segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Depressão: o que fazer quando paciente não responde bem à medicação?


Tire suas dúvidas sobre a chamada depressão refratária e como revertê-la

Quem já sofreu com a doença sabe que depressão não é só tristeza. Sintomas como irritabilidade, problemas no sono e dores pelo corpo são característicos de quem luta contra o problema. Na maioria dos casos, o tratamento para depressãopede não só a terapia, mas também o uso de medicamentos, que auxiliam na melhora mais rápida do paciente. Existem, no entanto, aquelas pessoas que não conseguem a cura total do problema, a continuam apresentando sintomas mesmo com o tratamento muito bem feito - essas pessoas possuem a chamada depressão refratária. "Por definição, a depressão refratária acontece quando o paciente não responde da forma esperada após ter feito tratamento com pelo menos dois medicamentos de classes diferentes usados em dose eficaz e por tempo adequado", afirma o psiquiatra Kalil Duailibi, de São Paulo. "É quando a pessoa não melhorou apesar de ter feito tudo certo", completa. Tire suas dúvidas sobre depressão refratária e entenda qual o melhor tratamento nesses casos: 

O paciente tem algum tipo de intolerância ao medicamento?

Depressão refratária acontece quando sintomas não desaparecem completamente mesmo com o uso correto da medicação - Foto Getty Images
Depressão refratária acontece quando sintomas não desaparecem mesmo com uso correto da medicação
Não. "O que acontece na depressão refratária é que o paciente não consegue melhorar completamente nem mesmo com ajuda da medicação", explica o psiquiatra Kalil Duailibi, de São Paulo. Ele explica que a medicação pode até diminuir os sintomas de depressão mesmo no caso da refratária, mas a pessoa não fica 100% livre da doença. "É importante não confundir o paciente com depressão refratária do paciente que não toma a medicação corretamente", alerta o psiquiatra. Na refratária, a pessoa toma a medicação nos horários e doses corretas, sem interrompê-lo, fora as sessões de terapia ? e mesmo assim não consegue se recuperar completamente. "Ao parar o tratamento antes da hora ou não executá-lo corretamente, é comum que a depressão também volte, mas isso é apenas um reflexo da negligência do paciente." 

O profissional tenta medicamentos diferentes até encontrar o ideal?

É mais simples notar esse quadro quando ele já está acontecendo: a pessoa melhora com o tratamento, mas não zera os sintomas
O psiquiatra Fernando Fernandes, do programa de Transtornos do Humor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, explica que o medicamento é escolhido para o paciente baseado em uma série de fatores, tais como tipo de depressão, doenças associadas e tratamentos prévios de psiquiatra. "Contudo, não é possível prever com absoluta certeza se o antidepressivo escolhido será eficaz, e só podemos ter certeza do sucesso depois que o paciente inicia o tratamento", diz. O psiquiatra Kalil afirma que somente 50% das pessoas ficam bem logo com a primeira medicação - o médico tende a acertar só na segunda vez. No caso da depressão refratária, o paciente não apresenta uma melhora total dos sintomas nem mesmo na segunda medicação. "Nesse caso, podemos tentar associar dois tipos de medicamentos ou procurar outras linhas de tratamento a fim de encontrar o motivo da não-remissão", diz Kalil. 

Quanto tempo demora para o médico descobrir que o remédio não faz efeito?

Geralmente o antidepressivo começa a funcionar dentro cinco a 15 dias após o início do tratamento. "Se a pessoa não estiver respondendo como deveria nesses primeiros dias, aumentamos a dose da mesma medicação e mantemos durante 30 a 40 dias", explica o psiquiatra Kalil. Se nesse período a pessoa não melhorou ou está muito aquém do esperado, o profissional troca a medicação ou entra com uma medicação associada. Caso o tratamento não atenda às expectativas mesmo após o período de 30 a 40 dias da segunda tentativa, têm-se o diagnóstico de depressão refratária, sendo necessário procurar outros tratamentos associados.  

Existe algum sintoma que pode prever esse tipo de depressão?

Depressão - Foto Getty Images
Fatores como o ambiente de trabalho podem interferir no tratamento pleno da depressão
"Não há qualquer sinal que possa indicar com antecedência que uma pessoa possui depressão refratária", afirma o psiquiatra Fernando. Segundo ele, só é possível identificar a refratariedade com o desenrolar do tratamento. É mais simples notar esse quadro quando ele já está acontecendo: a pessoa melhora com o tratamento, mas não zera os sintomas. "No geral fica algum sintoma físico, como se a pessoa estivesse feliz, mas o corpo continuasse chorando", diz Kalil. "É o paciente que vai ter uma tendência a tornar o quadro dele crônico."

Pessoas com depressão refratária são mais difíceis de tratar?

Sim, justamente porque elas oferecem resistência aos tratamentos considerados eficazes. "São casos de tratamento mais difícil e dispendioso, porque os motivos pelos quais o paciente não responde a determinado tipo de medicação ainda não são conhecidos", afirma o psiquiatra Fernando.  

É uma depressão que tende a ser mais profunda?

Não necessariamente. "Em alguns casos depressões muitos graves respondem bem ao tratamento e depressões menos graves são refratárias", declara o psiquiatra Fernando. Contudo, a depressão refratária sempre será mais difícil de tratar, mesmo que não seja um quadro aparentemente mais nocivo. 

Quais tratamentos podem ser associados ao medicamento?

Tudo depende do paciente. Às vezes, a pessoa tem um conflito que está mantendo a depressão - pode ser com uma chefia no trabalho, situação afetiva ou mesmo o ambiente em que ela vive, que mantêm a pessoa em constante estresse. "Não podemos pensar que é apenas o remédio que deixará a pessoa ótima, muitas vezes é algo que a está incomodando constantemente", explica o psiquiatra Kalil. Problemas de autoimagem, por exemplo, podem ser melhor tratados com a ajuda de nutricionistas ou educadores físicos. Em outros casos, trocar de emprego pode refletir da evolução e até cura do quadro. "É importante ressaltar a importância de dizer ao médico psiquiatra não apenas o que estamos sentindo, mas também a presença de outras doenças, se toma medicamentos, etc", completa Kalil. "Tudo isso pode influenciar no quadro, e contar ao médico é decisivo no tratamento eficaz." 
Não deixe de consultar o seu médico. Encontre aqui médicos indicados por outras pessoas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário