Talvez sua última defesa seja o viés torto de sua Fé, tudo o que restou da blindagem vem desmoronando e parece que ninguém quer assumir o leme para levar o barco até o cais.
A semana começou mal, muito mal para o executivo municipal. Se a blindagem tão propalada pelo prefeito vinha sofrendo fissuras em razão das diversas denúncias, muitas das quais divulgadas pelo MS Notícias a partir das gravações feitas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que envolviam acordos de beneficiamento, além e fora das Leis, com o Superior Tribunal de Justiça (STJ), e com a providencial saída de cena de Rodrigo Pimentel, filho de desembargador, que vinha maculando de forma perigosa seu currículo, mostrou maior vulnerabilidade a partir de mais desacertos em cada uma e todas as suas ações.
Se Gilmar Olarte (PP por liminar), pela seu poder de oratória consegue criar um pedaço do paraíso dentre as paredes de sua Igreja, pela sua incompetência administrativa e caráter duvidoso cria um inferno no mundo laico da administração da Capital, com o agravante de levar consigo toda uma população que purga os pecados que ela, população, não cometeu.
Na segunda-feira, o primeiro golpe: o juiz Marcelo Ivo de Oliveira da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande autorizou indisponibilidade de bens do prefeito Gilmar Olarte, do secretário de infraestrutura Valtemir Brito, Elizabeth Félix, atual diretora da Agetran (Agência Municipal de Trânsito), Felipe Félix de Carvalho (filho de Elizabeth), Ana Maria Ferreira Feliciano, Luis Márcio dos Santos Feliciano, Fabiana Garcia de Souza e Josias de Souza, conhecido como “Pastor Josias”, envolvidos em esquema denunciado pelo MS Notícias, de nomeação de funcionários fantasmas na Prefeitura da Capital.
O Ministério Público Estadual (MPE) pediu o bloqueio de bens dos acusados até valor R$ 148.816.95, considerado prejuízo causado ao erário. O juiz Marcelo Ivo acatou pedido de bloqueio de bens do prefeito e de Valtemir Brito até valor de R$ 148.816,95, de Fabiana Garcia de Souza, até o valor de R$ 57.946,39, de Ana Maria Ferreira Feliciano, até o valor de R$ 59.358,82, e de Felipe Félix de Carvalho, até o valor de R$ 3.934,13.
Até mesmo quando parece acertar, nas poucas ações que desenvolve e onde consegue alguma mídia voluntária, além da oficial e extra-oficial, Olarte tropeça na cruel realidade de desmandos que o cerca e acompanha.
Os eventos, inócuos como a reforma do prédio da Agência Municipal de Habitação de Campo Grande (EMHA), com a participação de funcionários da Agência, secretários, assessores e comissionados que estão sendo “convidados” por carta para que compareçam aos atos do prefeito para funcionarem como “claque”, não conseguem conter a verborragia sem sentido do gestor municipal, que ainda quando questionado enfatiza que aos servidores em greve não importa serem atendidos pelo prefeito, bastando que busquem acordos com os secretários sem poder de decisão.
Quando se percebe que uma ação seria digna de registro positivo, a ampliação da coleta seletiva e a entrega da Usina de Triagem de Resíduos (UTR), também com o espaço lotado pelo esforço da assessoria em convocar todos os membros do governo municipal e comissionados, o manto que encobre erros é descerrado.
Catadores representando os 429 trabalhadores da categoria, denunciam que as instalações, que haviam sido abandonadas ainda durante o governo de Nelson Trad Filho (PMDB), estão precaria e colocam em risco de vida os 49 catadores aprovados para trabalharem com os equipamentos. “Têm rachaduras de dois dedos, e eles passaram massa corrida para tapar o problema. Nesse local vão subir caminhões e isso coloca em risco os que estão trabalhando. É uma bomba relógio”, disseram os manifestantes que foram impedidos, pela Guarda Municipal pretoriana, de participarem do evento.
Greves
Os professores da Rede Municipal de Ensino (Reme) completaram na sexta-feira, 40 dias de paralização, sob ameaça e coação constante, sem terem um representante de fato na Secretaria Municipal de Educação, que ainda vem sendo tocada por um administrativo e um adjunto sem conhecimentos pedagógicos e monitorados pela primeira-dama Andréia Olarte.
Mesmo com o comprovado aumento na Receita, que indicou um crescimento de 10,8% no último mês, aos professores é pedido que esqueçam a validade da Lei assinada pelo próprio prefeito e que lhes garantiria o reajuste de 13,01%. O presidente da ACP, Geraldo Gonçalves protocolou duas representações no MPE contra o prefeito, em função do descumprimento da Lei Municipal nº 5.411/ 2014. Segundo o promotor de Justiça Paulo Cezar dos Passos, as representações atestam que o prefeito estaria cometendo crime de responsabilidade e improbidade administrativa.
Os enfermeiros sequer são recebidos pela comissão de negociação nomeada por Olarte, que se recusa a receber os servidores por entender que isso não representaria uma disposição política para a negociação. Enfatiza que a categoria não tem uma “carta sindical” que os autorize qualquer acordo.
