Por Gabriel Bocorny Guidotti (*)
Um amigo veio me comunicar uma situação sui generis. Ele está no último semestre da faculdade, mas no meio de um imbróglio: a instituição não pretende ofertar todas as disciplinas que faltam para finalizar o currículo do curso. O motivo? Custos. Não há alunos suficientes para fechar uma turma. Meu amigo terá duas opções a partir de agora. Ora entra na justiça, a exemplo do que muitos discentes estão fazendo, ora tenta realizar as cadeiras não oferecidas em outra instituição. Dos dois modos, há perdas.
Espanta-me o surgimento de cursos de graduação no Brasil. Abrir, pelo visto, é fácil. Difícil é administrar as condições para que o aluno tenha um bom proveito do serviço contratado. Na instituição em que meu amigo faz faculdade, o setor de publicidade aparece com força em diferentes mídias de divulgação. E no anúncio constam os quatro anos que ele esperava cumprir em jornalismo. Na prática, longe do mundo onírico do marketing, a situação não tem tanto brilho. Semestres imprevistos brotam pelo caminho.
Os alunos que sofrem com esse problema ficam entre a cruz e a espada. Jogar a sujeira no ventilador e atear fogo no próprio diploma ou consentir lutando? É justo atrasar a formatura de um estudante em função da incapacidade administrativa da instituição de ensino que contratou? Evidentemente que não. Mas essas são mazelas dos novos tempos. As faculdades querem números, não importando os meios.
Os números amealham o dinheiro necessário para manter a instituição andando. Aluno é negócio, e dos mais rentáveis. Por essa razão, além dos cursos de graduação, surgiram nos últimos anos centenas de cursos de pós-graduação. Em tese, uma continuidade da carreira acadêmica. Na realidade, aulas maçantes, pouco inspiradas, e cuja representatividade no currículo raramente é reconhecida pelo insosso mercado de trabalho de nosso país.
O Ministério da Educação tem imensa responsabilidade na formação de profissionais conscientes, mas faz vista grossa. A abertura desenfreada de cursos não é acompanhada por uma fiscalização eficiente. Resta ao Judiciário dar o seu veredito, em muitos casos, tendo em vista a omissão das instituições de ensino. Há situações intoleráveis, como a de meu amigo. Lamentável. A faculdade deve colaborar para a qualificação discente, não criar empecilhos. Parece que essa obrigação, mesmo que por força de contrato, está morrendo.
(*) Gabriel Bocorny Guidotti, bacharel em Direito e estudante de Jornalismo de Porto Alegre – RS
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