Por Ronaldo Mota (*)
Avaliar certamente tem a ver com aprovar ou não os educandos. Mas esse não deve ser o único motivo, talvez nem o principal. Tão ou mais importante que medir o quanto sabem nossos alunos, é tentar obter dados que permitam conferir e repensar permanentemente as abordagens educacionais adotadas. Se possível, ao avaliarmos possamos conhecê-los melhor e, porque os conhecemos e os reconhecemos individualmente, sejamos capazes de traçar percursos de aprendizagem adequados para eles.
Nas abordagens mais comuns, boa parte das avaliações dá-se por meio de questões ou tarefas que pretendem responder se o aluno sabe ou não sabe. Sendo assim, em geral, importa quase que exclusivamente se as repostas às questões estão certas ou erradas. Normalmente, as respostas erradas, além de indesejáveis, são, em geral, inúteis do ponto de vista das consequências futuras no próprio processo em curso. O fruto da avaliação, nesta perspectiva mais simplista, não vai além de um atestado que pretende informar se o estudante domina ou não aquele conteúdo específico.
Para os professores mais comprometidos, as respostas erradas têm a mesma relevância que as certas. Se as respostas certas atestam algum domínio do conteúdo, as erradas permitem identificar eventuais lacunas, possíveis conceitos equivocados, ritmos inadequados de aprendizagem, dificuldades em interpretar texto, falta de foco e concentração, ausência de atitudes e iniciativas etc.
Na verdade, não somente respostas às questões importam: elas se somam a um conjunto enorme de atos, comportamentos, velocidades, reações e capacidade de enfrentar desafios, de forma isolada ou em equipe, que, no global, evidenciam habilidades e competências muitas vezes difíceis, ou mesmo impossíveis, de serem identificadas somente via teste padrão. As provas tradicionais somente enxergam, quando bem feitas, se as informações foram ou não assimiladas. As demandas do presente, e especialmente do futuro, vão muito além da informação pura e simples e tendem a não ter esse elemento como parâmetro central. Avaliar não ficou mais simples; ficou muito mais complexo.
A título de exemplo, optaria, preliminarmente, por uma comparação com o jazz. Observe uma banda de jazz e perceba: (i) que o público sabe identificar diferenças entre uma banda que tem qualidade de outra com menor valor; e (ii) se todos os componentes tocarem solo, também saberão, razoavelmente, identificar quem toca bem e quem não toca tão bem. Insisto nesta comparação, mais uma vez, para destacar que avaliar implica em estimular, sempre que possível, o trabalho em grupo, ressaltando o quão essencial é criar em equipe, mas que tal processo também demanda, em geral, individualizar, permitindo perceber no grupo o que cada um efetivamente fez ou deixou de fazer.
Assim, nas boas “performances” de jazz, ao longo da apresentação coletiva, cada instrumentista é convocado a tocar separadamente. Neste caso, é esperado que o solo contenha todos os compassos da música, evitando os chamados “riffs”, frases curtas e repetidas de poucas notas. Mesmo assim, talentosos músicos saberão tocar “riffs” com habilidade e competência, alterando suas notas e seus tempos.
Assim, nas boas “performances” de jazz, ao longo da apresentação coletiva, cada instrumentista é convocado a tocar separadamente. Neste caso, é esperado que o solo contenha todos os compassos da música, evitando os chamados “riffs”, frases curtas e repetidas de poucas notas. Mesmo assim, talentosos músicos saberão tocar “riffs” com habilidade e competência, alterando suas notas e seus tempos.
Da diversidade e da pluralidade nascem equipes fantásticas, em que, talvez, nenhum deles, individualmente, seja tão diferenciado. Às vezes, o mais discreto e não necessariamente o mais habilidoso instrumentista pode ser, por outras razões, a mola propulsora do grupo. Há, por outro lado, casos de junção de bons músicos sem que os resultados esperados tenham emergido. Há casos desastrosos em que a banda não funciona coletivamente e nem individualmente e o som final sugere mudanças ou reprovações.
Nestes dias próximos do Dia do Professor celebremos aqueles docentes que avaliam para aprovar ou reprovar, mas que vão além. Eles o fazem para conhecer melhor os educandos e, ao conhecê-los, podem traçar trajetórias específicas que reflitam os caminhos mais adequados de um processo de aprendizagem que demanda ser, cada vez mais, personalizado, ainda que conjugado com grande escala. Parabéns especiais a esses professores que viabilizam quantidade e qualidade e que entendem que todos aprendem, todos aprendem sempre, mas cada qual aprende na sua maneira única.
(*) Ronaldo Mota é Reitor da Universidade Estácio de Sá e Diretor Executivo de Educação a Distância da Estácio
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