Apenas uma defesa
Aparentemente o último bastião defensor de Olarte é o legislativo municipal conivente e submisso aos atos do prefeito levado ao poder pelas suas próprias mãos. A ampla maioria dos vereadores que formam a base aliada entoam o discurso do “estamos pensando no bem de Campo Grande e buscando dar o necessário para a governabilidade (que não se vê)” e sequer questionam Olarte e sua administração(?) a fata de resposta a requerimentos, conforme vem denunciando a oposição e até os independentes, como fez Carla Stephanini na sessão de quinta-feira.
A mesma base aliada que nega ter cargos na administração, sequer aceita os pedidos do prefeito para que um dos partidos ali representados lhe dê guarida, uma vez que falta pouco para que seja definitavamente expulso do PP. Nem mesmo se dispõem a aceitar ser sua liderança naquela casa, forçando-o a manter, como todo o seu governo, a liderança provisória do seu ex-secretário Edil Albuquerque (PMDB).
Ainda assim, em regime de urgência, vereadores aprovaram, por 22 votos a 2, suplementação orçamentária de R$ 70,3 milhões solicitada em três projetos pela Prefeitura de Campo Grande. Uma das empresas beneficiada com a alocação deveria estar impedida de manter contratos com a Prefeitura, a Mega Serv, que presta serviços de limpeza nas Unidades de Saúde e receberá R$ 1,5 milhão, conforme consta do Projeto de Lei nº 40. Em 2013, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) havia considerado ilegal a contratação da empresa sobre a qual pesa a suspeita de que seu proprietário, Marco Antônio Marini seja um “laranja” da família de Ignes Maria Boschetti Medeiros, que foi secretária municipal de Fazenda de Dourados durante a gestão do prefeito Ary Artuzi, e chegou a ser presa pela Polícia Federal durante a Operação Uragano.
Outra rubrica que recebeu recursos de R$ 2.073.000, para o pagamento de empresa terceirizada foi o Instituto Municipal de Tecnologia da Informação (IMTI) que é atendida desde o governo municipal de Nelsinho Trad pela empresa Itel Informática, de João Baird, que “emprestou” o jatinho para que Gilmar Olarte viajasse na companhia da primeira-dama Andréia Olarte para Brasília.
STJ
Em mais um capítulo da novela que se tornou a política campo-grandense, o MS Notícias divulgou arquivos de áudios de conversas telefônicas interceptadas pelo Gaeco, que revelam indícios de suposto tráfico de influência “bancado” por Olarte com ajuda de amigos junto ao ex—presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para garantir que os recursos impetrados pelo prefeito cassado Alcides Bernal (PP) fossem engavetados e Olarte se mantivesse na cadeira de Prefeito.
Os áudios revelam que Olarte desde o dia da cassação de Bernal, 12 de março de 2014, já teria grande aliado em Brasília, o lobista Valter Sâmara, conhecido cartorário paranaense que, segundo fontes, atua fortemente na capital federal junto a ministros do STJ. Sâmara teria sido apresentado a Olarte por Luiz Pedro Guimarães, que junto a Raimundo Nonato, apresentou à Câmara de Vereadores denúncia contra Bernal que resultou na cassação do progressista.
O MS Notícias entrou em contato com STJ, por meio de assessoria de comunicação e com advogados Alexandre Müller e Claudio Fruet. Os advogados não atenderam a reportagem nem retornaram. Já o STJ emitiu a seguinte nota:
"Conforme contato telefônico, o Superior Tribunal de Justiça não se pronunciará sobre os áudios que nos foram enviados e que foram supostamente captados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado em Mato Grosso do Sul.
Não obstante, não temos como garantir que o ministro Felix Fischer vá ou não responder à demanda de vocês, posto que ele ainda se encontra em sessão da Quinta Turma, da qual é presidente.
Caso tenhamos uma resposta dele, te encaminharemos. Atenciosamente"
Retorno do clã
No melhor estilo “tirei um peso dos ombros” o empresário e ex-candidato ao Senado, Antonio João Hugo Rodrigues comemorou sua saída da presidência Regional do PSD. Agora quem passa a comandar os destinos do Partido de Gilberto Kassab no estado é o advogado Antonio Cezar Lacerda Alves, assessor parlamentar no gabinete do então deputado federal Fábio Trad de sua posse até outubro de 2013, quando pediu exoneração para disputar o cargo de Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Mato Grosso do Sul (OAB/MS) com atuação em Brasília. Hoje advoga no escritório da Fábio Trad Advogados Associados, em Campo Grande.
Com a presidência sob o comando de alguém de seu grupo e não sob sua responsabilidade direta, Fábio, Nelsinho e o deputado estadual Marquinhos Trad (PMDB) podem articular novas adesões por todo o estado sem que fiquem com a responsabilidade burocrática do comando do partido e longe do foco mais direto dos holofotes.
É o que temos para a semana.
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