50 mil cada um. Mas a relação continua, como os ex-deputados estaduais Laerte Tetila, Pedro Teruel e o ex-prefeito de Corumbá, Ruiter Cunha, que arrecadaram a mesma quantia.
Aliados da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional também foram beneficiados, como o ex-deputado Lauro Sérgio Davi, do PROS, além dos membros do PDT, como o deputado estadual com mandato Felipe Orro e Humberto Resende Pereira, o Beto Pereira. Cada um na quantia de R$ 50 mil. O deputado federal Dagoberto Nogueira, do PDT, também está na lista, com o valor de R$125 mil.
A mesma empresa foi responsável por repassar à campanha da presidente Dilma Rousseff, R$ 1,5 milhão, em 2014.
Doações da Engevix em 2014, segundo informações do TSE.
Empresas
Segundo informações da Polícia Federal, em 2014, um grupo de empreiteiras citadas na Operação Lava Jato foi chamado para dar explicações sobre valores repassados a duas empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef, sendo a Treviso Empreendimentos e a Piemonte do Brasil Empreendimento.
Na época, as transações somavam R$ 31,5 milhões e os agentes federais afirmavam que o dinheiro poderia ser oriundo de lavagem de dinheiro, conquistado através de crimes praticados contra a Petrobras. Entre as empreiteiras estava a empresa do consórcio Rnet, capitaneado pela Engevix; duas empresas do grupo OAS, a Galvão Engenharia, o consórcio Sehab e a Coesa Engenharia, Jaraguá Equipamentos Industriais.
As duas empresas depois passaram a integrar, em 2015, a lista das 42 empresas de assessoria, consultoria e prestação de serviços contratada pela Camargo Corrêa, no período de 2008 e 2013, o valor recebido pelas empresas chegaram a R$ 145 milhões.
De acordo com a Polícia Federal, as empresas eram usadas apenas para emissões de notas frias que justificassem o repasse para os partidos políticos, como o PT, PMDB e PP, e que, por consequência, repassavam para os demais aliados.
Por conta dessas irregularidades, nas eleições de 2016, as doações feitas por empresas serão proibidas em todo o país, por meio da nova reforma-política assinada pela presidente Dilma Rousseff, no ano passado. Apesar dos indícios de irregularidades apontados na Operação Lava Jato, não há comprovação que os valores que irrigaram as campanhas em todo o país possuem origem ilícita.
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